São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Plano passa, mas pessimismo persiste

Medida é aprovada na Câmara dos EUA e assinada por Bush; após abrirem em alta, Bolsas fecham o dia em queda

Socorro de US$ 700 bi no mercado financeiro, o maior da história do país, "era claramente necessário", diz o presidente Bush

Charles Dharapak/Associated Press
O presidente Bush assina a nova lei de socorro aos mercados

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Quinze dias depois de o secretário do Tesouro levar ao Congresso dos EUA duas páginas e meia com um plano que dava plenos poderes ao governo para fazer a maior intervenção nos mercados financeiros da história do país, o projeto foi aprovado e virou lei.
Mas, numa medida do pessimismo em relação à economia dos EUA e global, as Bolsas fecharam o dia em queda, embaladas por dados negativos sobre a economia não-financeira.
A versão que o Legislativo mandou de volta à mesa do presidente George W. Bush, que a assinou às 14h48 locais de ontem, tinha 451 páginas e incluía limitações e salvaguardas.
Ainda assim, o principal da foi mantido: nos próximos dias, semanas e meses, e por até dois anos, o titular do Tesouro poderá gastar até US$ 700 bilhões na compra de títulos ligados a empréstimos hipotecários ruins de empresas com dificuldades financeiras, papéis chamados de "podres" ou "tóxicos". Com isso, espera-se, o mercado financeiro será recapitalizado, num efeito dominó que desengessaria a economia.
É o testamento econômico de um governo que tem mais 30 dias de poder de fato e a Guerra do Iraque no currículo. "Sei que alguns americanos estão preocupados com essa lei, especialmente quanto ao papel do governo e o custo total", disse Bush, ao saudar a aprovação. "Como forte apoiador do livre mercado, acredito que intervenção governamental deva ocorrer só quando necessária. Nessa situação, a ação era claramente necessária."
No momento da aprovação da lei pela Câmara dos Deputados, a Bolsa de Nova York subia 200 pontos. Mas, no fim do dia, recuou 1,5%, encerrando sua pior semana desde os ataques de 11 de setembro de 2001.
A queda foi embalada pela divulgação dos números do desemprego, o nono mês seguido de redução de vagas. Esse e outros índices recentes sinalizam que a chamada "economia real" já foi atingida pela crise financeira, o que significa que o plano pode ter saído tarde demais para ter o efeito desejado.
"Isso não é uma panacéia", disse o megainvestidor Warren Buffett. "Não resolve todos os nossos problemas. Só que teria sido um desastre completo se não tivesse passado."
"O pacote vai encerrar o pânico alimentado deliberadamente pelo governo Bush para conseguir passar sua operação-resgate pelo Congresso", disse Dean Baker, do Centro para Pesquisa de Políticas Econômicas. "Fora isso, vai fazer muito pouco para conter a recessão."
A lei foi aprovada por 263 votos a favor, ante 171 contra. Foi o fim de uma novela legislativa, em que líderes dos dois partidos majoritários negociaram ferozmente com suas bases e o governo republicano e foram surpreendidos pelo efeito da reação popular contrária nos votos.


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