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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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EUROPA ESTAGNADA

Segundo relatório do Fundo, há espaço para redução; mercado espera queda na reunião de amanhã

FMI defende corte de juros na zona do euro

Gabriel Bouys/France Presse
Chirac é visto em telão durante entrevista em Evian, na França


DA REDAÇÃO

O desempenho econômico da zona do euro será frustrante pelo terceiro ano consecutivo, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Em um relatório divulgado ontem, o FMI recomenda que o Banco Central Europeu reduza sua taxa de juros.
"Há espaço considerável para um relaxamento monetário", disse o Fundo. "Recomendamos que a política monetária mantenha uma posição acomodativa até que haja uma sólida recuperação da demanda doméstica e, principalmente, dos investimentos."
O conservadorismo do BCE (Baco Central Europeu) sofre críticas generalizadas, tanto do meio público como do privado. Durante a cúpula do Grupo dos Oito, em Evian, na França, o primeiro-ministro francês, Jacques Chirac, e o primeiro-ministro alemão, Gerhard Schröder, defenderam a diminuição dos juros.
O BCE decidirá amanhã se mexe em sua taxa básica, hoje em 2,5% ao ano. A expectativa no mercado financeiro é que haja um corte de ao menos 0,25 ponto percentual. A perspectiva de redução fez o euro recuar pelo terceiro dia seguido, fechando em US$ 1,1711. Na semana passada, a moeda chegou a ficar acima de US$ 1,19.
De acordo com um levantamento da agência Reuters, 35 de 57 economistas consultados disseram que que o BCE fará uma redução de 0,5 ponto. Outros 18 acreditam que ocorrerá um corte de 0,25 ponto percentual.
Um sinal de que haverá um relaxamento da política monetária foi a queda na inflação. A taxa anualizada para os 12 países da zona do euro caiu a 1,9% no mês passado, abaixo da meta de 2% do BCE.
Ontem, o presidente do BCE, Wim Duisenberg, disse que a inflação na zona do euro cairá de maneira mais expressiva no ano que vem. Os comentários foram feitos na Conferência Monetária Internacional, em Berlim, que reúne as autoridades dos principais bancos centrais do mundo para discutir a situação econômica mundial.
"Prevemos que, depois de ficar em torno de 2% nos próximos meses, a inflação ao consumidor deverá cair mais significativamente em 2004", afirmou Duisenberg. "As pressões inflacionárias declinaram significativamente nos últimos meses. Essa avaliação com certeza se refletirá nas decisões sobre política monetária."
A taxas européias, em termos nominais, equivalem ao dobro da americana. Os juros do Federal Reserve (banco central dos EUA) estão em 1,25% ao ano, e a instituição indicou que poderá reduzi-los ainda mais, se a economia não der sinais de recuperação.
O rendimento mais elevado na Europa favorece o euro, que bateu recordes de alta na comparação com o dólar. Mas a moeda valorizada atinge as exportações européias, enfraquecendo ainda mais a economia do bloco.
Ontem também saiu mais um número negativo para a economia européia. O desemprego na zona do euro subiu de 8,7% em março para 8,8% da população economicamente ativa em abril. É a maior taxa em três anos.

Deflação espreita
Segundo o relatório do FMI, a escalada do euro ainda não é motivo para preocupação, mas deverá afetar as margens das companhias que operam no comércio exterior. Para o Fundo, o "risco mais pertinente seria um "overshooting'", ou seja, uma alta ainda mais acelerada da moeda européia ante a norte-americana.
Ainda na opinião do Fundo, não são elevadas as probabilidades de que ocorra um processo deflacionário na zona do euro. Mas a Alemanha, maior economia do continente deverá enfrentar alguns meses de preços em declínio.
Na mesma linha, o presidente do Bundesbank (banco central alemão), Ernst Welteke, disse, também na conferência em Berlim, que a Alemanha deverá passar por alguns meses de "ligeira deflação". Mas, de acordo com Welteke, é improvável que o país caia em um ciclo duradouro de queda generalizada nos preços, como ocorre no Japão desde 1998.
"No momento a Alemanha não experimenta uma deflação, mas uma desinflação", afirmou Welteke. "Mas não podemos descartar um período de ligeira deflação no futuro próximo."


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