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Inadimplência piora cenário para banco menor
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
A flexibilização do depósito
compulsório para estimular a
compra de carteiras de crédito
de bancos pequenos e médios
-anunciada ontem pelo Banco
Central- responde a um temor
do mercado: o de que instituições financeiras voltadas para
financiamento do consumo
(como compra de carros) e concessão de crédito consignado
sofram com a falta de liquidez
doméstica e se tornem um ponto de estresse para o sistema financeiro como um todo.
"Foi uma ação preventiva e
necessária. São bancos que já
manifestavam dificuldades
com a falta de liquidez, tanto no
mercado de cessão de crédito
como no interbancário", diz
Luís Miguel Santacreu, analista
da Austin Rating.
As dificuldades cresceram
paulatinamente nas últimas semanas. Primeiro, pelo corte das
linhas externas para os bancos
grandes -que acabam repassando esses recursos para os
menores. Sem crédito externo,
os "bancões" se voltaram exclusivamente para o mercado interbancário doméstico -encarecendo a captação dos demais.
Em seguida, veio a paralisia
da cessão de crédito (quando as
instituições negociam entre si
papéis lastreados nos empréstimos que concedem). Com isso, os pequenos perderam capacidade de financiamento.
"O mercado interbancário
começou a travar, com riscos
para os setores produtivos, já
que esses bancos menores são
muito importantes no financiamento das empresas de porte médio", diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda.
Inadimplência em alta
A piora das condições de captação dos bancos pequenos e
médios, voltados para financiamento de automóveis e concessão de crédito com desconto
em folha de pagamento, ocorre
em um momento de alta dos juros e de elevação da inadimplência de pessoas físicas.
A última pesquisa do Banco
Central mostrou que a inadimplência chegou, em agosto, ao
nível mais alto desde dezembro
de 2006: 7,5%. As taxas mais altas são do cheque especial (9%)
e da compra de bens financiados (13,8%). Para Carlos Henrique de Almeida, consultor da
Serasa, a tendência é que a inadimplência permaneça em alta:
"Esse indicador é muito sensível à elevação dos juros, vivemos um processo semelhante
ao de 2001, 2003 e 2005".
Segundo a Serasa, a inadimplência cresceu 6,6% de janeiro
a agosto de 2008 -na comparação com o mesmo período de
2007. Almeida destaca que a dívida dos consumidores com
bancos chegou, em agosto, ao
pico da série histórica: 43,2%. A
dívida com cartões de crédito e
financeiras é de 32,5%.
Segundo o economista-chefe
de Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Rubens Sardenberg, a inadimplência não é
uma ameaça, pelo menos neste
momento: "A renda cresce, o
emprego também. O perigo não
está aí e sim na liquidez".
Segundo pesquisa do Ibope
Inteligência, realizada com famílias com renda de no máximo três salários mínimos, em
nove regiões metropolitanas,
cerca de 70% dos entrevistados
estão com dívidas e 58% afirmaram que estão mais endividados hoje do que há dois anos.
"Por mais que a participação
do setores de menor renda no
crédito tenha crescido muito,
ainda está distante do potencial
alcançado em outros países",
afirma o coordenador do estudo, Marcelo Coutinho.
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