São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Itaú e Unibanco serão menos rentáveis juntos que separados

A fusão de Itaú e Unibanco criará um banco menos rentável que se as instituições permanecessem separadas. Com o aumento do patrimônio líquido pela união dos negócios, os bancos terão de fazer um esforço maior para rentabilizar o volume de recursos. A análise é do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Itaú e Unibanco reúnem um patrimônio líquido de R$ 44,5 bilhões -cerca de R$ 10 bilhões a mais que o Bradesco-, segundo levantamento da Austin com base em dados divulgados no terceiro trimestre pelos bancos. As duas instituições formam um gigante com R$ 575,1 bilhões em ativos -ante R$ 422,7 bilhões do Bradesco e R$ 301,7 bilhões do Santander.
Calculada pela Austin em 24,2% em setembro deste ano, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido da instituição formada pela união de Itaú e Unibanco vai cair, diz Agostini. "O Itaú tinha R$ 31,6 bilhões de patrimônio líquido sozinho, e o Unibanco, R$ 12,9 bilhões. Rentabilizar R$ 31 bilhões exige um esforço bem menor que rentabilizar R$ 44,5 bilhões."
Segundo Agostini, a fusão dos bancos trará um ganho de competitividade para as instituições e, provavelmente, um lucro maior.
Para explicar o que deve acontecer com o lucro e a rentabilidade do novo banco, Agostini cita um exemplo de duas empresas: uma que eleva seus lucros em 100%, de R$ 1 para R$ 2, e de outra que aumenta em 50%, de R$ 10 para R$ 15. "A rentabilidade de quem ganhou 100% é maior, mas quem aumentou o lucro em R$ 5 ganhou mais", diz.
Agostini afirma que o negócio deve impulsionar a consolidação e a concentração no setor financeiro. "Os bancos que tinham aquisições na gaveta vão correr para fechar os negócios".
Segundo ele, os grandes bancos privados, como o Bradesco e o Santander, vão partir para as compras de bancos menores. E essa disputa fica mais acirrada com a entrada dos bancos estatais, permitida pela MP 443, editada no mês passado.
O primeiro grande negócio que deve ser concluído é a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, diz Agostini. "O Banco do Brasil vai acelerar esse processo. Mas com a fusão anunciada hoje [ontem], esse mercado se aqueceu e a Nossa Caixa já vale mais."

NEBULOSO
Os impactos da crise definitivamente chegaram ao mercado de arte, segundo a agência especializada em informações do mercado Artprice. Desde o início de setembro, o mercado de arte teve uma contração que não ocorria desde 1990. Os preços nas vendas públicas de arte em outubro tiveram retração de 14,5% ante janeiro. Sobrevivente no 11 de Setembro, o mercado de "investimento prazeroso" não resistiu ao atual derretimento da economia global. Segundo a Artprice, a crise atual vai trazer uma forte correção dos preços e nenhum mercado está livre. As quedas não afetam apenas Londres, Paris e Nova York -coração do mercado- mas também novas áreas como Honk Kong, Cingapura e Dubai.

RELAÇÕES
Forma de cobrança de juros e falta de transparência em relação ao parcelamento de dívidas são alguns dos problemas nas relações entre usuários e administradoras de cartão de crédito, segundo estudo da Direito GV e da Pro Teste que será divulgado na quinta. O objetivo do trabalho é buscar uma política de regulamentação para o setor. Hoje, apenas as bandeiras ligadas a banco passam por uma fiscalização do Banco Central. Entre outros problemas detectados pelo estudo está a questão da adesão a propostas enviadas sem solicitação do usuário.

NO CLIMA
Nicolas Stern, economista inglês especialista em mudanças climáticas, vai ser recebido hoje por Fábio Barbosa e José Berenguer, presidente e vice do Santander Brasil. Stern quer conhecer as iniciativas do Banco Real para sustentabilidade.

PREÇO MANTIDO
Miguel Dieckmann, sócio do grupo MMLink, colocou um cartaz informando que está segurando os preços mesmo com a alta do dólar na porta da MisterTech, empresa de produtos tecnológicos do grupo. Ele negociou com os fornecedores a manutenção de preços. Com crédito captado antes da crise, o MMLink mantém os investimentos e abrirá três lojas neste ano. Apesar de rever as projeções de 2009 em razão da crise, o grupo quer inaugurar 80 lojas da MisterTech em dez anos.

Ajuste no Brasil será com cortes, diz consultoria

Enquanto nos EUA, as empresas vão renegociar os salários com os funcionários para reduzir custos diante da crise, no Brasil, elas vão partir direto para a demissão. A análise é de Carlo Hauschild, diretor brasileiro da consultoria de RH Hewitt, com base em uma pesquisa realizada com 411 empresas americanas.
"Diferente dos EUA, a legislação brasileira não permite redução salarial, então as empresas só têm um caminho, que é a demissão."
Com a crise, as empresas americanas cortaram as projeções de reajuste salarial de 4,1% para 3,1%, o menor patamar desde o 11 de Setembro, diz a pesquisa.
Apesar de não ter dados do Brasil, Hauschild diz que a tendência nos EUA, de corte de orçamento e de contratações, se repetirá no país.


com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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