São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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MEGAFUSÃO / PRÓXIMOS PASSOS

Bancos terão de gerenciar sobreposições

Itaú e Unibanco têm complementaridade, mas também grande sobreposição no varejo, especialmente de agências em SP, RJ e MG

Roberto Setubal, presidente do conglomerado, minimiza a necessidade de demissões, mas diz que isso poderá acontecer em algumas áreas


DA REPORTAGEM LOCAL

Antigos concorrentes, Itaú e Unibanco têm muito em comum. Surgiram e continuam sob administração de famílias de banqueiros tradicionais de São Paulo e do Rio, que foram buscar no mercado profissionais de prestígio e aderiram a práticas internacionais de gestão para modernizar suas instituições financeiras. São ainda os bancos brasileiros de maior presença internacional. Os dois falam em se tornar competidores globais em cinco anos.
Segundo analistas, os dois bancos têm forte complementaridade de atuação, mas também uma enorme sobreposição no varejo, especialmente de agências em São Paulo, Rio e Minas -Estados em que se lançaram à expansão por meio de aquisições. O Itaú emprega hoje 69 mil bancários e o Unibanco, outros 35 mil.
Roberto Setubal, presidente do Itaú, disse que a integração começará pelo serviço de caixas eletrônicos. Ele minimizou a necessidade de demissões, apesar de admitir que isso poderá acontecer em algumas áreas. Os bancos ainda não têm estimativas de ganho com sinergias. "Não está previsto o fechamento de nenhuma agência. Vamos expandir as operações. Em quatro ou cinco anos, o número de pessoas que teremos será muito maior [que hoje]."
O novo banco contará com 18% da rede bancária brasileira -correspondente a 4.800 agências e postos de atendimento- e atenderá 14,5 milhões de clientes. Juntos, terão 19% do volume total de crédito e 21% dos depósitos.
Mais importante negócio do setor bancário brasileiro, a união entre Itaú e Unibanco não pode ser vista como uma aquisição. Não há desembolso de dinheiro, e o negócio só envolve troca de ações - na proporção de 1,1797 papel do Unibanco pelo do Itaú. A relação de troca foi baseada nas cotações dos últimos 45 pregões.
Como o Itaú chega a ter o dobro do tamanho do Unibanco, no entanto, sua estrutura deve prevalecer na nova empresa. O controle ficará com uma nova holding, a IU Participações, desenhada para que 50% fiquem com a Itaúsa [controladora do Itaú] e 50% com a família Moreira Salles, do Unibanco.
"Não se trata de uma compra, mas de uma fusão. Se fosse, o Pedro [Moreira Salles] não precisaria estar aqui", diz Setubal.
"Como o Itaú foi feito para mim [o slogan do banco é "feito para você'], fazer o negócio foi a coisa mais fácil do mundo", disse Pedro Moreira Salles, do Unibanco, ao comentar que não teria mais necessidade de abrir agências para concorrer com o Itaú. O banco abriu sua milésima agência em outubro.
O Unibanco agrega à nova empresa uma participação importante no atacado, além do atendimento a grandes empresas e uma corretora de prestígio entre fundos de pensão e clientes institucionais.
Já o Itaú tem participação importante em todos esses negócios, mas traz uma carteira muito sólida de médias empresas e de clientes pessoa física de alta renda, segmento em que passou a dar as cartas após a compra do BankBoston, do Bank of America, em 2006.
Para Armando Castelar, especialista em bancos da Gávea Investimentos, a lógica do negócio deriva do aumento da competição e da necessidade dos bancos de ganhar escala para captar dinheiro com custo menor para fazer crédito.
"É sintomático que tenham decido agora. O setor vai passar por reestruturação em que o tamanho se tornou importante para captar recursos. A crise tornou isso mais evidente."
Segundo Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, a crise atual antecipou em alguns anos o que seria problema mais tarde devido ao tamanho do Unibanco e ao seu custo de captação no mercado. "É um capítulo a mais da consolidação dos bancos. Esse processo começou há alguns meses e se acelerou agora com a crise. O negócio fortalece os dois e o país. Pode ser que o Unibanco estivesse perdendo depósitos e tivesse posição mais delicada com derivativos. Mas estava melhorando em eficiência e em lucratividade. O Unibanco ia bem dentro do tamanho dele, que era nada desprezível."
No anúncio, Moreira Salles afirmou que o novo banco terá uma das estruturas mais sólidas do mundo. Com patrimônio líquido R$ 51,7 bilhões, consegue fazer pouco menos de R$ 250 bilhões de crédito. "A alavancagem é de apenas cinco vezes." No setor de seguros, terá participação de 17%.
Futuro presidente do conselho do novo banco, Moreira Salles afirma que continua de pé a oferta feita pelo Unibanco à americana AIG, por sua parte na seguradora. A AIG está sob intervenção do Tesouro dos EUA e analisa a proposta.
A nova empresa terá ainda 24% do setor de previdência privada e uma carteira de R$ 90 bilhões de gestão de fortunas, a maior da América Latina.
Em meio à crise global e à baixa nas ações do setor bancário, Itaú e Unibanco adiantaram a divulgação de seus resultados do terceiro trimestre para mostrar que seus ganhos seguiram robustos e que não têm grande exposição cambial.
O Itaú teve lucro líquido recorrente de R$ 2 bilhões (excluindo ganhos e perdas extraordinárias), 27,5% maior do que no terceiro trimestre do ano passado. No ano, o acumulado é de cerca de R$ 6 bilhões.
O Unibanco, por sua vez, reportou lucro líquido de R$ 704 milhões no terceiro trimestre, resultado 5,6% maior do que no mesmo período de 2007, se forem descontados os efeitos não-recorrentes de 2007. No ano, o Unibanco já soma ganhos de R$ 2,2 bilhões.
(TONI SCIARRETTA)


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