São Paulo, quinta-feira, 04 de julho de 2002

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Sucesso da ração diária dependerá do cenário eleitoral, diz analista

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A efetividade da estratégia de intervenções diárias no mercado de câmbio, anunciada pelo Banco Central ontem, dependerá da evolução do cenário da sucessão presidencial nos próximos meses.
Na avaliação de economistas e analistas, o Banco Central fez o que tinha em mãos, mas a corrida presidencial pode deixar o mercado turbulento novamente a qualquer momento.
"O BC está fazendo sua parte, tentando tomar as medidas possíveis no momento. Mas o ambiente pré-eleitoral complica. Vamos ficar presos ao humor do mercado, independentemente do que o BC fizer", afirma Alcindo Ferreira, ex-chefe do departamento de câmbio do BC.
Ao menos ontem, o câmbio se acalmou. A moeda norte-americana fechou com desvalorização de 1%, vendida a R$ 2,865.
"Os pequenos lotes que o BC vai injetar no mercado vão melhorar apenas um pouco a liquidez. Creio que a intenção do BC com a medida seja mais conter a trajetória de alta que fazer o dólar recuar para patamares de algumas semanas atrás", diz o economista e professor da USP de Ribeirão Preto Alberto Borges Mathias.
Como o BC anunciou o montante de intervenções diárias só até o fim de julho, analistas dizem acreditar que a instituição pode alterar sua forma de atuação dependendo do cenário da sucessão presidencial no período.
Na opinião de Fernando Pinto Ferreira, diretor da consultoria Global Invest, fatores que levaram nervosismo ao mercado nas últimas semanas permanecem inalterados, o que vai limitar o efeito da atuação do BC.
"A preocupação com a dívida pública, a queda nos investimentos estrangeiros e as divulgações de pesquisas eleitorais nem sempre favoráveis ao candidato governista vão continuar tumultuando o mercado."

Ação positiva
O diretor da Global Invest afirma que o fato de o BC ter esperado o dólar alcançar um nível bastante elevado, próximo dos R$ 2,90, para voltar a tomar esse tipo de medida, já utilizada no ano passado, foi positivo. "Com o câmbio em um patamar mais alto, há mais chances de o dólar recuar. Se o preço da moeda norte-americana começar a ceder, investidores que compraram dólares no nível mais elevado podem se sentir obrigados a vender para evitar prejuízos."
A baixa liquidez do mercado, uma das justificativas dadas para a escalada recente da moeda norte-americana, deve melhorar com a ação do BC. Com poucos investidores dispostos a vender dólares, qualquer pequeno aumento na procura pela moeda dos EUA pressiona facilmente a cotação.
"A decisão de vender diariamente pequenos lotes é melhor do que se o BC tivesse optado por fazer intervenções pesadas. Esse tipo de ação poderia até derrubar mais rapidamente a cotação da moeda dos EUA, mas logo surgiriam investidores atraídos pela cotação mais baixa, pressionando novamente o câmbio", afirma Ferreira.



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