São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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QUEDA-DE-BRAÇO

Custos maiores seriam a justificativa das empresas para pedir aumento em certos itens; varejo diz que não aceita

Indústria e lojas "disputam" reajuste de Natal

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As tabelas de reajustes de preços da indústria para o comércio nos produtos de Natal chegam às lojas com aumentos de um dígito. Há casos de remarcação de preços com uma alta inferior a inflação dos últimos 12 meses. Para os panetones, bebidas e bacalhau já se bateu o martelo. Porém, nessa atual queda de braço para se decidir os aumentos, o que deve embolar as conversas entre as partes é o alegado repique nos custos da indústria, apurou a Folha.
O setor eletroeletrônico tem reclamado para o varejo do aumento no preço do frete do navio -meio usado para a importação dos componentes eletrônicos. A questão veio à tona nas conversas que ocorrem entre as partes desde o final de setembro, quando as negociações para a venda de Natal começaram. Com a elevada demanda do transporte por conta da alta nas importações e exportações brasileiras, a oferta de contêineres cai e o preço sobe.
No Porto de Belém (PA), onde chegam os insumos dessa indústria, localizada em Manaus (AM), desembarcaram em agosto os componentes para a comercialização dos eletrônicos para o final do ano. A chegada de contêineres cheios cresceu 103,4% sobre julho, segundo o porto.
Frete maior tem peso nos gastos das companhias e, se a empresa não quiser absorver esse custo, ele terá efeito no preço final ao varejo e ao consumidor.
Ainda há a questão da alta no valor do combustível determinada há duas semanas pelo governo. Todos os eletrônicos, como celulares e DVDs, saem de Manaus para o resto do país pelas rodovias ou por via marítima.
A questão aí é que o varejo não quer saber dessa conversa de custos altos, disse um gerente de vendas que terá reuniões com a indústria de televisores na próxima semana. "Se o dólar caiu, não tem choro. Não há razão para um aumento salgado", diz ele. O ano de 2005 foi marcado por forte valorização do real, e isso torna todos os insumos importados mais baratos.

Alimentos e eletrônicos
Exatamente por causa dessa perda no valor do dólar que as negociações entre lojas e fabricantes para a venda de itens importados no Natal foram finalizadas com reajustes tímidos.
Já está determinado, por exemplo, um aumento de até 5% para os panetones nas lojas do Carrefour e do grupo Pão de Açúcar, as duas maiores redes de supermercados do Brasil. A inflação do IPCA, utilizado como meta para o governo, está em cerca de 6% nos últimos 12 meses. Estima-se um aumento de 10% na compra de panetones neste Natal sobre 2004, diz o Carrefour. No bacalhau, o reajuste deve ser zero, na expectativa das lojas. O Pão de Açúcar espera uma alta de 20% nas vendas ante o ano anterior.
No caso de carnes e aves, o Carrefour trabalha com uma expansão de 10% na demanda, e o Pão de Açúcar, de 12%. Para vinhos, é estimada uma alta de 30%, informa o Carrefour.
As negociações de preços de importados -ao contrário dos eletrônicos- já foram fechadas por uma razão. O varejo queria colocar logo nas lojas certas mercadorias para a venda antecipada e precisava definir os reajustes logo-caso do panetone que está à venda desde setembro no Pão de Açúcar. Nesse caso, os contratos são discutidos no terceiro trimestre do ano.
A expectativa mais otimista de venda para o final de ano está no setor eletrônico. A Semp Toshiba, por exemplo, espera uma alta de 20% na demanda por seus televisores neste Natal. O foco do negócio está nas TVs de tela plana, que são alvo de promoções das lojas já em outubro, numa ação coordenada entre indústria e comércio para ampliar a demanda pela mercadoria.
No caso dos brinquedos, toda a negociação está em suspenso. Ainda será preciso que o Dia das Crianças passe para que, com base nas "sobras" que o comércio ficar após a data, seja possível sentar e definir preços e volumes de venda, explica a Estrela, uma das maiores empresas da área.
"Setembro não foi um mês muito bom para nós. Tivemos um desempenho pior que o do ano passado, e ainda não é possível dizer como ficará o final de ano", disse ontem Carlos Tilkiam, presidente da Estrela.


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