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China amplia comércio com a AL e compete com o Brasil
Potência asiática já está entre principais parceiros das maiores economias da região
Para Antonio Barros de Castro, do BNDES, sede chinesa por commodities e avanço tecnológico recente
mudam a economia global
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de anúncios bilionários de investimentos, boa parte deles ainda não concretizada, é através do comércio que a
China aumenta sua penetração
na América Latina.
Além de ter se tornado neste
ano o maior sócio individual do
Brasil, posto antes ocupado pelos EUA, desde 2000 a China
subiu degraus para ficar entre
os cinco primeiros parceiros
comerciais de países como Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Colômbia e México, segundo
dados que a Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina) acaba de compilar.
É a quarta onda da expansão
comercial chinesa, que começou nos anos 80 na própria
Ásia, varreu os EUA, atingiu a
África e só agora bate com força
na América Latina.
Ela chega quando os chineses
buscam fornecedores alternativos de energia, minérios e comida, ao mesmo tempo em que
os produtos que exportam estão muito mais sofisticados do
que o trio camisetas-sapatos-bugigangas de há duas décadas.
Por isso, enquanto as importações chinesas de soja e ferro
são um alívio para a balança comercial brasileira, os manufaturados chineses ameaçam tomar o espaço do Brasil na vizinhança latino-americana, que
compra cerca de 20% das exportações nacionais, 88% em
bens industrializados.
O fenômeno já começa a ser
detectado na Argentina e deve
crescer com a entrada em vigor,
no próximo ano, do Tratado de
Livre Comércio entre China e
Peru. Diferentemente do TLC
de 2005 com o Chile, restrito a
bens, o acordo com o Peru inclui serviços -como obras públicas-, hoje plataformas de
exportação para a indústria
brasileira.
"O grande risco da China é a
disputa por terceiros mercados. O Brasil sofre e vai sofrer a
concorrência cada vez maior de
produtos chineses em seus
mercados tradicionais", diz
Welber Barral, secretário de
Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento.
"Dragõezinhos"
Os números têm de ser olhados com cuidado: os chineses
estão longe de dominar o mercado latino-americano. Os
EUA ainda são o maior parceiro
da região (37% do fluxo total),
até em função de acordos de livre comércio antigos com México, Chile, países centro-americanos e caribenhos.
Mas a vantagem chinesa é a
constância do crescimento de
suas trocas com a América Latina, ressalta Mikio Kuwayama,
da Divisão de Comércio Internacional da Cepal. Elas foram
as menos abaladas pela crise e
passaram, nos últimos quatro
anos, de 4% para 10% do total.
Além dos dados conjunturais, porém, o movimento de
fundo é a entrada do Brasil e de
seus vizinhos, já como "retardatários", no "sistema mundial
sinocêntrico", diz Antonio Barros de Castro, assessor da presidência do BNDES.
Barros de Castro prepara para o governo Lula um estudo
sobre as perspectivas da economia brasileira, que incluirá o
pré-sal e o fator China. Ele
compara o impacto da ascensão
chinesa à ruptura ocorrida
quando os Estados Unidos
substituíram a Inglaterra como
centro capitalista do planeta.
Se a metrópole britânica
comprava matérias-primas e
vendia manufaturas, os EUA,
com abundantes recursos naturais, acabaram provocando a
queda dos preços de produtos
agrícolas e combustíveis. Na
América Latina, a resposta a isso foi a industrialização pela
substituição de importações.
Agora, com a China importando commodities, os latino-americanos têm de se readaptar para não andar para trás.
Para países industrializados,
como o Brasil, o desafio é ainda
maior por causa do que Barros
de Castro chama de "dragõezinhos", a nova geração de empresas chinesas que combinam
alta tecnologia com processos
de produção tayloristas, devido
à pressão por emprego do 1,4
bilhão de chineses.
O economista dá o exemplo
da BYD, que começou numa velha fábrica de automóveis de
Cantão, tomou o mercado japonês de baterias de lítio e está fazendo carros elétricos. Originalmente acrônimo de Buy
Your Dollar (compre seu dólar), a BYD agora convida o
consumidor a Buy Your
Dreams (compre seus sonhos).
"É o tecnobrega explodindo."
É essa virada tecnológica à
chinesa, com produção em
grande escala e câmbio controlado, que preocupa José Augusto de Castro, vice-presidente da
AEB (Associação de Comércio
Exterior do Brasil): "Enquanto
a balança comercial tiver su-
peravit, todo mundo diz que vai
tudo bem, mas pouco a pouco a
China ocupa espaços".
Colaborou SILVANA ARANTES, de Buenos Aires
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