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Gasto privado com saúde supera o estatal
Famílias brasileiras são responsáveis por 60% dos desembolsos no setor; participação pública é pequena no Brasil
Maiores despesas são com a compra de medicamentos, exames em laboratórios e consultas; saúde representa 5,3% da economia brasileira
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
As famílias brasileiras são
responsáveis por 60% dos gastos do país com saúde. O dado
consta da pesquisa Economia
da Saúde, divulgada ontem pelo
IBGE no Rio, e indica que a participação do poder público brasileiro é pequena quando comparada com a maioria dos países desenvolvidos.
O estudo também mostrou,
pela primeira vez, que em 2005
as atividades ligadas à saúde geraram R$ 97 bilhões e representaram 5,3% do total da economia brasileira, gerando 3,9
milhões de postos de trabalho
(4,3% do total).
O maior gasto feito pelas famílias com saúde foi destinado
à compra de medicamentos
(35%) e a despesas com laboratórios, consultas e outros serviços não-hospitalares (34%).
Também foram significativos
os gastos com serviços hospitalares (19%) e planos ou seguros
de saúde (8%).
Para Angélica Borges dos
Santos, pesquisadora da Fiocruz que participou da análise
da pesquisa, a pequena participação do poder público no gasto total com saúde destoa do
padrão verificado na maioria
dos países desenvolvidos.
"Em quase todos os países
que fazem parte da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico),
o gasto das famílias com saúde
é de aproximadamente 20%.
Com exceção dos EUA e do México, em todas essas nações é o
poder público que responde pela maior parte dos gastos. É esse o padrão que gostaríamos de
ver no Brasil."
A pesquisadora comentou
também outro dado que chamou sua atenção: o crescimento do setor privado de saúde.
Em 2005, por exemplo, a Agência Nacional de Saúde Suplementar registrava que 19% da
população estava coberta por
planos de assistência médica.
Além disso, os dados do IBGE mostram que o setor privado depende cada vez menos do
financiamento público. Em
2005, o governo consumiu apenas 15% dos serviços de saúde
privados.
"Na época do Inamps [Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social,
que deu lugar ao SUS], esse gasto chegava a dois terços do total. Isso mostra que o setor privado vem crescendo bastante
nos últimos anos. Com a melhoria da renda, muita gente
acaba contratando um plano de
saúde, até pelo status que isso
traz", diz Angélica.
Apesar do crescimento do setor privado, a pesquisa cita -a
partir de dados já divulgados na
Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2003- que o padrão
de gastos das famílias com saúde ainda é desigual.
As despesas das famílias que
se encontram entre as 10%
mais ricas era de R$ 376 em
2003, enquanto entre as 40%
mais pobres esse valor ficava
em R$ 28. No caso dos mais pobres, o principal gasto era com
remédios e, entre os mais ricos,
planos de saúde.
Ocupações
Uma característica do setor
de saúde identificado pelo IBGE é que os rendimentos dos
trabalhadores são maiores em
relação à média da economia.
Na saúde, o rendimento médio
por ano chega a R$ 15,9 mil, enquanto para o total da economia esse valor é de R$ 9,7 mil
anuais.
As relações de trabalho também são mais formais na saúde:
66% dos empregos são com
vínculo formal. No total da economia, o percentual é de 41%.
Na saúde, o setor que mais
gera empregos é o público, com
1,3 milhão. Também são expressivas (1 milhão de postos)
as ocupações em atividades como laboratórios, clínicas, consultórios e outras atividades do
setor privado não-hospitalares.
Ricardo Moraes, pesquisador
do IBGE, explica que esse último setor é um dos que mais
crescem no país por causa da
mudança no padrão de atendimento dos pacientes: "Há uma
tendência de diminuição das
internações e de aumento de
outros procedimentos médicos, como exames".
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