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Mudança deveria vir por acordo, diz professor
NATÁLIA PAIVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A redução da jornada legal de
trabalho de 44 para 40 horas
semanais nem deve criar vagas
nem distribuir renda no país,
diz o professor de relações do
trabalho da USP José Pastore.
É que as empresas, quando
têm seus custos elevados, partem para medidas compensatórias -como automatização
ou alta de preços-, "anulando
as intenções" de gerar emprego
ou dividir com os trabalhadores
os ganhos com produtividade.
O caminho para a redução da
quantidade de horas trabalhadas não está na lei, mas nas negociações setoriais entre patrões e empregados, afirma o
professor, que presta consultoria para a CNI (Confederação
Nacional da Indústria).
FOLHA - Sindicatos dizem que a redução da jornada estimulará empresas a contratarem. A CNI diz que ela
criará obstáculos para isso, já que
elevará os custos. Quem tem razão?
JOSÉ PASTORE - Estamos falando
da redução de jornada legal,
não da negociada. A negociada
pode criar emprego. Num setor, os empregados podem negociar com a empresa uma jornada baixa, porque ela tem alta
tecnologia ou boa performance
de mercado, por exemplo. Mas
uma empresa pequena -em
que a mão de obra pesa muito
nos custos de produção- não
tem condições de arcar com os
custos adicionais da redução e
vai perder mercado. Por isso,
os países do mundo inteiro fixam uma jornada legal alta e
jornadas negociadas baixas,
por setor. Assim dá para gerar
emprego. Mas numa imposição
legal, para empresas de setores,
regiões e tamanhos diferentes,
não há evidência que mostre
geração de emprego.
FOLHA - Em 88, com a redução de
48 para 44 horas, houve alta ou queda de emprego e produtividade?
PASTORE - A lição de 1988 é
muito boa. Não houve geração
de emprego desesperada. A
partir dos anos 1990, houve aumento do desemprego. Por que
a conta aritmética não bate
com a realidade? Do ponto de
vista da aritmética, reduz-se de
44 para 40 horas, tem que contratar 2,2 milhões de empregados. Não bate porque as empresas, quando têm elevação de
custo muito forte, como é o caso -vai aumentar em 10% o
custo do trabalho e 50% o da
hora extra-, as que podem
ajustar até já ajustaram. As que
não podem vão partir para medidas compensatórias: buscar
mais automatização -portanto, não contratam-; reduzir a
produção e se acomodar, que
foi o que ocorreu em 1988 -e
não contratam-; ou contratam, mas passam para o preço.
Quando isso acontece, inflaciona e há capacidade menor na
economia para gerar emprego.
As empresas não são estáticas e
anulam as intenções de gerar
emprego por meio da redução.
FOLHA - Argumenta-se que a redução da jornada elevaria o salário-hora e, como houve ganho de produtividade nas empresas, nos últimos anos, elas poderiam pagar mais.
PASTORE - Isso é uma tese geral.
Mas você não consegue, por
meio de medida legal, ajustar
isso aos diferentes ganhos de
produtividade que existem nas
empresas. Você tem empresas
que alocaram os ganhos em
três pontos: aumentos reais aos
trabalhadores -em vários casos, em muitos setores-; uma
outra parte foi para o lucro das
empresas, e foi com isso que
puderam investir mais; outra
parte foi para o consumidor
-houve uma redução drástica
de preços em cima da produtividade. Uma legislação imposta
não tem condições de equalizar
essa distribuição. O que é bonito na teoria, na prática, é pelo
menos ambíguo.
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