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LUÍS NASSIF
Administrando a crise
Um ponto comum em todos os governadores que
assumiram mandato foi a situação crítica das finanças estaduais -em alguns casos, devido à crise econômica deste
ano, em outros, devido a sucessivas "heranças malditas".
Provavelmente nenhuma herança foi mais pesada que a recebida pelo governador mineiro, Aécio Neves, de seu antecessor, Itamar Franco. Só a lealdade política e a esperteza mineira para explicar o silêncio
do governador com o que recebeu -déficit orçamentário de
R$ 2,4 bilhões (em um Orçamento de R$ 20 bilhões) e dívidas acumuladas de R$ 5 bilhões.
A estratégia adotada pelo Estado traz algumas lições sobre
como administrar crises. A
perspectiva de caos fez a Assembléia Legislativa dotar o
governador de instrumentos
necessários para debelar a crise. Aécio promulgou 62 leis delegadas para apagar o incêndio. As leis permitiram uma redução de até 20% na folha, em
cima do Orçamento de 2002.
Ao todo, a economia do primeiro ano chegou a R$ 800 milhões -não foi maior por conta da frustração de receita com
a crise econômica. A previsão é
atingir o equilíbrio orçamentário em dois anos.
O passo seguinte foi dar um
corte nas dívidas. O passado se
renegocia. Daqui para a frente,
se paga tudo em dia.
À medida que os recursos vão
sobrando, a Secretaria da Fazenda instituiu um leilão reverso de dívida. Em determinado dia, o governo anuncia a
disponibilidade de recursos até
um determinado valor. No dia
marcado ocorre o leilão pela
internet, pelo qual ganha o credor que conceder o maior deságio, respeitado o mínimo de
20%. Para maior garantia, o
dinheiro já está depositado no
BDMG e é disponibilizado assim que sai o resultado do leilão.
Sem recursos próprios, o Estado aproveitou a boa estrutura de instituições existentes na
área de planejamento e gestão
para articular ações conjuntas.
Do governo, existem o Indi e a
Fundação João Pinheiro; na
área de gestão, a Fundação
Dom Cabral e o Instituto de
Desenvolvimento Gerencial; no
setor empresarial, a Fiemg e o
Sebrae; na parte municipal, associações de pequenos e médios
municípios.
Em cima dessas parcerias,
montou-se o planejamento estratégico, com 30 ações tocadas
por gerentes em nível de primeiro e segundo escalão das secretarias -fugindo a dois
equívocos do PPA do governo
Fernando Henrique Cardoso, o
número excessivo de programas e gerentes sem nível hierárquico.
O passo seguinte foi buscar
recursos externos. Reataram-se
contatos com instituições multilaterais, envenenados depois
da moratória inútil de Itamar,
em 1999.
Finalmente, está-se em fase
final para a aprovação da Parceria Público-Privada no Estado. Uma saída criativa foi com
o setor sucroalcooleiro no
triângulo. Foi feito um acordo
pelo qual eles financiariam o
asfaltamento de 300 quilômetros de estradas na região. Depois, receberão de bônus 40%
do acréscimo do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) proveniente
da melhoria das condições econômicas para o setor.
Aécio Neves parece ter claros
dois pontos: o jogo político,
agora, vai se dar no campo da
gestão e da qualidade. Os resultados se conferem mais
adiante. Mas o caminho é esse.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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