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LUÍS NASSIF
A saga de Álvaro Alberto
O desenvolvimento da moderna pesquisa
tecnológica brasileira está
associado à energia nuclear
O DESENVOLVIMENTO da moderna pesquisa tecnológica
brasileira está diretamente
associado à energia nuclear. Nos
anos 70, o início do programa nuclear Brasil-Alemanha levou o então
secretário da Tecnologia do governo
Figueiredo, José Israel Vargas, a
montar os primeiros programas sistemáticos de qualidade. O fracasso
do programa levou o CNEM (Conselho Nacional de Energia Nuclear)
a montar uma parceria inédita com
a universidade e, por meio do Ipen
(Instituto de Pesquisas Energéticas
e Nucleares), a controlar o processo
de enriquecimento do urânio.
No início dos anos 50, foi a busca
do domínio sobre a energia nuclear
que levou o governo a criar o CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e
entregar seu comando ao almirante
Álvaro Alberto.
Naqueles anos, o Brasil esteve a
ponto de ter seu primeiro reator
atômico, uma história ainda pouco
conhecida. A Guerra Fria já começara quando Álvaro Alberto esteve nos
EUA. Uma sucessão de acordos militares mal explicados tinha conferido
aos americanos o monopólio sobre a
pesquisa de minerais brasileiros. Na
época, Álvaro Alberto havia enviado
minérios brasileiros à França, na esperança de conseguir o apoio dos
franceses ao projeto nuclear brasileiro. Quando a informação vazou,
provocou enorme reação de Washington.
Em sua visita aos EUA, Álvaro Alberto havia se avistado com o "pai"
da bomba atômica americana, o físico Robert Oppenheimer. Os acordos
firmados com os EUA garantiam ao
Brasil a entrega de alguns reatores
pequenos, apenas para pesquisa de
laboratório. O conselho de Oppenheimer havia sido outro: "No Brasil, não há o que discutir (...) Tem que
fazer logo o reator atômico", disse-lhe o físico. Sugeriu a construção de
um reator simples. "Deixem essa
história de reator experimental e façam um reator desse tipo, porque
servirá de escola para vocês".
Seguindo a sugestão, e ante a resistência dos EUA em fornecer tecnologia, Alberto encomendou à Alemanha três unidades de ultracentrifugadores (sistema para enriquecer
urânio). Isso foi em princípio de
1954. As tropas de ocupação da Alemanha não autorizaram a venda.
Tempos depois, restabeleceu-se a
soberania da Alemanha. Mas um documento do governo americano ao
brasileiro, que permaneceu sob sigilo por algum tempo, encerrou as negociações. Apesar de o equipamento
claramente não poder ser utilizado
para fins bélicos, o documento dizia
que "o estabelecimento no Brasil de
um processo de extração de urânio
físsil (...) poder ser considerado uma
ameaça potencial à segurança dos
EUA e do hemisfério Ocidental".
Foram necessários quase 50 anos
para recuperar o terreno perdido e
dominar o ciclo de enriquecimento
de urânio. Mas as sementes plantadas por Alberto já tinham encontrado terra fértil na pesquisa brasileira.
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poderá acessar o blog no UOL. Aos
domingos, no blog, estarão de volta
as crônicas musicais, pesquisas
históricas e reminiscências; durante a semana, economia e política.
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