São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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ANÁLISE

Especulação ajuda sobe-e-desce do dólar

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O avanço de Ciro Gomes nas pesquisas eleitorais, a ansiedade em relação a um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a contração de linhas de financiamento externo para o Brasil representaram motivos de pressão sobre o dólar na semana passada. Mas não foram os únicos. Uma forte especulação também contribuiu para o sobe-e-desce recorde do dólar.
Por trás de distorções raras acontecidas no mercado de câmbio nos últimos dias -que muitos analistas confessam nunca terem visto antes- esteve uma forte retenção proposital de dólares.
Os vencimentos da dívida privada externa em julho não deixavam dúvidas de que seria um mês de dólar em alta. Cientes disso, muitas instituições haviam apostado na valorização da moeda na BM&F (Bolsa de Mercadoria e Futuros).

No limite
Alguns bancos, dizem analistas, seguraram dólares para forçar a alta da moeda e multiplicar seus ganhos no mercado futuro. Segundo especialistas e operadores, o volume de ativos em dólares que os bancos carregavam na semana passada provavelmente bateram no limite máximo permitido pelo Banco Central.
Se de um lado a oferta dos bancos havia diminuído muito, de outro a demanda por dólares explodia. Afinal, empresas precisaram ir ao mercado comprar a moeda norte-americana para saldar suas dívidas no exterior - já que não conseguiam renovar seus empréstimos. Além disso, quando o cenário parecia caótico na última semana, brasileiros apavorados também começaram a querer mandar dinheiro para fora.
Oferta contraída, demanda alta e poucos negócios levaram a cotação às alturas. Nem as intervenções feitas pelo BC no início da semana foram suficientes para conter a desvalorização do real.
Quando o dólar ultrapassou R$ 3,61 na última quarta-feira, a vontade de embolsar lucros aberrantes passou a falar mais alto que o medo do caos financeiro. Alguns brasileiros que têm dinheiro no exterior ou investimentos corrigidas pela moeda norte-americana começaram a considerar seriamente a hipótese de converter seus dólares em reais e embolsar os ganhos com a desvalorização.
Consultas e pedidos desse tipo começaram a pipocar nos bancos e consultorias financeiras, segundo operadores e analistas de mercado ouvidos pela Folha.
Foi quando grandes investidores se deram conta de que era hora de se livrar de suas posições de compra de dólar, antes que a cotação da moeda começasse a despencar. Para não derrubar o preço no mercado à vista, as instituições optaram por fechar contratos de venda no mercado futuro: inverteram posições e passaram a apostar na queda do dólar.
Não por acaso, no último dia 31, o preço do dólar com vencimento em setembro caiu 3% na BM&F, enquanto a moeda teve valorização de 6% no mercado à vista.
Esse movimento, somado a intervenções mais agressivas do BC e perspectivas mais otimistas em relação ao fechamento de um acordo com o FMI, ajudaram a derrubar o dólar na mesma velocidade com que a moeda havia subido no início da semana.

Inversão
Até agora, ao que tudo indica, as instituições que inverteram suas posições e passaram a apostar na queda do dólar no mercado futuro -ou seja, fizeram contratos de venda- estão saindo na vantagem. Segundo dados da consultoria Future Analysis, o valor médio do dólar nos contratos de compra e venda para o vencimento de setembro é de R$ 3,05. Ontem, no entanto, o dólar para este mesmo vencimento estava sendo negociado a R$ 2,96 na BM&F. Ou seja, os investidores que fecharam contratos de venda acima desse valor estavam ganhando.


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