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OLHAR ESTRANGEIRO
Jornal britânico vê expansão lenta e reformas paradas
Investidor ignora riscos da América Latina, afirma "FT"
Leia abaixo editorial publicado
na edição de ontem do britânico
"Financial Times", o principal
jornal de negócios da Europa, sobre o fato de o mercado internacional estar ignorando os riscos
econômicos e políticos de investir
em países da América Latina, incluindo o Brasil.
DO "FINANCIAL TIMES"
Em um momento em que a situação política da América
Latina é mais feia do que vinha
sendo há muito tempo, os administradores de fundos estão despejando dinheiro nos mercados
financeiros dessa região em ritmo
frenético.
Os mercados de capitais do Brasil e do México bateram repetidos
recordes, as moedas da região estão em alta e os rendimentos dos
títulos públicos brasileiros estão
em um nível não visto desde os
dias que antecederam a crise asiática de outubro de 1997.
Apenas meses depois de negociar um acordo de reestruturação
de sua dívida, a Argentina convenceu investidores internacionais a adquirir seus papéis por taxa de juros não muito superior à
praticada pelo Brasil.
O entusiasmo tem explicação.
Há muita liquidez nos mercados
internacionais. Com os juros ainda relativamente baixos nos Estados Unidos, os investidores estão
ávidos por rendimentos mais altos. A demanda asiática por matérias-primas vem puxando os preços das commodities para cima.
Depois dos choques financeiros
de 2001 e 2002, a maioria dos governos latino-americanos impôs
disciplina severa à política fiscal,
mantendo a inflação sob controle
e criando estabilidade macroeconômica. Em 2005, a região registrará seu terceiro superávit anual
sucessivo em conta corrente. As
reservas cambiais estão crescendo
e os níveis de dívida vêm caindo.
Mesmo assim, os índices de
crescimento são medíocres e é
notável a lentidão do progresso
que a América Latina vem conseguindo em suas reformas estruturais, na melhora das instituições e
nos investimentos em infra-estrutura necessários para garantir expansão mais rápida e mais sustentável de suas economias.
As reformas estão paradas no
México e vêm avançando a passo
de lesma no Brasil, onde um escândalo de corrupção paralisou a
atividade legislativa nos últimos
quatro meses. As pressões eleitorais (pelo menos 11 eleições presidenciais acontecem nos próximos
15 meses na região) não tornarão
as coisas mais fáceis, já que os líderes no poder dificilmente tomarão decisões que prejudiquem
suas perspectivas eleitorais.
De fato, em certas partes da região há sinais de que as coisas estão caminhando para trás, com
alguns governos adotando políticas explicitamente populistas.
No mês passado, na Argentina,
um grande investidor estrangeiro
-a Suez, da França- decidiu
abandonar o país por irritação
quanto à falta de empenho do governo em pôr fim ao congelamento de tarifas no setor de água.
Na Venezuela, o governo radical nacionalista de Hugo Chávez
está desapropriando ativos agrícolas e ameaça cancelar contratos
de mineradoras estrangeiras.
No mínimo, isso significa que,
com algumas exceções -o Chile
continua a ser um caso à parte-,
a América Latina não está aproveitando plenamente as circunstâncias que a beneficiam. Na pior
das hipóteses, a região pode estar
perigosamente vulnerável a um
choque externo ou a uma virada
no mercado internacional.
Tradução de Paulo Migliacci
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