São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2006

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Ex-banqueiro critica BC por processo de liquidação

DA REPORTAGEM LOCAL

O custo para o Estado de estender a liquidação do Banco Econômico é de R$ 400 milhões por ano e permitirá aos controladores da instituição ficarem, dentro de um ou dois anos, "muito mais que ricos". A afirmação é do ex-banqueiro baiano Ângelo Calmon de Sá. Em entrevista por telefone concedida ontem à Folha, ele afirmou que "o Banco Central age de forma irresponsável" quanto à liquidação e defendeu um acordo rápido com o governo. Procurado, o Banco Central preferiu não se manifestar sobre o assunto. A seguir, leia trechos da entrevista: (JANAÍNA LEITE)

 

FOLHA - O senhor teve mesmo os bens liberados pelo Ministério Público?
ÂNGELO CALMON DE SÁ
- Primeiro devo dizer que, para nossa surpresa, a procuradora [que solicitou o desbloqueio] é a mesma que pediu o arresto dos bens dos controladores e entrou com a ação de responsabilidade contra nós. Essa mulher nos tratou na paulada nestes dez anos. Mas ela percebeu que o Banco Central estava procrastinando a solução e usou a lei.

FOLHA - Isso interfere em algo na liquidação do Econômico?
CALMON DE SÁ
- Por enquanto, não. A carteira da massa falida continua a mesma. Mas a decisão evidencia que o Banco Central está usando de demora [para levantar a liquidação], que está desrespeitando as leis e procrastinando o impasse baseado em argumentos que não têm amparo legal.

FOLHA - Como fica a questão da correção da dívida do Econômico com o Banco Central?
CALMON DE SÁ
- O Ministério Público disse que "o Banco Central não pode mais mudar o valor de seu crédito". Eles viram que o quadro de credores foi feito pelo próprio Banco Central, que também fixou o valor da dívida e do crédito também foi o Banco Central. Ora, então não é correto mudar as regras depois. Há decisão em segunda instância por unanimidade no Tribunal de Recife, dizendo que o BC não pode cobrar mais que a TR nas liquidações enquanto durar a liquidação. O BC inventou essa história de que a lei que se aplicava era a de Falências, não a de Liquidações. Assim, tinham direito a receber as garantias. Mas se esqueceram de uma lei mais nova, a 8.177.

FOLHA - O sr. continuará tentando um acordo?
CALMON DE SÁ
- Quem acabará resolvendo é a Justiça. O Econômico deve uns R$ 5 bilhões e tanto ao Banco Central, dos quais temos livres no caixa, excetuando o dinheiro do fisco e o reservado para dívidas trabalhistas, mais ou menos uns R$ 3 bilhões. Nossa proposta é entregar isso e parte das NTN (papéis cambiais). Quanto mais eles demorarem, mais papel sobrará para nós, porque o Tesouro Nacional paga ao Econômico US$ 196 milhões por ano de juros. Isso dá uns R$ 400 milhões. O Banco Central está agindo de forma irresponsável.

FOLHA - Se o sr. vai ganhar todo esse dinheiro, por que quer fazer o acordo?
CALMON DE SÁ
- Com o fim da liquidação e um trabalho de quatro, cinco anos, nós poderemos conseguir um bom patrimônio, talvez o equivalente ao que era o patrimônio do banco.


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