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Governo discute volta da cobrança de IR para estrangeiro
Investidor externo hoje é isento do imposto na compra de títulos públicos, o que estimula entrada de dólares no país
A demanda dos investidores externos reduziu os juros que o Tesouro paga na emissão de títulos da dívida; taxa está próxima de 5,8%
VALDO CRUZ
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A desvalorização do dólar,
que fechou a semana valendo
R$ 1,90, levou setores do governo a defender medidas como o
fim da isenção de Imposto de
Renda sobre a entrada de investimentos estrangeiros para
compra de títulos públicos.
A proposta não é, porém, um
consenso na equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Responsável pela área, o ministro Guido Mantega (Fazenda)
disse à Folha que "não há estudos sobre o tema" e sinalizou
que ela não deve ser adotada,
mas a medida já foi debatida
dentro do Palácio do Planalto.
Seus defensores argumentam que a isenção de IR foi
adotada no ano passado para
estimular a entrada de recursos externos no país, mas no
momento a preocupação é com
a enxurrada de dólares que está
valorizando o real e prejudicando setores da indústria.
Antes da isenção, o investidor estrangeiro em títulos públicos pagava 15% de Imposto
de Renda, enquanto os nacionais ainda recolhem de 15% a
22,5% quando aplicam em fundos de renda fixa. Outro argumento para a volta da tributação é tratar igualmente investidores nacionais e estrangeiros.
Os críticos da idéia alegam
que o fim da isenção pode impactar a cotação do dólar, mas
só no curto prazo. Além disso,
destacam que a medida prejudicaria o financiamento da dívida pública brasileira, já que o
investidor estrangeiro aplica
em títulos de longo prazo.
O dólar iniciou junho em forte queda, depois de recuar 5,4%
em maio e acumular uma baixa
de 9,8% nos cinco primeiros
meses do ano. Somente na sexta-feira caiu 1,25%, fechando o
dia cotado a R$ 1,902.
Alta
A isenção do IR mais que
quadruplicou a entrada de dólares destinada à compra dívida
brasileira por estrangeiros desde fevereiro de 2006, quando a
medida foi adotada. Segundo o
Tesouro Nacional, naquele mês
as aplicações de estrangeiros
em papéis do governo totalizavam US$ 2,2 bilhões. Em março
o total era de US$ 22,2 bilhões.
A participação estrangeira na
dívida subiu de 0,74% do total
para 3,56% no período.
Apesar da enxurrada de dólares, a entrada dos investidores
estrangeiros no mercado da dívida pública tem efeitos positivos que compensam a desvalorização cambial, segundo análise de técnicos do governo contrários ao fim da isenção. Um
dos argumentos mais fortes para a manutenção é que a demanda criada pelos estrangeiros foi o que permitiu ao Tesouro vender papéis com prazo de
vencimento de 20 anos e com
juros mais baixos.
Atualmente 20% dos títulos
comprados por estrangeiros estão na mão de fundos de pensão. Esses investidores querem
fazer aplicações de mais longo
prazo, costumam esperar o
vencimento dos títulos para fazer o resgate em vez de especular a cada subida ou descida no
valor do título.
A maior demanda criada pelos estrangeiros fez o preço dos
títulos de longo prazo cair. No
início do ano, o Tesouro Nacional pagava juros de 7,5% ao ano
acima da inflação nos papéis de
20 anos. Atualmente, a taxa
caiu para cerca de 5,8% ao ano.
Os defensores da isenção do
IR também argumentam que a
compra de dívida externa pelo
Tesouro Nacional compensa,
de certa forma, a entrada dos
dólares dos estrangeiros que
aplicam em títulos públicos. É
que o governo, quando recompra a dívida externa, tem que
trocar reais por dólares, operação que é exatamente o contrário do que fazem os estrangeiros quando entram no país.
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