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Keynes previu 15 h de trabalho por semana
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Em 1931, John Maynard
Keynes publicou um curto
ensaio intitulado "Possibilidades Econômicas para Nossos Netos".
É um texto estranho, no
qual o homem que salvou o
capitalismo da ruína chega
muito perto de advogar pelo
fim do trabalho e dos juros.
O objetivo do opúsculo é
combater a vaga de pessimismo com a perda de postos de
trabalho provocada pela crise de 1929.
Keynes espertamente "resolve" o problema lançando-o para o futuro longínquo.
De acordo com o economista, a combinação de acúmulo de capitais com desenvolvimento científico-tecnológico, embora possa produzir numa primeira etapa o
chamado desemprego estrutural, significa também "a solução para o problema econômico da humanidade".
Keynes prognostica um
aumento tão acentuado da
produtividade que, no prazo
de cem anos, estaríamos em
vias de nos livrar da necessidade de trabalhar para satisfazer as necessidades básicas. Para o autor, lá por 2030
não teríamos de trabalhar
mais que 15 horas semanais e
dedicaríamos o restante do
tempo ao lazer e à cultura.
Com isso -e é aqui que o
texto fica mais intrigante-,
ocorreria uma espécie de
emancipação moral do homem: a acumulação de riquezas deixaria de ser percebida como algo importante e
estaríamos livres para retornar a uma ética mais tradicional que condena a avareza, a usura e o amor pelo dinheiro.
Pragmático, porém, Keynes alerta: "Este tempo ainda
não chegou. Por pelo mais
um século, devemos fingir
para nós mesmos e para os
outros que o justo é injusto, e
o injusto, justo; pois o injusto
é útil, e o justo, não".
Durante muito tempo, esse texto foi tratado como um
simples "divertissement",
uma obra menor.
Mais recentemente, entretanto, alguns economistas
começaram a se perguntar
por que o otimismo keynesiano não parece prestes a se
materializar.
As respostas que constam
do livro "Revisiting Keynes"
variam bastante.
Embora o pensador britânico tenha acertado em relação ao forte crescimento
econômico, ele negligenciou
a questão da distribuição da
riqueza. Também parece ter
superestimado o desejo das
pessoas de deixar de trabalhar, mesmo quando podem
fazê-lo.
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