São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009

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ALBERT FISHLOW

O mundo confuso


Após obter a Olimpíada, uma solução negociada no caso de Honduras dará ao Brasil novos louvores internacionais


UMA VEZ MAIS , pelo menos no intervalo entre as reuniões do G20 e do FMI e Banco Mundial, as questões econômicas internacionais deixaram de ocupar posição central. A política internacional voltou, e com toda a força.
Nesta semana, por exemplo, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU realizaram uma reunião com o Irã. A questão central para eles é determinar se a futura capacidade nuclear iraniana conduzirá a armas nucleares e, em consequência, a conflitos mortíferos em uma região que vem sendo cenário de confrontos militares já há meio século. O Irã, com seus recursos petroleiros, dificilmente precisaria de uma fonte alternativa de energia. A descoberta de uma nova instalação dedicada ao enriquecimento de urânio é nova violação dos requisitos da Agência Internacional de Energia Atômica, e os testes iranianos de mísseis, no começo da semana, só agravaram as tensões.
Como se poderia adivinhar, não surgiram resultados claros da primeira sessão. O progresso bastou para justificar nova reunião ainda neste mês. Existem diferentes avaliações, no grupo, sobre o estágio atingido pelo Irã em seu projeto nuclear: desta vez, os serviços de inteligência dos EUA oferecem avaliação mais conservadora do que os europeus. Também existem questões sobre a solidez do G6. A China, dada sua preocupação quanto ao futuro suprimento de energia, emergiu não só como principal importadora de petróleo iraniano, mas também como fiadora de aquisições futuras.
O Conselho de Segurança da ONU provavelmente só conseguirá aprovar sanções amenas, como já aconteceu no passado. As sanções anteriores não tiveram grandes consequências. Enquanto isso, no Oriente Médio mais amplo, a busca iraniana pelo domínio xiita da região enfrenta a oposição dos sunitas da Arábia Saudita e outros países. Não seria preciso acrescentar que a repetida negação do Holocausto pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e suas ameaças verbais continuadas a Israel tornam provável uma intervenção daquele país.
E esse não é o único assunto que tem posição central nas atenções dos EUA. Também há o problema do Afeganistão e do Paquistão. Os norte-americanos precisam decidir se estão preparados para reforçar acentuadamente suas tropas no Afeganistão, o que significaria retirar soldados do Iraque para conduzi-los a um país próximo. Durante a campanha presidencial, Barack Obama defendeu que o foco deveria ser o Afeganistão. Agora, alguns congressistas democratas estão se rebelando quanto a isso. A opinião pública não apoia o envio de reforços. A decisão terá de ser tomada nos próximos meses e, ao lado da reforma da saúde e do aquecimento global, decidirá as eleições legislativas norte-americanas do ano que vem.
O Brasil, especialmente por estar em busca de assento permanente no Conselho de Segurança, tem interesse nessas questões. Ahmadinejad será recebido em visita oficial ao país no mês que vem, e terá oportunidade de expressar suas opiniões sobre esses temas. O Brasil também tem papel importante na crise de Honduras, talvez até mais importante do que o pretendido, dada a presença do presidente deposto, Manuel Zelaya, em sua embaixada. Um resultado pacífico é essencial nesse caso. Depois da vitória conquistada com a escolha do Rio de Janeiro como sede da primeira Olimpíada a ser realizada na América do Sul, em 2016, agora há uma oportunidade de conquistar novos louvores internacionais, por meio de uma solução negociada daquela disputa.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

ALBERT FISHLOW, 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna. afishlow@uol.com.br


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