São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009

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Investimentos diretos na região ainda são pequenos

DA SUCURSAL DO RIO

Por qualquer medida que se tome, os investimentos diretos chineses na América Latina ainda são pequenos. Para o objetivo de garantir seu abastecimento em matérias-primas da região, a China tem preferido associar-se a empresas locais ou oferecer empréstimos, como os US$ 10 bilhões recém-acordados com a Petrobras em troca de petróleo.
Esse dinheiro é quatro vezes maior do que a soma de todas as aquisições feitas por empresas chinesas na América Latina nos últimos seis anos.
Um levantamento da Cepal mostra que, desde 2003, firmas da China fizeram 36 ofertas de compra na região. Dessas, 14 foram concluídas, incluindo a venda de 7 pesqueiras e 3 pequenos empreendimentos petrolíferos. O valor somou US$ 2,53 bilhões, o que equivale a 5% dos US$ 52,2 bilhões que a China investiu diretamente só no ano passado. O desembolso, recorde para o país asiático, é parcela pequena (2,8%) do total global de aportes.
O economista Álvaro Calderón, da Cepal, diz que há uma "dissonância cognitiva" porque as pessoas imaginam transações muito maiores da China na América Latina. "Há muita prospecção, mas os negócios realizados são poucos."
Calderón alerta para a fragilidade das estatísticas no setor. Pelos números chineses, cerca de 20% do investido no exterior viria para a região, mas 90% desses são destinados às Ilhas Virgens e ilhas Cayman, paraísos fiscais de onde podem seguir para qualquer lugar.
Os especialistas coincidem em que cerca de 70% do que a China investe no exterior ainda vão para a própria Ásia, onde suas empresas se beneficiam da diáspora chinesa e da estrutura produtiva já integrada.
Ao contrário do seu modo de atuação na África -onde a infraestrutura é mais precária e as exigências ambientais e de uso de mão de obra e bens locais são menores-, na América Latina a China tem evitado o controle direto de operações.
Os investimentos são maiores nos países do Pacífico, como Chile e Peru. Há presença na Venezuela, em associação com a estatal PDVSA, mas os valores são imprecisos -o anúncio de que a China investirá US$ 16 bilhões na faixa petrolífera do Orinoco não especifica empresa chinesa nem período de desembolso.
Há pouco investimento em indústria. Quando existe, se assemelha ao esquema das maquiladoras americanas no México. É o caso da produção, no Uruguai, do utilitário Tiggo, da montadora Chery, mais barato do que congêneres americanos e japoneses. "No momento, o que os chineses querem é gerar demanda para produtos e mão de obra chinesa", diz Erasto Almeida, da consultoria americana Eurasia Group.
Isso explica a operação que colocou à disposição da Argentina 70 bilhões de yuans (US$ 10 bilhões) para que o país pague contas comerciais na moeda chinesa. Já o interesse da petrolífera CNPC em 75% da YPF, unidade argentina da Repsol, não foi confirmado.
No Brasil, projeto da Vale e da Shanghai Baosteel para a construção de siderúrgica no Espírito Santo foi cancelado.
Embora os investimentos diretos chineses registrados pelo BC venham aumentando neste ano (US$ 66 milhões até abril), eles são baixos se comparados aos da Alemanha (US$ 1,9 bilhão) ou dos Estados Unidos (US$ 1,2 bilhão). (CA)


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