São Paulo, terça-feira, 04 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Indústria sai lentamente da recessão

Primeiro semestre de 2009 foi o pior da história do setor, segundo o IBGE, mas dados dos últimos meses mostram retomada

Medidas de desoneração tributária, consumo interno e melhora nas exportações impulsionam setores como linha branca e construção


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Abalada pela crise, a produção da indústria brasileira caiu 13,4% no primeiro semestre deste ano, o pior índice da série histórica do IBGE iniciada em 1976. Mas o setor já sinaliza uma recuperação nos dados mensais mais recentes, sob impacto da desoneração tributária, do consumo doméstico aquecido e de uma pequena melhora nas exportações.
Após dois trimestres em queda, a indústria cresceu 3,4% de abril a junho na comparação livre de influências sazonais com o primeiro trimestre de 2009. O dado, dizem especialistas, mostra que o setor saiu da recessão.
De maio para junho, também na taxa sem influências sazonais, houve expansão de 0,2% -menos do que o 1,2% de maio. Foi o sexto mês consecutivo de crescimento nessa base de comparação, segundo o IBGE. Em relação a junho de 2008, a queda ficou em 10,9%.
A melhora no trimestre não compensa a queda causada pela crise. Desde o colapso em setembro de 2008 até junho de 2009, a produção acumula perda de 13,6% -o tombo foi de 20% em dezembro.
Para Isabela Nunes, gerente do IBGE, a indústria vive uma fase "lenta e gradual" de recuperação, embora opere num ritmo de produção bem mais moderado do que em 2008. Com a crise, a produção voltou aos níveis de 2006.
"Há uma retomada, mas o nível de atividade não decolou ainda", diz Leonardo Melo, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
De um lado, avalia Melo, o consumo doméstico cresce na esteira da renda mais elevada, de estoques mais baixos e da pequena reação das exportações -especialmente para a China. Para Sérgio Vale, da MB Associados, os investimentos não respondem à melhora da expectativa de empresários e demoram a reagir porque o parque industrial ainda está com capacidade ociosa.
Com isso, a produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) caiu 24,4% no primeiro semestre, o pior resultado dentre as categorias. De maio para junho, cresceu 2,1%.
Para Nunes, do IBGE, o dado de junho sinaliza um início de reação dos investimentos, centrada em máquinas para energia elétrica, informática, caminhões e construção civil -neste último caso, já um reflexo da redução da cobrança de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) no setor.
A desoneração tributária também impulsionou direta ou indiretamente o desempenho, de maio para junho, de veículos (alta de 2,6%) e siderurgia (2%) -fornecedora do setor automobilístico. Fez ainda o subsetor de eletrodomésticos de linha branca -como geladeiras e fogões- ser um dos poucos a crescer em junho frente junho.
As quedas de maior impacto na produção industrial no primeiro semestre ficaram com os ramos de veículos (-23,6%), máquinas e equipamentos (-29%) e siderurgia (27,9%).
Apesar da perspectiva melhor para o segundo semestre, só em 2010 a indústria voltará a produzir no ritmo pré-crise, diz Marcela Prada, da Tendências.


Texto Anterior: Aposentadorias: Governo estuda adiar leilão da folha de pagamento do INSS
Próximo Texto: Produção de máquinas já esboça reação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.