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LUÍS NASSIF
O preço mínimo das teles
O fim do monopólio do setor
de telefonia fixa deverá reduzir
em 28% o preço mínimo a ser
fixado para a venda das teles.
Esse é o cálculo preliminar dos
consultores contratados pelo
Ministério das Comunicações
-e que deverá ser anunciado
nos próximos dias.
Há duas análises a serem feitas.
A primeira, sobre a metodologia em si. A segunda, sobre as
hipóteses utilizadas para cada
item -que deverão ser divulgadas nos próximos dias.
Há uma diferença fundamental entre a privatização
das teles e as demais até agora
ocorridas. Na venda do setor
siderúrgico, ou da Vale do Rio
Doce, não houve alteração na
natureza da empresa, por não
serem monopolistas. Ou seja,
elas continuaram operando em
ambiente competitivo.
Nesses casos, a fixação do
preço mínimo obedeceu ao sistema do "fluxo de caixa descontado" -método mais utilizado internacionalmente.
O método de cálculo tem as
seguintes etapas:
1) Estimam-se os resultados
da empresa para os próximos
10 ou 15 anos. Suponha que
sejam de R$ 100 milhões por
ano.
2) Define-se uma IRR (Taxa
Interna de Retorno), isto é,
qual a rentabilidade que o capital deseja para correr o risco
do negócio. Negócios de maior
risco, em mercados mais competitivos, implicam taxas
maiores; negócios mais estáveis, taxas menores. Países de
economia estável pagam menos; os instáveis pagam mais.
Quanto maior a IRR (portanto, maior o risco implícito do
negócio), menor o preço a ser
pago. Uma IRR de 12% ao ano,
por 15 anos, fixará o preço de
US$ 763 milhões. Se a IRR cair
para 10%, o preço aumenta para US$ 836 milhões. Se subir
para 15%, o preço cai para US$
672 milhões.
Cálculo das teles
O cálculo do preço mínimo
das teles obedeceu à seguinte
lógica.
Primeiro, calculou-se seu
preço, pelo método de fluxo de
caixa descontado, se o monopólio fosse mantido. Uma variável-chave é estimar qual a
taxa de crescimento do mercado prevista no trabalho.
Depois, descontaram-se desse
valor os custos implícitos do
fim do monopólio.
Duas forças foram definidas
como mais importantes nessa
mudança:
1) Perda de "market-share"
(fatia de mercado da empresa).
Nos primeiros cinco anos, haverá um duopólio do mercado
(um competidor para cada
área). Depois de cinco anos, a
competição será livre. Tentou-se estimar quanto as teles
vendidas perderiam de mercado no período.
2) Em regime de monopólio,
as teles não vendem produtos:
é o mercado que compra. Seu
custo comercial é mínimo. Nos
mercados competitivos, em alguns segmentos esse custo chega a ser de 20% da receita.
Outros fatores foram considerados menos significativos,
como a queda nos preços, já
que se considera que as tarifas
para a telefonia fixa estão próximas dos padrões internacionais. Outro item, também de
menor peso, é a cobrança de
taxas para a manutenção da
Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) e, depois de
cinco anos, 1% do faturamento
a título de pagamento pela
concessão.
Tudo isso, somado, implicará
redução de 28% no preço mínimo fixado.
Valor de mercado
O preço de mercado, no entanto, deverá ser maior. O governo possui 18,6% do capital
da Telebrás, que, em média,
tem 82,3% do capital das teles.
Somando os valores, chega-se a
uma participação federal de
15,3% do valor das empresas.
Significa que, adquirindo
apenas 15,3%, os compradores
poderão assumir o controle das
companhias. Esse fato irá conferir maior valor às ações do
governo.
Boatos
Mesmo quando envolvem
instituições financeiras em dificuldades, os boatos são deletérios. Mas, quando se referem
a instituições sólidas, adquirem um componente de má-fé.
Para quem conhece o mercado,
os boatos envolvendo o Banco
Real não têm pé nem cabeça. É
uma instituição sólida, conservadora, e com uma solidez à
toda prova.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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