São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresas buscam negociação, e bancos até aceitam alguma perda

DA REPORTAGEM LOCAL

A conversa não anda nada fácil. Empresas com dívidas em dólares e seus credores tentam chegar a um acordo para que as companhias paguem seus débitos. Sem que, no entanto, isso crie um rombo nas contas dos grupos. Bancos aceitam até uma perda parcial caso consigam receber o pagamento.
Há três saídas hoje: pagamento antecipado com desconto, alongamento nos prazos e uso de recebíveis como garantias. As soluções não fogem disso. Um setor tem mais dificuldade para arcar com o papagaio: o das elétricas.
A Eletropaulo tem de pagar US$ 375 milhões em dívidas até o final do ano. Contratou em julho o banco Lazard para chamar os credores e rever os valores, que podem ultrapassar os R$ 400 milhões (ao incluir nessa conta juros sobre o principal).
A companhia informa que "se viu obrigada a buscar alternativas de refinanciamento junto aos seus credores cujos créditos têm vencimento programado para o segundo semestre de 2002". Quanto a bater o martelo, não há previsão. As dívidas vencem neste mês e em setembro.
A Klabin tem US$ 120 milhões para quitar com data para pagamento fixada nos últimos dias de dezembro. Diz que vai pagar tudo. "Estamos trabalhando para isso. A idéia é tentar dar os nossos futuros ganhos com a exportação como garantia na tentativa de conseguir um empréstimo de US$ 100 milhões e pagar esses eurobônus", diz Ronald Seckelmann, diretor financeiro da Klabin, empresa de papel e papelão.
Estudo finalizado no mês passado pelo banco JP Morgan, que faz uma análise do fôlego das empresas brasileiras para arcar com seus débitos, informa que não acha provável que ocorra calote no setor privado brasileiro.
Empresas como a Kaiser -com dívidas de US$ 80 milhões- e a Eletropaulo tem como controladoras empresas estrangeiras, que podem salvá-las num sufoco. Gerdau e Klabin ainda são exportadores, e tem um hedge natural, pois recebem em moeda estrangeira. Outras, como Globopar e Net, já têm dólares em caixa ou estão em processo de negociação.
"O que não pode ocorrer, de jeito nenhum, é um default [calote] de qualquer nível. Isso criaria um risco para a imagem das empresas e do país que seria irreparável", afirma Cláudia Hausner, do banco Banif Primus.
A situação chegou a esse ponto porque as companhias, que se endividaram nos últimos anos para realizar investimentos internos, não conseguiram moeda no mercado para quitar suas dívidas. Isso ocorre porque incertezas em relação ao cenário eleitoral fizeram com que os bancos reduzissem as linhas de crédito. (AM)


Texto Anterior: Maior crise de crédito pode precisar de pressão do Fed para ser resolvida
Próximo Texto: Banco vai aumentar crédito às exportações
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.