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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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FÁBRICA DE GANHOS

Taxa média cobrada de clientes saltou de 48,5% para 58%; lucro no primeiro trimestre foi de R$ 4,8 bi

Sob Lula, lucro dos bancos cresce 18,7%

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O lucro alcançado pelos bancos que operam no Brasil cresceu 18,7% entre janeiro e março deste ano. Nos três primeiros meses de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as instituições financeiras acumularam ganhos de R$ 4,780 bilhões, contra R$ 4,027 bilhões apurados no mesmo período do ano passado.
Além disso, os bancos também ganharam com o aumento dos juros cobrados nos empréstimos concedidos a seus clientes. No início deste ano, a taxa média cobrada pelas instituições financeiras era de 58% ao ano. Em março de 2002, estava em 48,5%.
Os números fazem parte de levantamento feito pelo Banco Central a partir das demonstrações financeiras de 164 bancos que atuam no país. Eles refletem exclusivamente o resultado alcançado pelos bancos no período. Não inclui, por exemplo, o lucro obtido por seguradoras e administradoras de cartões de crédito controlados por eles.
O aumento do lucro das instituições financeiras reflete, em grande parte, os altos juros praticados no país. No primeiro trimestre deste ano, a receita obtida pelos bancos com aplicações em títulos e valores mobiliários chegou a R$ 27,274 bilhões, valor 23,7% maior do que os R$ 22,05 bilhões registrados em igual período do ano passado.
Essas aplicações se referem, basicamente, às operações com títulos públicos -papéis emitidos pelo governo federal para financiar sua dívida. Esses títulos, por sua vez, são corrigidos pelos juros básicos da economia, hoje em 26,5% ao ano e que subiram 1,5 ponto percentual no governo Lula. Em março de 2002, a taxa Selic estava em 18,5%.
O BC justifica a alta dos juros com a necessidade de conter a alta da inflação. A tese é a de que juros elevados desestimulam o consumo, esfriando a economia. Com isso, as empresas teriam menos espaço para reajustar preços.

Seca de crédito
O Brasil é um dos países onde os bancos menos emprestam a seus clientes. O crédito disponível a empresas e pessoas físicas representa 23,3% do PIB (Produto Interno Bruto). No Chile, essa proporção gira em torno de 70%.
Assim, como não há muitos recursos disponíveis para empréstimos, aqueles que precisam de financiamento acabam sendo obrigados a aceitar os juros elevados cobrados pelos bancos.
A alta dos juros bancários é creditada, principalmente, ao aumento do "spread" bancário. Trata-se da diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e aquilo que é cobrado dos clientes.
De um ano para cá, o "spread" bancário, medido pelo BC, registrou uma elevação de quatro pontos percentuais. Isso significa que, quando uma instituição cobra juros de 58% para fazer um empréstimo, 34 pontos percentuais ficam na mão dos bancos.
As instituições financeiras dizem que o "spread" é alto por causa da elevada inadimplência. Assim, seria necessário cobrar juros maiores para compensar as perdas sofridas com os calotes sofridos pelos bancos.
Em março passado, segundo dados do BC, a inadimplência atingia 8,8% dos financiamentos concedidos pelo sistema financeiro, exatamente o mesmo valor registrado em março de 2002.
Procurada pela Folha, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) informou que o presidente da entidade, Gabriel Jorge Ferreira, está de férias.
Por meio de sua assessoria, a instituição reforçou o que Ferreira havia dito na semana passada, depois de um encontro com o ministro Guido Mantega (Planejamento): "Juro alto não é desejo dos bancos. Os bancos preferem que os juros estejam mais baixos porque significa que teremos menor inadimplência".
O total de créditos em atraso com mais de 60 dias (que classifica a inadimplência) subiu 18,8% em março deste ano em relação a dezembro passado, segundo estudo realizado pela consultoria Austin Asis.


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