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OPINIÃO ECONÔMICA
O risco de "desbrasileirar"
BENJAMIN STEINBRUCH
Empresas nacionais fortes,
que pudessem atuar globalmente, seriam pontas-de-lança
da economia brasileira. Há anos
bato insistentemente nessa tecla.
Em alguns setores estratégicos,
que empregam muitas pessoas,
como siderurgia, papel e celulose,
têxtil, calçados e agrobusiness,
quanto maiores forem as empresas, melhor para o país. E o ideal
seria que elas estivessem estruturadas no exterior, produzindo na
Europa, nos Estados Unidos e na
Ásia.
Infelizmente, não temos nenhuma empresa brasileira nessas
condições. Nem mesmo a Petrobras.
É um belo sonho a criação de
uma grande companhia siderúrgica verde-amarela, suficientemente robusta para competir lá
fora com os gigantes do aço e, ao
mesmo tempo, impedir o avanço
do capital estrangeiro no setor.
Mas é honesto admitir que não é
fácil realizá-lo. Em primeiro lugar, o governo precisaria tomar
uma firme decisão de apoiar essa
empreitada, que pudesse levar os
vários protagonistas do plano a
atuar com determinação e coragem.
O principal entrave é o elevado
custo de capital existente no país.
Por causa disso, as siderúrgicas
brasileiras, quase sem exceção, estão desestimuladas para investir
e também precisam de tempo para diluir suas dívidas.
A despeito disso, a siderurgia
brasileira é hoje competitiva internacionalmente, porque acreditou no país e investiu bastante a
partir das privatizações na modernização das usinas, ampliação
de capacidade instalada e inovação tecnológica. Só de 1994 a 1998,
as empresas investiram o equivalente a US$ 7,2 bilhões. E os investimentos continuaram nos anos
seguintes, a despeito das turbulências internas e externas. Além
disso, o país tem outras vantagens: abundância da principal
matéria-prima setorial, o minério
de ferro, e excelente localização
das usinas, o que propicia uma
invejável logística.
Por conta dessas vantagens, o
custo de produção de aço no Brasil, de aproximadamente US$ 145
por tonelada, é um dos mais baixos do mundo. Em países da Europa e nos Estados Unidos, esse
custo atinge até US$ 300.
Embora as siderúrgicas brasileiras sejam eficientes, a dificuldade
de consolidação persiste porque
as empresas têm características
muito diferentes em vários aspectos: nos controles societários, nas
condições de crédito e nos objetivos de médio e longo prazo. Cada
uma a sua maneira começa a
apresentar bons resultados.
Independentemente de estarem
juntas ou separadas, as empresas
do setor siderúrgico brasileiro
precisam crescer e manter suas
vantagens competitivas. É um erro estrutural facilitar a instalação
de companhias estrangeiras em
nosso mercado em condições diferenciadas de custo de capital e
prazo de carência de financiamento, além da vantagem de poderem contar com múltiplos resultados por conta de suas diferentes operações em várias regiões do mundo, o que as torna
pouco vulneráveis às instabilidades brasileiras.
É uma atitude pouco inteligente
"desbrasileirar" em troca de nada
setores competitivos que podem
gerar empregos, renda e desenvolvimento. É descabido o BNDES financiar investimentos estrangeiros, limitando ainda mais o já
restrito capital brasileiro. A fonte
interna de financiamento oficial
para esses grandes grupos estrangeiros precisa secar. As grandes
empresas brasileiras têm tido sucesso na captação de recursos no
exterior. Se elas podem buscar esses recursos lá fora para investir
no país, muito mais condições
têm as companhias de capital estrangeiro.
O financiamento nacional deve
ser reservado a empresas pequenas e médias, que não conseguem
acesso ao mercado externo. A estas é preciso oferecer crédito nacional nas mesmas condições que
as concorrentes têm lá fora.
Sem dúvida, o caminho do emprego, do crescimento, do desenvolvimento e da internacionalização de nosso país passa por aí.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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