São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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OLHAR ESTRANGEIRO

Jornal britânico vê expansão lenta e reformas paradas

Investidor ignora riscos da América Latina, afirma "FT"

Leia abaixo editorial publicado na edição de ontem do britânico "Financial Times", o principal jornal de negócios da Europa, sobre o fato de o mercado internacional estar ignorando os riscos econômicos e políticos de investir em países da América Latina, incluindo o Brasil. DO "FINANCIAL TIMES"

Em um momento em que a situação política da América Latina é mais feia do que vinha sendo há muito tempo, os administradores de fundos estão despejando dinheiro nos mercados financeiros dessa região em ritmo frenético.
Os mercados de capitais do Brasil e do México bateram repetidos recordes, as moedas da região estão em alta e os rendimentos dos títulos públicos brasileiros estão em um nível não visto desde os dias que antecederam a crise asiática de outubro de 1997.
Apenas meses depois de negociar um acordo de reestruturação de sua dívida, a Argentina convenceu investidores internacionais a adquirir seus papéis por taxa de juros não muito superior à praticada pelo Brasil.
O entusiasmo tem explicação. Há muita liquidez nos mercados internacionais. Com os juros ainda relativamente baixos nos Estados Unidos, os investidores estão ávidos por rendimentos mais altos. A demanda asiática por matérias-primas vem puxando os preços das commodities para cima.
Depois dos choques financeiros de 2001 e 2002, a maioria dos governos latino-americanos impôs disciplina severa à política fiscal, mantendo a inflação sob controle e criando estabilidade macroeconômica. Em 2005, a região registrará seu terceiro superávit anual sucessivo em conta corrente. As reservas cambiais estão crescendo e os níveis de dívida vêm caindo.
Mesmo assim, os índices de crescimento são medíocres e é notável a lentidão do progresso que a América Latina vem conseguindo em suas reformas estruturais, na melhora das instituições e nos investimentos em infra-estrutura necessários para garantir expansão mais rápida e mais sustentável de suas economias.
As reformas estão paradas no México e vêm avançando a passo de lesma no Brasil, onde um escândalo de corrupção paralisou a atividade legislativa nos últimos quatro meses. As pressões eleitorais (pelo menos 11 eleições presidenciais acontecem nos próximos 15 meses na região) não tornarão as coisas mais fáceis, já que os líderes no poder dificilmente tomarão decisões que prejudiquem suas perspectivas eleitorais.
De fato, em certas partes da região há sinais de que as coisas estão caminhando para trás, com alguns governos adotando políticas explicitamente populistas.
No mês passado, na Argentina, um grande investidor estrangeiro -a Suez, da França- decidiu abandonar o país por irritação quanto à falta de empenho do governo em pôr fim ao congelamento de tarifas no setor de água.
Na Venezuela, o governo radical nacionalista de Hugo Chávez está desapropriando ativos agrícolas e ameaça cancelar contratos de mineradoras estrangeiras.
No mínimo, isso significa que, com algumas exceções -o Chile continua a ser um caso à parte-, a América Latina não está aproveitando plenamente as circunstâncias que a beneficiam. Na pior das hipóteses, a região pode estar perigosamente vulnerável a um choque externo ou a uma virada no mercado internacional.


Tradução de Paulo Migliacci

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