São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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Agrônomos divergem sobre riscos para os consumidores

DAS ENVIADAS AO VALE DO RIBEIRA

O consumidor pode ou não correr risco ao consumir a banana produzida no Vale do Ribeira? Três agrônomos consultados pela Folha divergem em suas opiniões, mas são unânimes em afirmar que a pulverização tem de seguir regras em relação a sua aplicação, para não causar riscos ao trabalhador e ao ambiente.
Antonio Carlos Avancini, engenheiro agrônomo e subcoordenador do grupo móvel de fiscalização rural da Delegacia Regional do Trabalho em SP, diz estar "chocado" com a forma como a pulverização é feita na região do Vale do Ribeira. "Corre risco o trabalhador, corre risco o ambiente e pode até correr risco o consumidor."
Avancini afirma que a intoxicação pode não ser "aguda", mas pode haver risco. "Vamos comunicar a Secretaria da Agricultura e encaminhar nossos relatórios para a Vigilância Sanitária. É preciso avaliar se há resíduos nas frutas e saber qual o nível de contaminação."
Ele afirma que um dos produtos usados -o inseticida Furadan líquido- deveria ser aplicado nas mudas para combater a praga que atinge a raiz da planta. "Mas encontramos trabalhadores aplicando esse inseticida em plantas com frutos, o que não deveria ocorrer. O tempo de ação desse produto é de cerca de 120 dias."
Avancini diz que as pulverizações não são proibidas, mas têm restrições. "O receituário agronômico, que determina a quantidade e o tipo de fungicida, informa que não pode haver pulverização em área de 500 metros em torno de moradias e em áreas de manancial."
Agnaldo José de Oliveira, engenheiro agrônomo da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, órgão da Secretaria da Agricultura), produtor e presidente da Associação dos Bananicultores do Vale, diz que as plantações da região são pulverizadas de sete a oito vezes por ano, enquanto na Costa Rica e no México são de 40 a 60 aplicações anuais.
"Os EUA, um dos países mais rigorosos com a análise dos alimentos, compram desses países, onde as pulverizações são muito mais freqüentes do que no Brasil", diz o engenheiro.
Oliveira afirma que a secretaria acompanha os produtos aplicados e que os frutos não oferecem risco. "A pulverização é feita com a mistura de óleo mineral, fungicida e água para conter a sigatoka negra [doença que atinge as folhas]. Toda plantação usa agrotóxicos para conter doenças. Os produtos usados nos bananais são controlados e testados pelos órgãos competentes."
O que ocorre em parte dos sítios, segundo ele, é o descumprimento da NR-31, norma que estabelece regras para a pulverização -como a que determina que o trabalhador tem de ser avisado com 48 horas de antecedência e retirado das plantações. "A região tem pequenos produtores, que carecem de informação. É preciso orientação para depois haver fiscalização."
Para o engenheiro agrônomo Roberto Kobori, consultor técnico, o correto é adubar a planta, fazer drenagem e irrigação adequadas para conter o uso de agrotóxicos. "A pulverização é a última fase para conter a sigatoka negra, que, desde 2004, atinge a região." Diz que é preciso ter avisos e placas com dias e horários da pulverização. "As empresas têm usado defensivos em níveis permitidos. Pode haver abuso com o óleo usado, no afã de economizar, mas não no defensivo." (CR e FF)

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