São Paulo, terça-feira, 04 de agosto de 2009

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Calote sobe no Bradesco, mas lucro cresce

Carteira de crédito para de aumentar, inadimplência também se eleva, mas ganhos no semestre crescem 2,8%, a R$ 4 bi

Inadimplência acima de 90 dias foi de 3,4% no fim de 2008 para 4,5% em junho; banco prevê que neste mês ela vá a 4,9% e se estabilize


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O balanço do Bradesco no segundo trimestre mostrou claramente os reflexos da crise. O crédito, motor do setor bancário ao menos desde 2006, ficou estagnado, enquanto a inadimplência teve destacada elevação. De qualquer forma, o lucro líquido no primeiro semestre de 2009 se manteve bastante alto, atingindo os R$ 4,02 bilhões -cifra 2,8% maior que a do mesmo período de 2008.
No segundo trimestre, o lucro do banco atingiu os R$ 2,297 bilhões, resultado 14,7% maior que o número registrado entre abril e junho do ano passado. Mas o segundo trimestre deste ano teve eventos particulares -como a venda da participação acionária na VisaNet e o aumento expressivo das provisões adicionais-, que tiveram impacto líquido de aproximadamente R$ 460 milhões.
Um dos destaques do resultado foi o salto de 118,9% na PDD (provisão para devedores duvidosos) em 12 meses, que atingiu R$ 4,42 bilhões no segundo trimestre. A PDD representa os recursos reservados para os riscos de calote. Segundo o banco, um dos motivos para o aumento expressivo da PDD foi a "manutenção de níveis elevados de inadimplência no segundo trimestre, que é resultado da retração econômica sobre a capacidade de pagamento".
O aumento da PDD não mostra apenas uma maior cautela por parte do Bradesco. Os níveis de inadimplência subiram de um modo geral. Para a pessoa física, os pagamentos em atraso há mais de 90 dias alcançaram 7,5% da carteira no trimestre. Em dezembro, esse índice estava em 6,1%.
O segmento no qual a inadimplência mais subiu foi no de pequenas e médias empresas: foi de 2,7% do total em dezembro para 4,5% em junho. Se for considerada a carteira total do Bradesco, houve um aumento de 3,4% no fim de 2008 para 4,5% em junho. Na avaliação do banco, a inadimplência total pode ainda ter subido um pouco até agosto, alcançando 4,9%, antes de se estabilizar. "Mas estamos gradativamente observando uma melhora", afirmou Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco.
A carteira de crédito do Bradesco teve pequeno recuo entre o primeiro e o segundo trimestres, indo de R$ 212,99 bilhões para R$ 212,77 bilhões. Até o fim de 2008, a expansão da carteira vinha ocorrendo de forma acelerada e contínua. Em 2008, a carteira de crédito cresceu 33,4%. Em 2007, havia tido expansão de 38,9%.

Mudança gradativa
"O segundo trimestre refletiu bastante a crise, o medo de conceder crédito. Mas vejo que a realidade tem mudado gradativamente desde lá. Neste terceiro trimestre a tendência é vermos melhora no crédito e queda na PDD", diz Luis Miguel Santacreu, analista da consultoria Austin Rating.
Para o ano, o banco reviu sua previsão de crescimento do crédito para uma faixa entre 8% e 12%. A projeção anterior apontava entre 13% e 17%.
Essa mudança fez com que a participação do crédito no resultado do banco saísse de 23% do total nos primeiros seis meses de 2008 para 17% neste ano.
Na outra ponta, o segmento de títulos e valores mobiliários elevou sua participação. Subiu de 7% do total para 13% no período. O segmento responde pelas operações de tesouraria -basicamente os títulos nos quais a instituição aplica.
"Os bancos represaram o crédito, o que favoreceu a destinação do dinheiro que captaram para aplicações em títulos. O segmento se tornou, ao menos temporariamente, mais relevante", diz Santacreu.
Sem aquisições de porte em vista, o Bradesco parece que deixou em segundo plano a disputa do posto de maior banco privado do país, que ocupou por um bom tempo. A fusão do Itaú com o Unibanco deixou o Bradesco em desvantagem. "A liderança não é uma obsessão", afirmou o presidente do Bradesco na entrevista de apresentação dos resultados.


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