São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2000

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DIPLOMACIA
Negociação pode ocorrer sem "fast-track"
Itamaraty pode aceitar "condições inaceitáveis" para estar na Alca

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Itamaraty admite que poderá ter de se curvar à supremacia norte-americana e se submeter a condições de negociações para a Alca (Associação de Livre Comércio das Américas) que, atualmente, considera inaceitáveis.
Segundo apurou a Folha, diplomatas brasileiros trabalham com a hipótese de ter de se sentar à mesa com os EUA para discutir a zona de livre comércio sem o "fast-track".
O "fast-track" é um instrumento legislativo por meio do qual o presidente dos EUA pode acertar acordos de livre comércio sem se submeter a negociações pontuais com o Congresso. Ou seja, os parlamentares podem aprovar ou rejeitar em bloco o acordo, sem alterá-lo. Isso facilita sua aprovação.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Felipe Lampreia, nos últimos anos vem reafirmando que as negociações para a criação de uma área de livre comércio no continente americano não podem ser levadas a sério sem que o presidente dos EUA tenha o "fast-track".
Se um acordo for fechado entre o Brasil e os EUA sem o "fast-track", será preciso duas negociações: uma com o Executivo norte-americano e outra com o Congresso. Os parlamentares do vizinho do norte teriam poder para modificar e emendar o texto original do acordo. Caso os parceiros comerciais não concordem com as emendas, os termos do acordo poderiam ser revistos.
O Itamaraty avalia que o candidato republicano à Presidência dos EUA, George W. Bush, teria mais chances de conseguir um "fast-track" do que o democrata, Al Gore. As eleições acontecem na próxima semana.
O próximo presidente, com ou sem mandato negociador, irá acelerar as negociações da Alca, afirmam os diplomatas brasileiros. O Brasil terá de embarcar nesse processo ou corre o risco de ficar isolado na própria América Latina.
A América Central toda toparia negociar com os EUA. O Chile, o Uruguai e a Colômbia já manifestaram seu interesse na parceria com a superpotência. Na opinião da diplomacia brasileira, a Argentina e o Paraguai também desejam essas negociações. Se o Brasil não aceitar negociar nessas condições, ficaria isolado com Cuba e Venezuela -únicos países da região que ainda alimentam um fervor anti-norte-americano.
Correria o risco também de perder suas preferências tarifárias na América do Sul sem ganhar nada em contrapartida.
Se a Alca for adiante, os EUA passariam a ter acesso a esses mercados de forma parecida com a brasileira. O Brasil perderia essa vantagem sem conseguir nada em troca no mercado dos EUA.
Como o Itamaraty cada vez mais considera inevitável uma negociação da Alca, a idéia é tentar ver quais são as vantagens que o país conseguiria com o projeto. Os diplomatas brasileiros dizem que, se o país conseguir incluir a abertura do mercado agrícola dos EUA no acordo, seria vantajoso ter a área de livre comércio.


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