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Paulo Bernardo defende votação de autonomia do BC no Congresso
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob o argumento de que haveria
queda de até dois pontos percentuais da taxa básica de juros (hoje
em 19,5% ao ano), o ministro do
Planejamento, Paulo Bernardo,
defendeu ontem que o governo
aceite votar o projeto de autonomia do BC (Banco Central), como
tem proposto o líder do PFL na
Câmara dos Deputados, o oposicionista Rodrigo Maia (RJ).
"Na Câmara, o desafio é restabelecer uma agenda de votações.
Além da reforma tributária e da
desoneração das exportações, eu
incluiria a autonomia do Banco
Central, como defende o deputado Rodrigo Maia. O governo e os
nossos articuladores políticos deveriam debater com a oposição
um calendário de votações e
aprovar o projeto [de autonomia]", disse Bernardo à Folha.
Segundo o ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "já dá
autonomia na prática" ao BC. A
votação de um projeto de lei nesse
sentido, declarou Bernardo, "permitiria baixar a taxa de juros em
até dois pontos percentuais".
A taxa básica de juros, a Selic,
está em 19,5% ao ano. Apesar de o
BC ter dado início a um processo
de queda dos juros no mês passado, a taxa real ainda é muita alta se
descontada a inflação (cerca de
14%). A autonomia do BC, na visão de Bernardo, reforçaria a credibilidade da política monetária e
permitira uma queda mais rápida. Ele avalia que o impacto poderia ser os dois pontos percentuais
citados ou "até maior".
"O Brasil está muito perto de
consolidar índices de inflação dos
países mais desenvolvidos, o que
é a base para um crescimento sustentado de longo prazo e duradouro para este e os próximos governos. A autonomia do BC faz
parte de um arcabouço institucional que vai favorecer o crescimento da economia", disse Bernardo.
Guerra política
Com a eleição de Aldo Rebelo
(PC do B-SP) para presidente da
Câmara na semana passada por
apertada margem de votos (15), o
governo precisa de um acordo
com a oposição para que a Casa
volte a votar projetos.
Ciente de que a própria base de
apoio do governo na Câmara e
que até ministros de Lula se dividem a respeito desse tema, o líder
do PFL defendeu a autonomia do
BC como um dos projetos que poderiam ser incluídos numa pauta
comum de votação. O PSDB, também da oposição, apóia Maia.
Bernardo, da equipe econômica, alinha-se com Palocci na defesa da autonomia do BC. Lula sempre a empurrou com a barriga.
Nunca é taxativo ao descartá-la,
mas também não se esforçou para
aprová-la em seus quase três anos
de governo.
Quando ministro da Casa Civil,
José Dirceu bombardeou as tentativas de Palocci de tentar colocar
em votação a autonomia do BC. A
sucessora de Dirceu, Dilma Rousseff, também não tem simpatia
pela proposta, apesar de, na prática, como disse Bernardo, o presidente Lula garantir a autonomia
do BC.
O tema também é polêmico
dentro do PT, partido do ministro
do Planejamento. Quando deputado federal, Bernardo era dos
poucos a defender a autonomia
do BC.
O ministro acredita que o momento é oportuno porque a própria oposição admite discutir a
autonomia e porque a economia
"está fortalecida" apesar da crise
política. Citou como exemplos
dessa força o fato de o risco-país
(índice que mede a capacidade de
um país honrar seus compromissos externos) estar num patamar
baixo e o sucesso do governo ao
emitir títulos em real e vendê-los
para investidores estrangeiros pela primeira vez na história.
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