São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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Dados indicam que EUA terão "pouso suave"

Ganhos reais dos salários compensam queda dos gastos com habitação e sinalizam desaceleração gradual em vez de recessão

A preocupação que o Fed tem com o crescimento reforça a projeção de alguns bancos estrangeiros de que os juros caiam já em 2007

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O desaquecimento do setor imobiliário nos Estados Unidos está sendo, em parte, compensado pelo mercado de trabalho. Os gastos com habitação entre os norte-americanos estão caindo a uma taxa anualizada de 20%. Em contrapartida, os salários reais dos trabalhadores estão crescendo a uma taxa próxima de 4% ao ano.
Os dados são importantes porque, embora a desaceleração da área imobiliária possa se estender para outros setores, sinalizam mais um desaquecimento gradual do que uma recessão na maior economia do mundo. Isso é essencial para países como o Brasil, que dependem muito do cenário externo para crescer.
O Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), por sua vez, tem deixado claro que, apesar de muito zeloso com a inflação, não descuida do crescimento do país.
Há o temor de apertar demais a economia se os juros subirem excessivamente. Foi em nome da atividade econômica nos Estados Unidos que o comitê de política monetária americano, o Fomc, similar ao Copom brasileiro, interrompeu a elevação dos juros lá, segundo a ata da última reunião divulgada na semana passada.
O comunicado do Fed, após a reunião do dia 8 de agosto já observava que o "crescimento econômico desacelerou...". Economistas projetam crescimento abaixo de 2,5% nos próximos trimestres.
A revisão do PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano do segundo trimestre veio ainda abaixo do consenso do mercado, a uma taxa anualizada de 3%.
A alta foi de 2,9%, "o que corrobora a análise de moderação no ritmo de crescimento da atividade nos Estados Unidos em curso nos últimos meses", segundo Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria.

Contenção de gastos
Outras crises no mercado de imóveis foram acompanhadas de desaceleração do PIB, além da diminuição dos gastos das famílias. Mas há outros dados que fortalecem a probabilidade de que a desaceleração econômica seja forte, mas não leve a uma recessão.
As exportações crescem de forma significativa, assim como a renda das famílias tem se expandido. Os balanços das empresa têm vindo com bons lucros. Investimentos não-residenciais continuam robustos.
Mas isso pode não continuar assim, se o efeito do desaquecimento imobiliário, de fato, se espalhar. A alta dos juros e dos preços da energia podem contribuir para a contenção do consumo das famílias norte-americanas, reduzir os bons números no mercado de trabalho e segurar a demanda. A desaceleração de outras economias também poderá cortar o aumento das exportações.
A preocupação que o Fed tem demonstrado com o crescimento da economia reforça a projeção de alguns bancos estrangeiros, como o UBS, de que os juros norte-americanos voltem a cair já no ano que vem.
Para Marcelo Ribeiro, economista-chefe da Pentágono Asset Management, ainda não se sabe se o que aguarda a economia dos Estados Unidos é uma recessão, um forte desaquecimento ou um crescimento moderado.
"O cenário de recessão, porém, não está precificado nos prêmios de risco, moedas, Bolsas de países emergentes e nos preços das commodities, que, em alguns mercados, estão no maior nível em décadas", diz Ribeiro, que recomenda cautela na aplicação de recursos.


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