São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2006

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Indústria do trigo quer zerar taxa de importação

Oferta argentina não supre demanda do Brasil e compra ficará cara, diz entidade

Moinhos podem trazer 900 mil toneladas de Canadá e EUA com preço mais alto e tarifa de 10% sobre o cereal de países extra- Mercosul


DA REUTERS

Na próxima safra, a Argentina, tradicional fornecedora de trigo dos moinhos brasileiros, não atenderá à demanda do Brasil, que terá de comprar 900 mil toneladas de países que não integram o Mercosul, o que implica incidência da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para importação do cereal de países externos ao bloco.
O alerta foi feito pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), que defende que a alíquota seja zerada já. A associação concluiu que a produção do vizinho não atenderá toda a necessidade brasileira com base nos registros de exportação da Argentina na safra 2006/7. Os outros produtores têm preços mais elevados, que ficarão ainda mais altos por conta da TEC, diz o presidente da entidade, Samuel Hosken.
A Abitrigo já havia chamado a atenção para a necessidade de comprar, este ano, fora da Argentina, um milhão de toneladas. Mas, diz Hosken, os altos preços no mercado internacional e a manutenção da TEC frustraram os planos da entidade, que organizou um consórcio para fazer as compras.
O abastecimento de trigo é uma questão delicada, afirma Hosken, porque os estoques do governo praticamente acabaram e a safra nacional foi quebrada pela seca. De acordo com ele, a produção caiu de 4,8 milhões, em 2005, para 3,4 milhões de toneladas. "Uma safra de 3,4 milhões de toneladas é muito pequena. E já está se falando em 3,1 milhões, sujeito a problemas de qualidade."
A Abitrigo estima que o Brasil terá de importar, no total, 6,5 milhões de toneladas. E que a Argentina produzirá 14 milhões de toneladas, dos quais usará 6 milhões de toneladas.
"Sobram 8 milhões de toneladas para venda externa. Mas, até 26 de julho, os registros de exportação estavam em 3,31 milhões, ou seja, os argentinos terão disponíveis para novas vendas 4,7 milhões." Ele salientou que, das declarações de vendas já realizadas, o Brasil tem só 400 mil toneladas e poderá obter, no máximo, mais 450 mil, por meio de transferência de compromissos com outros destinos. Ainda precisaria comprar 5,65 milhões de toneladas, volume que ultrapassa em 955 mil toneladas os 4,7 milhões disponíveis. "Por isso, pleiteamos TEC zero", disse o dirigente, frisando que o governo está ciente do problema. "É preciso para fechar contratos com o Canadá e os EUA, onde o preço está em US$ 200 dólares por tonelada. Se não for agora e se só tivermos TEC zero daqui a seis meses, quando não tiver mais trigo, não vai adiantar, porque aí vamos trazer trigo (de outras origens) a US$ 220, US$ 230 dólares." O trigo da safra velha é cotado na Argentina a 165 dólares por tonelada.


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