São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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Banco vai aumentar crédito às exportações

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vai concentrar uma porcentagem maior de seus recursos em financiamento de exportações para atender à demanda que tem sido recusada pelo mercado.
"Vamos direcionar os recursos com o objetivo de atravessar esse período de instabilidade, causada também pelo clima eleitoral", disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sergio Amaral.
Atualmente, o banco direciona 25% de seu orçamento anual de R$ 28 bilhões para financiar as exportações.
De acordo com o superintendente do BNDES, Renato Sucupira, o banco poderá passar a gastar até 35% dos recursos com exportações. Com isso, o orçamento de R$ 7 bilhões para financiar as vendas poderá subir para cerca de R$ 10 bilhões.

Valorização do dólar
Com a queda das linhas de crédito externo para empresas brasileiras, os exportadores não estão conseguindo financiamento.
A falta de crédito tem impedido que a valorização de cerca de 30% do dólar somente neste ano alavanque as exportações. De janeiro a julho deste ano, as vendas externas já diminuíram 7,7% na comparação com o mesmo período do ano passado.
"No mês passado, já direcionamos 35% dos recursos desembolsados no BNDES para o financiamento das exportações", disse Sucupira. No entanto, segundo ele, não foi determinado um valor fixo para financiar as vendas porque o governo acredita que a oferta de crédito vai melhorar depois da assinatura do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Tão logo o FMI assine o acordo com o governo, o crédito deverá se restabelecer. O que estamos vivendo é uma crise de expectativas", afirmou o superintendente do BNDES.

Temor de calote
De acordo com o ministro Sergio Amaral, os bancos estrangeiros, que concentram a maior parte das linhas de créditos para exportação, não estão renovando seus contratos com os exportadores por medo de calote.
"O problema que estamos enfrentando não é de falta de liquidez, mas de falta de credibilidade. Existem incertezas por causa do que ocorreu na Argentina e por causa das eleições", disse o ministro.
Para Sucupira, a crise de confiança é mundial e tem sido alimentada pelos escândalos dos balanços das corporações americanas. "Inseguros, os investidores retiram seus investimentos e os bancos ficam com menos recursos, e os países em desenvolvimento são os primeiros a serem afetados."
Segundo ele, o aumento da classificação de risco do país (que mede as chances de calote), que atingiu 2.047 pontos na sexta-feira, piora o clima de desconfiança.
Além de direcionar mais recursos para financiar as exportações, o BNDES vai procurar parcerias com organismos multilaterais. O banco está negociando com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e com a CAF (Corporação Andina de Fomento).
Como a CAF tem título de "investment grade", ou seja possui a menor classificação de risco, o BNDES está negociando para que a CAF possa captar recursos no exterior e repassá-los para o BNDES financiar exportações para a América do Sul.

Proex
Não é apenas o crédito de bancos estrangeiros que está escasso. Os recursos do Proex para a modalidade financiamento também secaram. O Banco do Brasil está orientando os exportadores a procurar o BNDES.
Com a desvalorização do real, o orçamento de R$ 989 milhões do Proex para o ano não foi suficiente para atender os financiamento de negócios fechados em dólar. O dinheiro acabou em junho e o governo aprovou uma suplementação de R$ 98 milhões, que também já foi utilizada.
De acordo com o Banco do Brasil, neste ano, o Proex deixou de atender uma demanda de crédito de R$ 450 milhões.


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