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Ex-banqueiro critica BC por processo de liquidação
DA REPORTAGEM LOCAL
O custo para o Estado de estender a liquidação do Banco
Econômico é de R$ 400 milhões por ano e permitirá aos
controladores da instituição ficarem, dentro de um ou dois
anos, "muito mais que ricos". A
afirmação é do ex-banqueiro
baiano Ângelo Calmon de Sá.
Em entrevista por telefone
concedida ontem à Folha, ele
afirmou que "o Banco Central
age de forma irresponsável"
quanto à liquidação e defendeu
um acordo rápido com o governo. Procurado, o Banco Central
preferiu não se manifestar sobre o assunto.
A seguir, leia trechos da entrevista:
(JANAÍNA LEITE)
FOLHA - O senhor teve mesmo os
bens liberados pelo Ministério Público?
ÂNGELO CALMON DE SÁ - Primeiro
devo dizer que, para nossa surpresa, a procuradora [que solicitou o desbloqueio] é a mesma
que pediu o arresto dos bens
dos controladores e entrou
com a ação de responsabilidade
contra nós. Essa mulher nos
tratou na paulada nestes dez
anos. Mas ela percebeu que o
Banco Central estava procrastinando a solução e usou a lei.
FOLHA - Isso interfere em algo na
liquidação do Econômico?
CALMON DE SÁ - Por enquanto,
não. A carteira da massa falida
continua a mesma. Mas a decisão evidencia que o Banco Central está usando de demora [para levantar a liquidação], que
está desrespeitando as leis e
procrastinando o impasse baseado em argumentos que não
têm amparo legal.
FOLHA - Como fica a questão da
correção da dívida do Econômico
com o Banco Central?
CALMON DE SÁ - O Ministério
Público disse que "o Banco
Central não pode mais mudar o
valor de seu crédito". Eles viram que o quadro de credores
foi feito pelo próprio Banco
Central, que também fixou o
valor da dívida e do crédito
também foi o Banco Central.
Ora, então não é correto mudar
as regras depois. Há decisão em
segunda instância por unanimidade no Tribunal de Recife,
dizendo que o BC não pode cobrar mais que a TR nas liquidações enquanto durar a liquidação. O BC inventou essa história de que a lei que se aplicava
era a de Falências, não a de Liquidações. Assim, tinham direito a receber as garantias.
Mas se esqueceram de uma lei
mais nova, a 8.177.
FOLHA - O sr. continuará tentando
um acordo?
CALMON DE SÁ - Quem acabará
resolvendo é a Justiça. O Econômico deve uns R$ 5 bilhões e
tanto ao Banco Central, dos
quais temos livres no caixa, excetuando o dinheiro do fisco e o
reservado para dívidas trabalhistas, mais ou menos uns R$ 3
bilhões. Nossa proposta é entregar isso e parte das NTN (papéis cambiais). Quanto mais
eles demorarem, mais papel sobrará para nós, porque o Tesouro Nacional paga ao Econômico US$ 196 milhões por ano
de juros. Isso dá uns R$ 400 milhões. O Banco Central está
agindo de forma irresponsável.
FOLHA - Se o sr. vai ganhar todo esse dinheiro, por que quer fazer o
acordo?
CALMON DE SÁ - Com o fim da liquidação e um trabalho de quatro, cinco anos, nós poderemos
conseguir um bom patrimônio,
talvez o equivalente ao que era
o patrimônio do banco.
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