São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Inadimplência piora cenário para banco menor

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

A flexibilização do depósito compulsório para estimular a compra de carteiras de crédito de bancos pequenos e médios -anunciada ontem pelo Banco Central- responde a um temor do mercado: o de que instituições financeiras voltadas para financiamento do consumo (como compra de carros) e concessão de crédito consignado sofram com a falta de liquidez doméstica e se tornem um ponto de estresse para o sistema financeiro como um todo.
"Foi uma ação preventiva e necessária. São bancos que já manifestavam dificuldades com a falta de liquidez, tanto no mercado de cessão de crédito como no interbancário", diz Luís Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.
As dificuldades cresceram paulatinamente nas últimas semanas. Primeiro, pelo corte das linhas externas para os bancos grandes -que acabam repassando esses recursos para os menores. Sem crédito externo, os "bancões" se voltaram exclusivamente para o mercado interbancário doméstico -encarecendo a captação dos demais.
Em seguida, veio a paralisia da cessão de crédito (quando as instituições negociam entre si papéis lastreados nos empréstimos que concedem). Com isso, os pequenos perderam capacidade de financiamento.
"O mercado interbancário começou a travar, com riscos para os setores produtivos, já que esses bancos menores são muito importantes no financiamento das empresas de porte médio", diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda.

Inadimplência em alta
A piora das condições de captação dos bancos pequenos e médios, voltados para financiamento de automóveis e concessão de crédito com desconto em folha de pagamento, ocorre em um momento de alta dos juros e de elevação da inadimplência de pessoas físicas.
A última pesquisa do Banco Central mostrou que a inadimplência chegou, em agosto, ao nível mais alto desde dezembro de 2006: 7,5%. As taxas mais altas são do cheque especial (9%) e da compra de bens financiados (13,8%). Para Carlos Henrique de Almeida, consultor da Serasa, a tendência é que a inadimplência permaneça em alta: "Esse indicador é muito sensível à elevação dos juros, vivemos um processo semelhante ao de 2001, 2003 e 2005".
Segundo a Serasa, a inadimplência cresceu 6,6% de janeiro a agosto de 2008 -na comparação com o mesmo período de 2007. Almeida destaca que a dívida dos consumidores com bancos chegou, em agosto, ao pico da série histórica: 43,2%. A dívida com cartões de crédito e financeiras é de 32,5%.
Segundo o economista-chefe de Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Rubens Sardenberg, a inadimplência não é uma ameaça, pelo menos neste momento: "A renda cresce, o emprego também. O perigo não está aí e sim na liquidez".
Segundo pesquisa do Ibope Inteligência, realizada com famílias com renda de no máximo três salários mínimos, em nove regiões metropolitanas, cerca de 70% dos entrevistados estão com dívidas e 58% afirmaram que estão mais endividados hoje do que há dois anos.
"Por mais que a participação do setores de menor renda no crédito tenha crescido muito, ainda está distante do potencial alcançado em outros países", afirma o coordenador do estudo, Marcelo Coutinho.


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