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DIPLOMACIA
Negociação pode ocorrer sem "fast-track"
Itamaraty pode aceitar "condições inaceitáveis" para estar na Alca
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Itamaraty admite que poderá
ter de se curvar à supremacia norte-americana e se submeter a condições de negociações para a Alca
(Associação de Livre Comércio
das Américas) que, atualmente,
considera inaceitáveis.
Segundo apurou a Folha, diplomatas brasileiros trabalham com
a hipótese de ter de se sentar à mesa com os EUA para discutir a zona de livre comércio sem o "fast-track".
O "fast-track" é um instrumento legislativo por meio do qual o
presidente dos EUA pode acertar
acordos de livre comércio sem se
submeter a negociações pontuais
com o Congresso. Ou seja, os parlamentares podem aprovar ou rejeitar em bloco o acordo, sem alterá-lo. Isso facilita sua aprovação.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Felipe Lampreia, nos últimos anos vem reafirmando que as negociações para
a criação de uma área de livre comércio no continente americano
não podem ser levadas a sério
sem que o presidente dos EUA tenha o "fast-track".
Se um acordo for fechado entre
o Brasil e os EUA sem o "fast-track", será preciso duas negociações: uma com o Executivo norte-americano e outra com o Congresso. Os parlamentares do vizinho do norte teriam poder para
modificar e emendar o texto original do acordo. Caso os parceiros
comerciais não concordem com
as emendas, os termos do acordo
poderiam ser revistos.
O Itamaraty avalia que o candidato republicano à Presidência
dos EUA, George W. Bush, teria
mais chances de conseguir um
"fast-track" do que o democrata,
Al Gore. As eleições acontecem na
próxima semana.
O próximo presidente, com ou
sem mandato negociador, irá acelerar as negociações da Alca, afirmam os diplomatas brasileiros. O
Brasil terá de embarcar nesse processo ou corre o risco de ficar isolado na própria América Latina.
A América Central toda toparia
negociar com os EUA. O Chile, o
Uruguai e a Colômbia já manifestaram seu interesse na parceria
com a superpotência. Na opinião
da diplomacia brasileira, a Argentina e o Paraguai também desejam essas negociações. Se o Brasil
não aceitar negociar nessas condições, ficaria isolado com Cuba e
Venezuela -únicos países da região que ainda alimentam um fervor anti-norte-americano.
Correria o risco também de perder suas preferências tarifárias na
América do Sul sem ganhar nada
em contrapartida.
Se a Alca for adiante, os EUA
passariam a ter acesso a esses
mercados de forma parecida com
a brasileira. O Brasil perderia essa
vantagem sem conseguir nada em
troca no mercado dos EUA.
Como o Itamaraty cada vez
mais considera inevitável uma
negociação da Alca, a idéia é tentar ver quais são as vantagens que
o país conseguiria com o projeto.
Os diplomatas brasileiros dizem
que, se o país conseguir incluir a
abertura do mercado agrícola dos
EUA no acordo, seria vantajoso
ter a área de livre comércio.
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