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FÁBRICA DE GANHOS
Taxa média cobrada de clientes saltou de 48,5% para 58%; lucro no primeiro trimestre foi de R$ 4,8 bi
Sob Lula, lucro dos bancos cresce 18,7%
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O lucro alcançado pelos bancos
que operam no Brasil cresceu
18,7% entre janeiro e março deste
ano. Nos três primeiros meses de
mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as instituições financeiras acumularam ganhos de
R$ 4,780 bilhões, contra R$ 4,027
bilhões apurados no mesmo período do ano passado.
Além disso, os bancos também
ganharam com o aumento dos juros cobrados nos empréstimos
concedidos a seus clientes. No início deste ano, a taxa média cobrada pelas instituições financeiras
era de 58% ao ano. Em março de
2002, estava em 48,5%.
Os números fazem parte de levantamento feito pelo Banco Central a partir das demonstrações financeiras de 164 bancos que
atuam no país. Eles refletem exclusivamente o resultado alcançado pelos bancos no período. Não
inclui, por exemplo, o lucro obtido por seguradoras e administradoras de cartões de crédito controlados por eles.
O aumento do lucro das instituições financeiras reflete, em
grande parte, os altos juros praticados no país. No primeiro trimestre deste ano, a receita obtida
pelos bancos com aplicações em
títulos e valores mobiliários chegou a R$ 27,274 bilhões, valor
23,7% maior do que os R$ 22,05
bilhões registrados em igual período do ano passado.
Essas aplicações se referem, basicamente, às operações com títulos públicos -papéis emitidos
pelo governo federal para financiar sua dívida. Esses títulos, por
sua vez, são corrigidos pelos juros
básicos da economia, hoje em
26,5% ao ano e que subiram 1,5
ponto percentual no governo Lula. Em março de 2002, a taxa Selic
estava em 18,5%.
O BC justifica a alta dos juros
com a necessidade de conter a alta
da inflação. A tese é a de que juros
elevados desestimulam o consumo, esfriando a economia. Com
isso, as empresas teriam menos
espaço para reajustar preços.
Seca de crédito
O Brasil é um dos países onde os
bancos menos emprestam a seus
clientes. O crédito disponível a
empresas e pessoas físicas representa 23,3% do PIB (Produto Interno Bruto). No Chile, essa proporção gira em torno de 70%.
Assim, como não há muitos recursos disponíveis para empréstimos, aqueles que precisam de financiamento acabam sendo obrigados a aceitar os juros elevados
cobrados pelos bancos.
A alta dos juros bancários é creditada, principalmente, ao aumento do "spread" bancário. Trata-se da diferença entre a taxa que
os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e aquilo que é
cobrado dos clientes.
De um ano para cá, o "spread"
bancário, medido pelo BC, registrou uma elevação de quatro pontos percentuais. Isso significa que,
quando uma instituição cobra juros de 58% para fazer um empréstimo, 34 pontos percentuais ficam
na mão dos bancos.
As instituições financeiras dizem que o "spread" é alto por causa da elevada inadimplência. Assim, seria necessário cobrar juros
maiores para compensar as perdas sofridas com os calotes sofridos pelos bancos.
Em março passado, segundo
dados do BC, a inadimplência
atingia 8,8% dos financiamentos
concedidos pelo sistema financeiro, exatamente o mesmo valor registrado em março de 2002.
Procurada pela Folha, a Febraban (Federação Brasileira dos
Bancos) informou que o presidente da entidade, Gabriel Jorge
Ferreira, está de férias.
Por meio de sua assessoria, a
instituição reforçou o que Ferreira havia dito na semana passada,
depois de um encontro com o ministro Guido Mantega (Planejamento): "Juro alto não é desejo
dos bancos. Os bancos preferem
que os juros estejam mais baixos
porque significa que teremos menor inadimplência".
O total de créditos em atraso
com mais de 60 dias (que classifica a inadimplência) subiu 18,8%
em março deste ano em relação a
dezembro passado, segundo estudo realizado pela consultoria
Austin Asis.
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