São Paulo, segunda-feira, 04 de junho de 2007

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Agricultura evolui e estimula seguro rural

Com movimentação anual de US$ 40 milhões em prêmios, Brasil deve superar Argentina e tornar-se maior mercado da região

Tamanho, variedade de culturas e participação maior do governo devem garantir o desenvolvimento do setor no país

DA REDAÇÃO

O seguro rural no Brasil ainda está bem distante do de outros países, que há poucas décadas estavam no mesmo estágio inicial de desenvolvimento do sistema brasileiro atual. Mas o avanço das tecnologias na agricultura e na pecuária está trazendo uma profissionalização maior e uma nova mentalidade entre os produtores, que começam a encarar o seguro rural como um custo necessário, segundo analistas do setor.
Luiz Carlos Meleiro, superintendente de agronegócio da AGF Seguros diz que está otimista com o crescimento do setor no Brasil. O país se consolida como um grande produtor mundial de commodities. Avança nos setores de grãos, de biocombustível e de florestas.
A cultura do agricultor está mudando e ele começa a entender que o seguro é parte do risco da produção. Meleiro diz que cada país tem um modelo específico de seguro rural, principalmente porque os problemas e as características de produção são diversos. E o Brasil deve chegar ao seu modelo com rapidez.
Algumas mudanças estão sendo fundamentais para o desenvolvimento do setor, segundo Meleiro. O dinheiro a ser recebido pelos produtores já chega mais rapidamente e o governo participa mais do setor, com o aumento da subvenção -pagamento de parte do prêmio do seguro devido pelo produtor.
Exemplo de melhoria no setor são as discussões sobre a nova Lei de Catástrofes, que está sendo desenvolvida pelos ministérios da Fazenda e da Agricultura. Essa lei vai dar segurança tanto aos produtores como às seguradoras. "Esse é um lado positivo do setor, que está sendo desenvolvido de forma rápida", acrescenta o superintendente da AGF Seguros.
José Maria Cullen, diretor técnico da Seguradora Brasileira Rural, diz que o país caminha para ser o maior mercado da América Latina. Tem tamanho, variedade de culturas agrícolas e o governo está consciente da necessidade de participar mais desse mercado.
A Argentina, com cem anos de tradição em seguro agrícola e com a atuação de 30 seguradoras, movimenta US$ 100 milhões em prêmio por ano. O Brasil movimenta US$ 40 milhões e tem apenas cinco seguradoras no setor, mas deve ultrapassar a Argentina em breve, segundo ele.
Cullen diz, no entanto, que falta muito para o produtor brasileiro entender que o seguro é um instrumento para evitar perdas financeiras.
Mesmo acreditando no crescimento do mercado brasileiro, Cullen diz que não haverá explosão do seguro rural no país porque as seguradoras não estão preparadas. A evolução será lenta até pela estrutura do mercado e pelos riscos.
Luciano Marcos de Carvalho, assessor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que falta diálogo entre as duas pontas.
O produtor quer o seguro, mas em condições financeiras mais favoráveis. Já as seguradoras querem vender, mas com um grau de risco menor. Não existe modelo pronto para o país, principalmente devido às diferenças no setor: clima, culturas e tecnologias utilizadas, na avaliação de Carvalho.
"É preciso descobrir esse modelo por meio de conversas entre todos os participantes do setor: seguradoras, cooperativas e entidades de classe, órgãos que conhecem as necessidades do campo", afirma o assessor da CNA.
Mas o setor tem "alguns pontos nevrálgicos", na avaliação de Meleiro. Seguro é estatística, e algumas estações climáticas não dispõem de dados para o setor. Essas informações são importantes porque facilitariam a formação das taxas de seguro, o que beneficiaria áreas com risco menor.
É importante também a maior participação do governo nas subvenções, embora isso já venha ocorrendo após as recentes crises agrícolas. Na safra 2005/6, o governo participou com subvenções de R$ 2,3 milhões. Na de 2006/7, o valor subiu para R$ 31 milhões. Para 2007/8, são esperados pelo menos R$ 90 milhões.
Outro ponto que não pode ser abandonado é o desenvolvimento desse fundo de catástrofe, que dará maior segurança a todos os participantes do setor. Além disso, a área de seguro não passará por uma fase de desenvolvimento sem um aculturamento do campo, trabalho que não deve ser apenas tarefa do governo, mas também das empresas do setor.
O mercado ficará mais atrativo, e outras empresas virão para o setor, aumentando a competitividade e reduzindo as taxas de custos.
(MAURO ZAFALON)


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