São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Reservas cambiais podem virar crédito, diz Mantega

Ministro admite usar parte dos US$ 206 bilhões para financiar os exportadores

Mantega diz que operação pode ter prazo para garantir recomposição das reservas e prevê que dólar não voltará ao patamar de R$ 1,60

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou ontem em São Paulo que as reservas internacionais do país podem virar crédito para financiar o comércio exterior brasileiro. O governo calcula que dois terços dessas linhas tenham secado. Mantega disse que uma das formas de usar parte dos US$ 206 bilhões é o lançamento de operações compromissadas, a partir das quais haja o resgate dos dólares ao final de um período.
De acordo com ele, a forma de viabilizar essa operação pode ser a repetição do modelo de leilão de divisas adotado neste momento pelo Banco Central. "Por exemplo, quando o Banco Central faz um leilão, como o que tem feito agora, faz uma operação compromissada. O BC vende por 30 dias o dólar, e em 30 dias ele precisa ser devolvido. Você mantém dessa forma o mesmo fluxo de reserva", afirmou.
A AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) gostou da medida, mas acha que operações de curto prazo podem não funcionar devido às incertezas sobre o tempo que ainda levará para os bancos voltarem a operar linhas de financiamento às exportações. "É uma ação emergencial. Temos de garantir o fluxo de crédito para o fechamento dos contratos de câmbio. A crise pode afetar as exportações já no início de 2009, então é preciso que o governo se antecipe", afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB.
Mantega afirmou ainda que o governo tem "outras maneiras" para usar as reservas, mas não deu detalhes. "[As operações] podem ser feitas de modo a manter as reservas num patamar, porém dando mais liquidez para as linhas de crédito internacional", disse.
O ministro ressaltou o fato de a moeda brasileira não ser alvo de um ataque especulativo, como em crises passadas. "Em plena crise, em setembro, não perdemos sequer US$ 1 de nossas reservas. Elas estão intactas", comemorou.
Mantega falou a uma platéia de empresários da indústria de bens de capital. Numa palestra de aproximadamente uma hora, o ministro da Fazenda traçou um cenário otimista para a economia brasileira mesmo diante de uma crise que o próprio Mantega descreveu como "gravíssima".
Apesar de admitir que "ninguém é invulnerável", Mantega afirmou que os fundamentos da economia brasileira dão respaldo à afirmação de que o crescimento não será abortado pela crise. O impacto, segundo ele, será muito maior nas economias centrais, "menos dinâmicas" do que a de países em desenvolvimento como Rússia, Índia, China e Brasil, disse.
Ele criticou economistas estrangeiros que sugerem pífio crescimento do país em 2009.
"Só com a inércia do atual crescimento o Brasil vai crescer 2,5%. Isso se não fizermos nada. Então dizer que vamos crescer 1% em 2009 é uma previsão equivocada", disse. O ministro afirmou ainda que "tem se divertido" nas reuniões do FMI, nas quais pode dizer aos países desenvolvidos que o Brasil "fez a sua lição de casa" e que as nações ricas "também devem fazer" as suas.

Câmbio
Para a indústria de bens de capital, que prevê déficit comercial de US$ 12 bilhões neste ano, Mantega disse que o "câmbio mais alinhado e mais compatível" neste momento pode ajudar as empresas exportadoras. O ministro afirmou ainda que o atual patamar da taxa de câmbio não irá retornar aos níveis anteriores de R$ 1,60. "O câmbio não voltará aos patamares do passado", assegurou aos exportadores.


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