|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Investimentos diretos na região ainda são pequenos
DA SUCURSAL DO RIO
Por qualquer medida que se
tome, os investimentos diretos
chineses na América Latina
ainda são pequenos. Para o objetivo de garantir seu abastecimento em matérias-primas da
região, a China tem preferido
associar-se a empresas locais
ou oferecer empréstimos, como os US$ 10 bilhões recém-acordados com a Petrobras em
troca de petróleo.
Esse dinheiro é quatro vezes
maior do que a soma de todas as
aquisições feitas por empresas
chinesas na América Latina nos
últimos seis anos.
Um levantamento da Cepal
mostra que, desde 2003, firmas
da China fizeram 36 ofertas de
compra na região. Dessas, 14 foram concluídas, incluindo a
venda de 7 pesqueiras e 3 pequenos empreendimentos petrolíferos. O valor somou US$
2,53 bilhões, o que equivale a
5% dos US$ 52,2 bilhões que a
China investiu diretamente só
no ano passado. O desembolso,
recorde para o país asiático, é
parcela pequena (2,8%) do total global de aportes.
O economista Álvaro Calderón, da Cepal, diz que há uma
"dissonância cognitiva" porque
as pessoas imaginam transações muito maiores da China
na América Latina. "Há muita
prospecção, mas os negócios
realizados são poucos."
Calderón alerta para a fragilidade das estatísticas no setor.
Pelos números chineses, cerca
de 20% do investido no exterior viria para a região, mas
90% desses são destinados às
Ilhas Virgens e ilhas Cayman,
paraísos fiscais de onde podem
seguir para qualquer lugar.
Os especialistas coincidem
em que cerca de 70% do que a
China investe no exterior ainda
vão para a própria Ásia, onde
suas empresas se beneficiam da
diáspora chinesa e da estrutura
produtiva já integrada.
Ao contrário do seu modo de
atuação na África -onde a infraestrutura é mais precária e
as exigências ambientais e de
uso de mão de obra e bens locais são menores-, na América
Latina a China tem evitado o
controle direto de operações.
Os investimentos são maiores nos países do Pacífico, como
Chile e Peru. Há presença na
Venezuela, em associação com
a estatal PDVSA, mas os valores
são imprecisos -o anúncio de
que a China investirá US$ 16 bilhões na faixa petrolífera do
Orinoco não especifica empresa chinesa nem período de desembolso.
Há pouco investimento em
indústria. Quando existe, se assemelha ao esquema das maquiladoras americanas no México. É o caso da produção, no
Uruguai, do utilitário Tiggo, da
montadora Chery, mais barato
do que congêneres americanos
e japoneses. "No momento, o
que os chineses querem é gerar
demanda para produtos e mão
de obra chinesa", diz Erasto Almeida, da consultoria americana Eurasia Group.
Isso explica a operação que
colocou à disposição da Argentina 70 bilhões de yuans (US$
10 bilhões) para que o país pague contas comerciais na moeda chinesa. Já o interesse da petrolífera CNPC em 75% da
YPF, unidade argentina da
Repsol, não foi confirmado.
No Brasil, projeto da Vale e
da Shanghai Baosteel para a
construção de siderúrgica no
Espírito Santo foi cancelado.
Embora os investimentos diretos chineses registrados pelo
BC venham aumentando neste
ano (US$ 66 milhões até abril),
eles são baixos se comparados
aos da Alemanha (US$ 1,9 bilhão) ou dos Estados Unidos
(US$ 1,2 bilhão).
(CA)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Especialistas divergem sobre alcance de perdas Índice
|