São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2000

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Machinea descarta usar moratória

France Presse
O ex-ministro da Economia Domingo Cavallo (esq.) cumprimenta o atual, José Luis Machinea (dir.)


JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES

Depois de uma semana sem tropeços políticos que pudessem agravar a situação econômica do país, o ex-presidente Raúl Alfonsín acabou se tornando o pivô de mais um abalo na Argentina.
Numa entrevista, anteontem, Alfonsín, que esteve na Presidência entre 1983 e 1989, sugeriu que a Argentina assumisse uma moratória externa por dois anos. Nesse período, segundo ele, ""poderíamos aplicar o dinheiro para resolver problemas mais sérios e depois honrar as obrigações".
Ontem, mereceu críticas do ministro da Economia, José Luis Machinea, e até de Rudiger Dornbusch, professor de Economia do Massachusetts Institut of Technology (MIT), em um seminário promovido em Buenos Aires. A reação do mercado tampouco foi boa. O índice Merval, que mede a variação dos principais títulos negociados na Bolsa de Buenos Aires, recuou 2,04%.
""Admiro muito o senhor Alfonsín por todo o seu trabalho para manter a Aliança (coalizão governista). Não quero ser desrespeitoso com ele, mas seus comentários foram desafortunados", afirmou Machinea.
""Alfonsín deveria fechar a boca", disse, seco, Dornbusch.
Em 2001, a Argentina precisará financiar US$ 19,5 bilhões para saldar seus débitos. Se fosse levada adiante, a proposta de Alfonsín significaria o não-pagamento de US$ 20 bilhões em compromissos que o país tem com credores estrangeiros em 2001. Nos três primeiros meses do ano, só em amortizações de dívida (nos mercados interno e externo) o país desembolsará US$ 5,1 bilhões.
""A dívida é uma obrigação, não uma opção. A Argentina, como qualquer país, precisa sair aos mercados internacionais. Não podemos adotar uma moratória. Não vai mais haver discussões sobre isso", afirmou Machinea.
Não é a primeira vez que Alfonsín, que lidera a UCR, um dos braços políticos que elegeu o presidente Fernando de la Rúa, causa abalos no país com suas declarações. Dez dias atrás, ajudou a derrubar a Bolsa e afastou investidores externos ao afirmar que o câmbio fixo (paridade de 1 peso para US$ 1) era uma das duas maiores catástrofes do país no século -a outra fora o longínquo golpe militar de 1930.
Alfonsín tentou atenuar o estrago de suas declarações. Num programa de TV, afirmou que a possibilidade de deixar de pagar a dívida era somente um ""desejo". De la Rúa não falou sobre o caso.


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