São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2000

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LEILÃO
Venda está marcada para dia 20
BC prepara estratégia para leilão do Banespa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central está montando uma estratégia para evitar que ações judiciais emperrem a venda do Banespa durante a reta final para a realização do leilão, marcado para o próximo dia 20.
O diretor de Finanças Públicas do BC, Carlos Eduardo de Freitas, disse que o governo já está se preparando para contestar uma possível ação judicial a ser movida pelo procurador da República em Brasília Luiz Francisco de Souza.
Freitas acusou o procurador de ter vazado informações contidas no laudo de avaliação do Banespa para, em seguida, tentar paralisar o leilão com base em uma suposta irregularidade apontada pela imprensa.
"Em geral, ele usa esse expediente. Vaza o material e, com base nas reportagens, entra com ações judiciais", afirmou. A revista "Carta Capital" publica reportagem nesta semana, baseado em estudo de economistas da Unicamp e do Dieese que questiona a avaliação do Banespa.
"Estamos tomando medidas cautelares para responder a ações judiciais com base nessa reportagem", disse o diretor do BC. A Folha tentou falar com o procurador Luiz Francisco, mas não conseguiu localizá-lo.
Freitas disse que os advogados do BC e da União estão se preparando para questionar possíveis decisões judiciais em processos sobre o Banespa que correm na 15ª Vara Federal em São Paulo.
"Poderemos ter alguma decisão nessa vara às vésperas do leilão. Já estamos nos preparando para, se for o caso, recorrer", afirmou.

Lucros
Ontem, o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, João Vaccari, criticou a decisão do BC de conceder ao futuro controlador do Banespa o direito aos lucros apurados em 2000.
"Nós estamos denunciando que o preço mínimo do leilão é baixo há muito tempo. Dar os lucros para o novo controlador é o mesmo que subavaliar ainda mais o patrimônio do banco."
Segundo Vaccari, técnicos do Sindicato devem analisar o material publicado pela revista "Carta Capital". "Na segunda-feira teremos uma avaliação melhor sobre os problemas apontados pela revista", disse.
Os lucros (ou prejuízos) dos bancos privatizados nos últimos anos ficaram para os novos controladores. A novidade no caso do Banespa talvez seja o fato de ser a primeira instituição pública a ser vendida que dará um bom lucro no período anterior ao leilão.
Segundo o Sindicato dos Bancários de São Paulo, o Banerj, vendido ao Itaú em junho de 97, apresentou lucro de R$ 4,93 milhões no primeiro semestre daquele ano. O Baneb, comprado pelo Bradesco em julho do ano passado, registrou resultado positivo de R$ 6,142 milhões nos primeiros seis meses de 99.
O Banestado, vendido no mês passado para o Itaú, deu lucro no primeiro semestre de R$ 20,5 milhões.
Até setembro, o Banespa já acumulou lucro de R$ 749,467 milhões.
Os analistas avaliam, no entanto, que isso não significará perda para o governo. A previsão de lucro foi incluída na avaliação do preço da instituição. No edital de venda, as consultorias que fizeram o cálculo do preço mínimo do banco utilizaram o método do fluxo de caixa descontado.
A conta é feita da seguinte forma: projeta-se quais serão os resultados do banco em um determinado período e calcula-se quanto isso valerá hoje. No caso do Banespa, o período estimado foi de dez anos, com a data de início em 31 de dezembro de 99. Ou seja, os resultados de 2000 foram incluídos.
Para Bruno Zaremba, analista do Pactual, o lucro a receber será considerado pelos nove bancos que estão na disputa na hora de fazer a oferta de compra. Ele acredita que o leilão será bastante disputado e que, por isso, seria como se o lucro fosse "incorporado" ao preço mínimo na hora de os concorrentes avaliaram o quanto de ágio pagarão.
Os funcionários do Banespa decidiram ontem continuar a greve iniciada na última terça-feira. Segundo o Sindicato dos Bancários, mais de 90% das agências estão paralisadas. A direção do Banespa não divulgou uma avaliação da extensão da greve ontem.
Os sindicalistas garantiram que os clientes do banco que recebem seus salários na próxima semana não terão problemas.
O sindicato comprometeu-se, segundo Vaccari, a garantir que os funcionários responsáveis pelo setor de compensação cuidem para que não haja problemas com o crédito dos salários.


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