São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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Gasto privado com saúde supera o estatal

Famílias brasileiras são responsáveis por 60% dos desembolsos no setor; participação pública é pequena no Brasil

Maiores despesas são com a compra de medicamentos, exames em laboratórios e consultas; saúde representa 5,3% da economia brasileira

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

As famílias brasileiras são responsáveis por 60% dos gastos do país com saúde. O dado consta da pesquisa Economia da Saúde, divulgada ontem pelo IBGE no Rio, e indica que a participação do poder público brasileiro é pequena quando comparada com a maioria dos países desenvolvidos.
O estudo também mostrou, pela primeira vez, que em 2005 as atividades ligadas à saúde geraram R$ 97 bilhões e representaram 5,3% do total da economia brasileira, gerando 3,9 milhões de postos de trabalho (4,3% do total).
O maior gasto feito pelas famílias com saúde foi destinado à compra de medicamentos (35%) e a despesas com laboratórios, consultas e outros serviços não-hospitalares (34%). Também foram significativos os gastos com serviços hospitalares (19%) e planos ou seguros de saúde (8%).
Para Angélica Borges dos Santos, pesquisadora da Fiocruz que participou da análise da pesquisa, a pequena participação do poder público no gasto total com saúde destoa do padrão verificado na maioria dos países desenvolvidos.
"Em quase todos os países que fazem parte da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o gasto das famílias com saúde é de aproximadamente 20%. Com exceção dos EUA e do México, em todas essas nações é o poder público que responde pela maior parte dos gastos. É esse o padrão que gostaríamos de ver no Brasil."
A pesquisadora comentou também outro dado que chamou sua atenção: o crescimento do setor privado de saúde. Em 2005, por exemplo, a Agência Nacional de Saúde Suplementar registrava que 19% da população estava coberta por planos de assistência médica.
Além disso, os dados do IBGE mostram que o setor privado depende cada vez menos do financiamento público. Em 2005, o governo consumiu apenas 15% dos serviços de saúde privados.
"Na época do Inamps [Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, que deu lugar ao SUS], esse gasto chegava a dois terços do total. Isso mostra que o setor privado vem crescendo bastante nos últimos anos. Com a melhoria da renda, muita gente acaba contratando um plano de saúde, até pelo status que isso traz", diz Angélica.
Apesar do crescimento do setor privado, a pesquisa cita -a partir de dados já divulgados na Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2003- que o padrão de gastos das famílias com saúde ainda é desigual.
As despesas das famílias que se encontram entre as 10% mais ricas era de R$ 376 em 2003, enquanto entre as 40% mais pobres esse valor ficava em R$ 28. No caso dos mais pobres, o principal gasto era com remédios e, entre os mais ricos, planos de saúde.

Ocupações
Uma característica do setor de saúde identificado pelo IBGE é que os rendimentos dos trabalhadores são maiores em relação à média da economia. Na saúde, o rendimento médio por ano chega a R$ 15,9 mil, enquanto para o total da economia esse valor é de R$ 9,7 mil anuais.
As relações de trabalho também são mais formais na saúde: 66% dos empregos são com vínculo formal. No total da economia, o percentual é de 41%.
Na saúde, o setor que mais gera empregos é o público, com 1,3 milhão. Também são expressivas (1 milhão de postos) as ocupações em atividades como laboratórios, clínicas, consultórios e outras atividades do setor privado não-hospitalares.
Ricardo Moraes, pesquisador do IBGE, explica que esse último setor é um dos que mais crescem no país por causa da mudança no padrão de atendimento dos pacientes: "Há uma tendência de diminuição das internações e de aumento de outros procedimentos médicos, como exames".


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