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Cai a produção exportada pela indústria
Parcela destinada pelo setor ao mercado externo foi de 24,8% do total produzido no 1º trimestre, contra 25% em 2005
Especialistas vêem cenário
com preocupação, uma vez
que algumas elevações são
fruto da simplificação na
pauta de exportação do país
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria já perdeu fôlego
exportador, apesar de os números da balança comercial ainda
mostrarem cifras recordes para
as vendas externas. No primeiro trimestre deste ano, 24,8%
da produção industrial foi exportada. Houve ligeiro recuo
em relação a 2005, quando 25%
da produção era destinada ao
mercado externo. Porém, o
mais relevante: em todos os
anos desde 2000 a proporção
vem aumentando, algo que, segundo sugere o resultado do
primeiro trimestre, não ocorrerá este ano.
A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de
Janeiro) apura o Índice de Produção Exportada, que mostra o
quanto do produto industrial
brasileiro é destinado ao mercado externo. Os resultados do
primeiro trimestre deste ano
mostram que a tendência de
crescimento observada desde o
ano de 2000, quando a indústria exportava 15,2% do que
produzia, foi estancada agora
em 2006, quando o índice chegou a 24,8%. "A acomodação
das exportações, no mínimo,
acende uma luz amarela", diz
Luciana de Sá, da Firjan.
Mais: em alguns setores em
que a proporção de exportações em relação à produção total subiu entre janeiro e março,
isso ocorreu por conta do aumento da exportação de produtos mais simples, com pouco
valor agregado, à custa de exportação de manufaturados.
Este é o caso dos produtos
têxteis. O setor exportou, no
primeiro trimestre, 30% da
produção nacional, contra
28,5% no ano passado. O ganho, no entanto, ocorreu principalmente na exportação de
produtos como algodão e sisal.
"O aumento é explicado fundamentalmente pela exportação
de fibras", diz Fernando Pimental, diretor-superindente
da Abit (Associação Brasileira
da Indústria Têxtil e de Confecção).
Pimental lembra, por exemplo, que a exportação de vestuário caiu 29% em quantidade. A queda em receita só não
foi maior por conta do aumento
de preços no mercado externo,
que fez com que as vendas externas em valor recuassem um
pouco menos, cerca de 19%. No
caso do setor, que sofre a concorrência chinesa e perde competitividade com o real forte, o
diagnóstico é claro: as exportações recuam por conta de perda
de competitividade. "O que nós
lamentamos é que isso não é
fruto de nossa incompetência",
diz Pimental, sugerindo que
isoladamente as empresas tem
pouco a fazer para enfrentar o
cenário adverso.
No setor de couro e calçados,
o cenário é parecido. Houve aumento da produção exportada
de 59% do total produzido para
quase 63%. O detalhe: o que aumentou foi a exportação de
couros e peles.
No setor de alimentos, o quadro é distinto. Sem contar com
a exportação, minada pelo
câmbio desfavorável, foram as
vendas internas que tiveram
que absorver parte da produção
local. De qualquer modo, o
mercado interno não trouxe
muito alento: a produção do setor, mostram os números da
Firjan, cresceu apenas 0,2% no
período. As exportações caíram
cerca de 3%.
Ainda assim, diz Dênis Pimentel, coordenador da área de
economia da Abia, que agrega
empresas do setor alimentício,
nem sempre é possível deslocar
produção para o mercado interno. "O mercado interno tem
a dinâmica dele. O setor tem
problemas de estocagem. Se
não exporta, não significa que
pode produzir para vender por
aqui", diz ele.
Nem sempre é fácil identificar os motivos para a queda do
percentual destinado à exportação. Luciana de Sá, da Firjan,
lembra que, em alguns casos, o
aquecimento da economia interna pode desviar parte da
produção antes exportada. Algo, por exemplo, que ocorreu
no setor de máquinas para escritórios e equipamentos de informática. As vendas internas
cresceram 12%, enquanto as
exportações tiveram crescimentos muito modesto, de
0,8%, o que levou à queda do índice de produção exportada para 7,3% do total, contra 8,1% no
ano passado. "Às vezes, a queda
da parcela exportada não representa uma queda das exportações, mas aumento da produção para o mercado interno",
diz a economista da Firjan.
A tendência, no mínimo,
mostra que será mais difícil para manter o crescimento das
exportações. Além das barreiras impostas pelo câmbio valorizado -que, a depender do que
ocorra no mercado financeiro,
pode ser suavizada-, pela concorrência chinesa e pela lentidão das negociações comerciais, os exportadores passarão
a enfrentar outro problema:
aumentar a capacidade produtiva para atender tanto o mercado externo quanto o interno.
Se a economia brasileira passar a crescer 4% como prevêem
governo e analistas, os investimentos para crescer internamente e seguir aumentando exportações serão mais vultuosos
do que até agora.
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