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Reservas cambiais podem virar crédito, diz Mantega
Ministro admite usar parte dos US$ 206 bilhões para financiar os exportadores
Mantega diz que operação pode ter prazo para garantir recomposição das reservas e prevê que dólar não voltará ao patamar de R$ 1,60
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou ontem
em São Paulo que as reservas
internacionais do país podem
virar crédito para financiar o
comércio exterior brasileiro. O
governo calcula que dois terços
dessas linhas tenham secado.
Mantega disse que uma das formas de usar parte dos US$ 206
bilhões é o lançamento de operações compromissadas, a partir das quais haja o resgate dos
dólares ao final de um período.
De acordo com ele, a forma
de viabilizar essa operação pode ser a repetição do modelo de
leilão de divisas adotado neste
momento pelo Banco Central.
"Por exemplo, quando o Banco
Central faz um leilão, como o
que tem feito agora, faz uma
operação compromissada. O
BC vende por 30 dias o dólar, e
em 30 dias ele precisa ser devolvido. Você mantém dessa
forma o mesmo fluxo de reserva", afirmou.
A AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) gostou da medida, mas acha que
operações de curto prazo podem não funcionar devido às
incertezas sobre o tempo que
ainda levará para os bancos voltarem a operar linhas de financiamento às exportações. "É
uma ação emergencial. Temos
de garantir o fluxo de crédito
para o fechamento dos contratos de câmbio. A crise pode afetar as exportações já no início
de 2009, então é preciso que o
governo se antecipe", afirma
José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB.
Mantega afirmou ainda que o
governo tem "outras maneiras"
para usar as reservas, mas não
deu detalhes. "[As operações]
podem ser feitas de modo a
manter as reservas num patamar, porém dando mais liquidez para as linhas de crédito internacional", disse.
O ministro ressaltou o fato de
a moeda brasileira não ser alvo
de um ataque especulativo, como em crises passadas. "Em
plena crise, em setembro, não
perdemos sequer US$ 1 de nossas reservas. Elas estão intactas", comemorou.
Mantega falou a uma platéia
de empresários da indústria de
bens de capital. Numa palestra
de aproximadamente uma hora, o ministro da Fazenda traçou um cenário otimista para a
economia brasileira mesmo
diante de uma crise que o próprio Mantega descreveu como
"gravíssima".
Apesar de admitir que "ninguém é invulnerável", Mantega
afirmou que os fundamentos
da economia brasileira dão respaldo à afirmação de que o
crescimento não será abortado
pela crise. O impacto, segundo
ele, será muito maior nas economias centrais, "menos dinâmicas" do que a de países em
desenvolvimento como Rússia,
Índia, China e Brasil, disse.
Ele criticou economistas estrangeiros que sugerem pífio
crescimento do país em 2009.
"Só com a inércia do atual
crescimento o Brasil vai crescer
2,5%. Isso se não fizermos nada. Então dizer que vamos crescer 1% em 2009 é uma previsão
equivocada", disse. O ministro
afirmou ainda que "tem se divertido" nas reuniões do FMI,
nas quais pode dizer aos países
desenvolvidos que o Brasil "fez
a sua lição de casa" e que as nações ricas "também devem fazer" as suas.
Câmbio
Para a indústria de bens de
capital, que prevê déficit comercial de US$ 12 bilhões neste
ano, Mantega disse que o "câmbio mais alinhado e mais compatível" neste momento pode
ajudar as empresas exportadoras. O ministro afirmou ainda
que o atual patamar da taxa de
câmbio não irá retornar aos níveis anteriores de R$ 1,60. "O
câmbio não voltará aos patamares do passado", assegurou
aos exportadores.
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