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MEGAFUSÃO / PRÓXIMOS PASSOS
Bancos terão de gerenciar sobreposições
Itaú e Unibanco têm complementaridade, mas também grande sobreposição no varejo, especialmente de agências em SP, RJ e MG
Roberto Setubal, presidente
do conglomerado, minimiza
a necessidade de demissões,
mas diz que isso poderá
acontecer em algumas áreas
DA REPORTAGEM LOCAL
Antigos concorrentes, Itaú e
Unibanco têm muito em comum. Surgiram e continuam
sob administração de famílias
de banqueiros tradicionais de
São Paulo e do Rio, que foram
buscar no mercado profissionais de prestígio e aderiram a
práticas internacionais de gestão para modernizar suas instituições financeiras. São ainda
os bancos brasileiros de maior
presença internacional. Os dois
falam em se tornar competidores globais em cinco anos.
Segundo analistas, os dois
bancos têm forte complementaridade de atuação, mas também uma enorme sobreposição
no varejo, especialmente de
agências em São Paulo, Rio e
Minas -Estados em que se lançaram à expansão por meio de
aquisições. O Itaú emprega hoje 69 mil bancários e o Unibanco, outros 35 mil.
Roberto Setubal, presidente
do Itaú, disse que a integração
começará pelo serviço de caixas
eletrônicos. Ele minimizou a
necessidade de demissões, apesar de admitir que isso poderá
acontecer em algumas áreas.
Os bancos ainda não têm estimativas de ganho com sinergias. "Não está previsto o fechamento de nenhuma agência.
Vamos expandir as operações.
Em quatro ou cinco anos, o número de pessoas que teremos
será muito maior [que hoje]."
O novo banco contará com
18% da rede bancária brasileira
-correspondente a 4.800
agências e postos de atendimento- e atenderá 14,5 milhões de clientes. Juntos, terão
19% do volume total de crédito
e 21% dos depósitos.
Mais importante negócio do
setor bancário brasileiro, a
união entre Itaú e Unibanco
não pode ser vista como uma
aquisição. Não há desembolso
de dinheiro, e o negócio só envolve troca de ações - na proporção de 1,1797 papel do Unibanco pelo do Itaú. A relação de
troca foi baseada nas cotações
dos últimos 45 pregões.
Como o Itaú chega a ter o dobro do tamanho do Unibanco,
no entanto, sua estrutura deve
prevalecer na nova empresa. O
controle ficará com uma nova
holding, a IU Participações, desenhada para que 50% fiquem
com a Itaúsa [controladora do
Itaú] e 50% com a família Moreira Salles, do Unibanco.
"Não se trata de uma compra,
mas de uma fusão. Se fosse, o
Pedro [Moreira Salles] não precisaria estar aqui", diz Setubal.
"Como o Itaú foi feito para
mim [o slogan do banco é "feito
para você'], fazer o negócio foi a
coisa mais fácil do mundo", disse Pedro Moreira Salles, do
Unibanco, ao comentar que
não teria mais necessidade de
abrir agências para concorrer
com o Itaú. O banco abriu sua
milésima agência em outubro.
O Unibanco agrega à nova
empresa uma participação importante no atacado, além do
atendimento a grandes empresas e uma corretora de prestígio entre fundos de pensão e
clientes institucionais.
Já o Itaú tem participação
importante em todos esses negócios, mas traz uma carteira
muito sólida de médias empresas e de clientes pessoa física de
alta renda, segmento em que
passou a dar as cartas após a
compra do BankBoston, do
Bank of America, em 2006.
Para Armando Castelar, especialista em bancos da Gávea
Investimentos, a lógica do negócio deriva do aumento da
competição e da necessidade
dos bancos de ganhar escala para captar dinheiro com custo
menor para fazer crédito.
"É sintomático que tenham
decido agora. O setor vai passar
por reestruturação em que o tamanho se tornou importante
para captar recursos. A crise
tornou isso mais evidente."
Segundo Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating,
a crise atual antecipou em alguns anos o que seria problema
mais tarde devido ao tamanho
do Unibanco e ao seu custo de
captação no mercado. "É um
capítulo a mais da consolidação
dos bancos. Esse processo começou há alguns meses e se
acelerou agora com a crise. O
negócio fortalece os dois e o
país. Pode ser que o Unibanco
estivesse perdendo depósitos e
tivesse posição mais delicada
com derivativos. Mas estava
melhorando em eficiência e em
lucratividade. O Unibanco ia
bem dentro do tamanho dele,
que era nada desprezível."
No anúncio, Moreira Salles
afirmou que o novo banco terá
uma das estruturas mais sólidas do mundo. Com patrimônio líquido R$ 51,7 bilhões, consegue fazer pouco menos de R$
250 bilhões de crédito. "A alavancagem é de apenas cinco vezes." No setor de seguros, terá
participação de 17%.
Futuro presidente do conselho do novo banco, Moreira Salles afirma que continua de pé a
oferta feita pelo Unibanco à
americana AIG, por sua parte
na seguradora. A AIG está sob
intervenção do Tesouro dos
EUA e analisa a proposta.
A nova empresa terá ainda
24% do setor de previdência
privada e uma carteira de R$ 90
bilhões de gestão de fortunas, a
maior da América Latina.
Em meio à crise global e à
baixa nas ações do setor bancário, Itaú e Unibanco adiantaram a divulgação de seus resultados do terceiro trimestre para mostrar que seus ganhos seguiram robustos e que não têm
grande exposição cambial.
O Itaú teve lucro líquido recorrente de R$ 2 bilhões (excluindo ganhos e perdas extraordinárias), 27,5% maior do
que no terceiro trimestre do
ano passado. No ano, o acumulado é de cerca de R$ 6 bilhões.
O Unibanco, por sua vez, reportou lucro líquido de R$ 704
milhões no terceiro trimestre,
resultado 5,6% maior do que no
mesmo período de 2007, se forem descontados os efeitos
não-recorrentes de 2007. No
ano, o Unibanco já soma ganhos de R$ 2,2 bilhões.
(TONI SCIARRETTA)
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