São Paulo, quinta, 4 de junho de 1998

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LUÍS NASSIF
O preço mínimo das teles

O fim do monopólio do setor de telefonia fixa deverá reduzir em 28% o preço mínimo a ser fixado para a venda das teles. Esse é o cálculo preliminar dos consultores contratados pelo Ministério das Comunicações -e que deverá ser anunciado nos próximos dias.
Há duas análises a serem feitas.
A primeira, sobre a metodologia em si. A segunda, sobre as hipóteses utilizadas para cada item -que deverão ser divulgadas nos próximos dias.
Há uma diferença fundamental entre a privatização das teles e as demais até agora ocorridas. Na venda do setor siderúrgico, ou da Vale do Rio Doce, não houve alteração na natureza da empresa, por não serem monopolistas. Ou seja, elas continuaram operando em ambiente competitivo.
Nesses casos, a fixação do preço mínimo obedeceu ao sistema do "fluxo de caixa descontado" -método mais utilizado internacionalmente.
O método de cálculo tem as seguintes etapas:
1) Estimam-se os resultados da empresa para os próximos 10 ou 15 anos. Suponha que sejam de R$ 100 milhões por ano.
2) Define-se uma IRR (Taxa Interna de Retorno), isto é, qual a rentabilidade que o capital deseja para correr o risco do negócio. Negócios de maior risco, em mercados mais competitivos, implicam taxas maiores; negócios mais estáveis, taxas menores. Países de economia estável pagam menos; os instáveis pagam mais.
Quanto maior a IRR (portanto, maior o risco implícito do negócio), menor o preço a ser pago. Uma IRR de 12% ao ano, por 15 anos, fixará o preço de US$ 763 milhões. Se a IRR cair para 10%, o preço aumenta para US$ 836 milhões. Se subir para 15%, o preço cai para US$ 672 milhões.
Cálculo das teles
O cálculo do preço mínimo das teles obedeceu à seguinte lógica.
Primeiro, calculou-se seu preço, pelo método de fluxo de caixa descontado, se o monopólio fosse mantido. Uma variável-chave é estimar qual a taxa de crescimento do mercado prevista no trabalho.
Depois, descontaram-se desse valor os custos implícitos do fim do monopólio.
Duas forças foram definidas como mais importantes nessa mudança:
1) Perda de "market-share" (fatia de mercado da empresa). Nos primeiros cinco anos, haverá um duopólio do mercado (um competidor para cada área). Depois de cinco anos, a competição será livre. Tentou-se estimar quanto as teles vendidas perderiam de mercado no período.
2) Em regime de monopólio, as teles não vendem produtos: é o mercado que compra. Seu custo comercial é mínimo. Nos mercados competitivos, em alguns segmentos esse custo chega a ser de 20% da receita.
Outros fatores foram considerados menos significativos, como a queda nos preços, já que se considera que as tarifas para a telefonia fixa estão próximas dos padrões internacionais. Outro item, também de menor peso, é a cobrança de taxas para a manutenção da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e, depois de cinco anos, 1% do faturamento a título de pagamento pela concessão.
Tudo isso, somado, implicará redução de 28% no preço mínimo fixado.
Valor de mercado
O preço de mercado, no entanto, deverá ser maior. O governo possui 18,6% do capital da Telebrás, que, em média, tem 82,3% do capital das teles. Somando os valores, chega-se a uma participação federal de 15,3% do valor das empresas.
Significa que, adquirindo apenas 15,3%, os compradores poderão assumir o controle das companhias. Esse fato irá conferir maior valor às ações do governo.
Boatos
Mesmo quando envolvem instituições financeiras em dificuldades, os boatos são deletérios. Mas, quando se referem a instituições sólidas, adquirem um componente de má-fé. Para quem conhece o mercado, os boatos envolvendo o Banco Real não têm pé nem cabeça. É uma instituição sólida, conservadora, e com uma solidez à toda prova.

E-mail: lnassif@uol.com.br



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