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COMÉRCIO
Negociação será retomada
Amorim espera UE mais flexível com o Mercosul
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O chanceler Celso Amorim
acredita que o acordo fechado sábado na OMC (Organização
Mundial do Comércio) poderá ter
efeito positivo na negociação entre o Mercosul e a União Européia, interrompida há duas semanas, em Bruxelas, mas que será retomada a partir de segunda-feira,
em Brasília.
Não se trata de nenhuma informação, mas de um raciocínio empírico, assim formulado: a agenda
européia estava sobrecarregada,
na medida em que o conglomerado discutia muitas concessões ao
mesmo tempo na área agrícola.
Estabelecidas as concessões no
âmbito multilateral (o da OMC),
ficaria em tese mais fácil atender a
demanda do Mercosul, que está
centralizada precisamente na área
agrícola.
Mas o ministro é o primeiro a
dizer que não há relação entre um
resultado e outro. Recorre até a
uma comparação que lembra
seus tempos de presidente da Embrafilme: "Ganhar o Oscar ajuda a
ganhar o Festival de Cannes? Pode até ajudar, mas o resultado na
OMC é um valor em si".
Ter ganho o Oscar parecia ser o
estado de espírito do chanceler
durante o almoço que lhe oferecido ontem em São Paulo pelo Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), centro
de estudos empresarial que poderia ser considerado a ala esquerda
dos homens de negócio, se é que
existe.
Tanto aos empresários como
aos jornalistas, Amorim vendeu o
resultado na OMC como extraordinário, a ponto de dizer que os
ganhos de US$ 10 bilhões para o
Brasil, que previra na véspera, são
um cálculo "para baixo; acho que
vai ser muito mais que isso".
O acordo alcançado sábado
abre de fato o caminho para a redução do protecionismo agrícola
dos países ricos, mas os detalhes
ainda serão negociados. Tanto é
assim que o exuberante otimismo
de Amorim não o impediu de admitir que "é um pouco difícil prever exatamente" o quanto o Brasil
se beneficiará do pacote agrícola.
De todo modo, o ministro vê
dois tipos de lucro: o político e o
econômico. O político está dado
pelo fato de que "mudou o equilíbrio de forças (na OMC), graças
ao G20", o grupo criado por iniciativa de Brasil e Índia e que luta
para derrubar o protecionismo
agrícola dos países ricos.
Já o ganho econômico, além dos
US$ 10 bilhões (ou mais), "vai se
fazer sentir muito antes das medidas entrarem em vigor", calcula o
chanceler. Ele acredita que a eliminação dos subsídios agrícolas,
embora não tenha data marcada,
fará com que, desde já, "os investidores pensem se é melhor investir em açúcar de beterraba ou em
outras áreas mais produtivas".
Não por acaso, a Europa é a
grande produtora de açúcar de
beterraba, com pesados subsídios.
Na negociação com o Mercosul,
o açúcar é um dos itens para o
qual não foi feita oferta de cota
(embora tenha sido para o etanol,
também produto da cana-de-açúcar). O fato de as cotas serem reduzidas, divididas em duas etapas
(uma agora e outra depois de terminada a negociação na OMC) e,
ainda por cima, distribuídas ao
longo de dez anos, emperrou a
negociação com o Mercosul.
O discurso otimista do ministro
foi comprado com entusiasmo
pelo Iedi ou, ao menos, por seu
presidente, Ivoncy Ioschpe, a
ponto de ter dito aos jornalistas
que, "pela primeira vez, o Brasil
passou a defender os interesses
nacionais".
Não é pouca coisa, se se lembrar
que o empresariado, de modo geral, apoiou o governo anterior (de
Fernando Henrique Cardoso) e
tem (ou tinha) histórica antipatia
pelo PT.
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