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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Complexo de lanterninha
Os países que praticam ajuste
fiscal forte, juro moderado e
câmbio competitivo põem-se
na dianteira do crescimento
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A ORTODOXIA convencional,
que há 12 anos informa que a
retomada do desenvolvimento econômico está na virada da
esquina, anuncia agora que esse
momento chegou. A perspectiva de
um crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto), neste ano, superior
a 4% é a causa da celebração.
Entretanto, como os três principais problemas da economia brasileira (a alta taxa de juros, a taxa de
câmbio sobrevalorizada e o ajuste
fiscal frouxo) não foram resolvidos,
não há razão para essa euforia. A taxa de crescimento sem dúvida aumentou, mas isso se deve à incrível
prosperidade mundial dos últimos
cinco anos.
Graças ao crescimento explosivo
da China, ao qual se somou o da Índia, e à expansão ainda positiva da
economia dos Estados Unidos, o
restante do mundo vem crescendo
a taxas extraordinárias. Nessa corrida, o Brasil está entre os últimos colocados, mas o complexo de dependência ou de lanterninha que caracteriza muitos brasileiros os faz regozijarem-se.
Podemos pensar a dependência
que os cidadãos de países menos desenvolvidos sentem em relação aos
países mais ricos como algo inevitável ou como algo que uma nação
mais fraca, mas sobranceira, pode
enfrentar e vencer.
Entretanto, se essa dependência
for vista como boa, como manifestação do fato de que os países do
Norte sabem melhor o que é bom
para o Brasil, o problema da evitabilidade nem sequer se coloca: o que
cabe aos brasileiros é aceitar e adotar as recomendações que nos fazem e alegrar-se com os seus elogios
pela colaboração. Se, entretanto,
nós considerarmos que esses países
são nossos concorrentes no plano
das relações econômicas internacionais, fica difícil aceitar sua pretendida benevolência.
E recoloca-se o problema da possibilidade ou não da autonomia nacional. Uma autonomia que no tempo da globalização se tornou mais
estratégica do que nunca porque a
fonte da maior interdependência
entre os povos não é o aumento da
cooperação entre eles, mas da forte
competição comercial e tecnológica.
Os conselhos que recebemos de
nossos concorrentes interessam a
eles, não a nós. A taxa de câmbio
apreciada que deles resulta aumenta suas exportações para o Brasil, e
suas empresas aqui instaladas remetem mais dólares ou mais euros
com o mesmo lucro em real.
Por outro lado, a manutenção da
política monetária interessa aos
rentistas locais. O Brasil pode, entretanto, voltar a se tornar autônomo. Os setores industriais estão
sendo cada vez mais prejudicados, e
os argumentos que seus empresários usam para criticar a atual política são cada vez melhores.
Diante desse conflito de interesses, o governo hesita. De um lado,
participa da celebração da retomada
do desenvolvimento econômico
porque quer atribuir a si próprio a
responsabilidade por ele; de outro,
sabe que os problemas não foram resolvidos, que a taxa de câmbio apreciada e a taxa de juros representam
um enorme ônus para a economia
nacional. Para onde penderá?
O jogo não está decidido. Está cada vez mais claro que os países que
se libertam da dependência e praticam uma política macroeconômica
baseada em ajuste fiscal forte, taxas
de juros moderadas e câmbio competitivo colocam-se na dianteira do
crescimento, enquanto nos mantemos entre os últimos colocados. É
uma dependência insustentável a
médio prazo.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 72, professor emérito
da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da
Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de
"As Revoluções Utópicas dos Anos 60".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br
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