São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA têm maior corte no emprego em 5 anos

As 159 mil vagas eliminadas em setembro, o maior número desde março de 2003, são mais um sinal de que o país caminha para recessão

Bush pode ser o segundo presidente em 69 anos a ter dois anos com 1 milhão de vagas eliminadas, o que não ocorria desde Truman

ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO

No mês em que se agravou a crise no mercado financeiro, o mercado de trabalho americano teve o maior corte de empregos em mais de cinco anos, aumentando os temores de que a principal economia mundial entrará em forte recessão. Em setembro, foram eliminados 159 mil postos de trabalho, no corte mais profundo desde março de 2003, quando os EUA ainda enfrentavam os resquícios da recessão mais recente.
Os cortes se espalharam por praticamente todos os setores, sinalizando que a maior parte dos setores da economia norte-americana está sentindo os efeitos da mais grave crise dos últimos anos. Foi o nono mês consecutivo de redução de vagas e a pior seqüência desde 2001, ano da última recessão. A taxa de desemprego permaneceu em 6,1%, a maior desde julho de 2003, em parte porque muitas pessoas desistiram de procurar trabalho.
As reduções mais profundas no mês passado ocorreram na indústria (51 mil) e no varejo (40 mil), mas setores em que os as demissões vinham perdendo ritmo voltaram a se acelerar. A construção, área em que a crise teve início, eliminou 35 mil postos (22 mil a mais do que no mês anterior); as atividades financeiras cortaram 17 mil, ante 5.000 em agosto.
Até o mês passado, foram eliminados 760 mil postos de trabalho neste ano, que pode ser o primeiro desde 2001 a ter mais de 1 milhão de cortes -algo raro, que, em 69 anos, só aconteceu quatro vezes: 1946, 1949, 1982 e 2001. Para que isso aconteça, basta que a média de outubro a dezembro seja igual à dos nove primeiros meses (cerca de 84 mil cortes). A expectativa de analistas é que não ocorram melhoras significativas nesse mercado até o fim do ano.
De 1939 para cá, só o democrata Harry Truman (1945-53) teve dois anos com cortes de pelo menos 1 milhão de vagas, com a economia norte-americana enfrentando dificuldades após a Segunda Guerra, e poderá ter agora a companhia do republicano George W. Bush, cujo mandato começou em janeiro de 2001.
A economia dos Estados Unidos precisa gerar cerca de 100 mil postos de trabalho por mês apenas para atender o ritmo de crescimento da população, mas a última vez que isso ocorreu foi em outubro do ano passado. Desde agosto de 2007, quando teve início a crise, foram eliminadas 364 mil vagas, ou 26 mil, em média, por mês.
Os dados do mercado de trabalho se unem a vários outros divulgados nos últimos dias que apontam a debilidade da principal economia mundial.
As vendas de carros de montadoras, por exemplo, tiveram no mês passado o resultado mais fraco em mais de duas décadas. A comercialização de residências novas está no menor ritmo em 17 anos, e as encomendas da indústria recuaram 4% em agosto, na maior queda desde outubro de 2006.
A primeira estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano do terceiro trimestre será divulgada no final deste mês. No segundo trimestre, a economia dos Estados Unidos se expandiu em 2,8% na taxa anualizada. Nos últimos três meses do ano passado, o PIB se contraiu em 0,2%, o que não ocorria desde o terceiro trimestre de 2001.

Casa Branca
Diferentemente do que ocorreu nos últimos meses, a Casa Branca não afirmou em seu comunicado que a economia americana é resistente e que, em termos gerais, ela caminha para o crescimento. Desta vez, o governo disse que "há uma séria crise financeira" e pediu que o Congresso aprovasse logo o pacote de ajuda aos mercados -a nota foi divulgada antes da votação na Câmara.
"A nossa economia continua a enfrentar sérios desafios. Nesta manhã [de ontem], soubemos que os Estados Unidos perderam mais empregos de novo em setembro -notícias desapontadoras que ressaltam a urgência da lei aprovada pelo Congresso. Vai levar mais tempo e esforço determinado para passarmos por esse período difícil", afirmou Bush, no início da tarde, logo após a votação pelos deputados.


Texto Anterior: Saiba mais
Próximo Texto: Wachovia diz agora que aceita oferta do Wells Fargo, e Citigroup pode bloquear
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.