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LUÍS NASSIF
Capitalismo à brasileira
No ano passado, a remuneração de André Esteves, presidente do Banco Pactual, foi quase a mesma do presidente mundial da Goldman
Sachs, Henry M. Paulson.
Paulson pagou quase metade
disso em impostos; André pagou menos de 0,2%. Paulson
mora em um apartamento de
250 metros quadrados em Nova York, anda de táxi e tem vida muito simples para o que
ganha. André tem casa em São
Paulo, Rio e Bahamas e se locomove de helicóptero.
Esse episódio da venda do
Pactual é emblemático para
discutir definitivamente esse
mundo "offshore" que dominou o país na última década e
a ausência de regulação sobre
ele.
Uma das exigências da Goldman para prosseguir nas negociações foi uma auditoria e retificação das declarações de
Imposto de Renda de todos os
sócios do Pactual por auditores
apontados por ela, depois de
ter constatado que praticamente nenhum deles pagava
tributos.
Quer aumento das garantias
e indenizações para processos
fiscais do passado. Também
quer reduzir os direitos de Esteves, como controlador da
holding dos sócios que deterá
50% do capital votante (os outros 50% serão da Goldman).
Quer que Esteves possa ser demitido pelos demais sócios com
50% mais um dos votos, e não
mais com 75%, como consta da
proposta inicial. Pretende
também a nomeação de um
presidente do conselho de reputação ilibada. Entre os nomes considerados, estão Armínio Fraga Neto, Francisco
Gros, Eleazar de Carvalho e
Luiz Carlos Mendonça de Barros.
O ponto crítico da operação
são as questões tributárias e
cambiais. Ao longo dos últimos
20 anos, o POBT (banco de Bahamas, braço do Pactual) acumulou capital de mais de US$
650 milhões em operações suspeitas de evasão fiscal e de divisas e que prosseguem até hoje. A proposta da Goldman é
que o Pactual brasileiro adquira o POBT antes da sua venda
para a própria Goldman, para
não incorrer em riscos fiscais e
cambiais. Só que, aí, o Pactual
terá de pagar todos os impostos
devidos.
Já o Pactual está estudando
duas formas de engenharia tributária, ambas do escritório
Barbosa, Mussnich e Aragão.
Na primeira, a Goldman adquiriria a operação brasileira
-que tem capital por volta de
US$ 250 milhões- por US$
475 milhões, gerando um ganho de capital de 15%. O Pactual pagaria US$ 35 milhões de
impostos, com seus sócios ficando liberados de pagar 33%
de impostos sobre os US$ 650
milhões do POBT remetidos
para fora do país. A Goldman
está resistindo a essa proposta
porque poderia ser acusada de
permitir que os sócios do Pactual "lavem" os US$ 650 milhões no contexto da transação.
A segunda hipótese consistiria em "esvaziar" o POBT por
meio da distribuição especial
de dividendos, antes da venda
para a Goldman. O que fica
claro nas preocupações da
Goldman é que as operações
do Pactual possuem um componente de risco legal óbvio.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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