São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Fusão cria competidor de porte internacional

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Itaú e Unibanco têm muitas agências quase coladas, diversos clientes em comum e sua fusão exigirá grande volume de recursos em integração tecnológica. Para os especialistas, no entanto, a fusão criará uma instituição mais lucrativa e forte do que se ambas permanecessem separadas. Será uma soma em que um mais um resulta em três, no jargão do mercado.
"O novo banco nasce com porte para ser um competidor importante inclusive no mercado internacional", diz Luis Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da agência de classificação de risco Austin Rating.
Os negócios dos dois bancos são complementares em diversas áreas. Em seguros, por exemplo, o Itaú é forte em veículos, enquanto o Unibanco tem boa carteira em saúde.
Na área de crédito popular, o Unibanco, por meio da Fininvest, tem presença importante em pessoal e consignado. Já o Itaú, com a Taií, tem relevância em veículos. O Itaú também é forte em "private banking", enquanto o Unibanco não tem tanta presença em fortunas.

Duplicidade
A sobreposição de estruturas, entretanto, também será grande. "Não os vejo ganhando grande participação de mercado", afirma William Eid Junior, coordenador do centro de estudos em finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Isso porque muitas agências dos dois bancos ficam na mesma vizinhança, e o posicionamento nos segmentos de atuação, em áreas nas quais estão o grosso dos negócios, é bastante semelhante tanto para o Itaú quanto para o Unibanco.
De acordo com Celso Grisi, professor da FIA-USP e sócio da consultoria Fractal, a média de aproveitamento numa fusão bancária é de 40% dos ativos.
Do ponto de vista do pessoal, a fusão tende a ter cortes de 10% a 15%, depois de somadas as estruturas, segundo Marcelo de Lucca, diretor-executivo da empresa de recrutamento Michael Page.
"Se, por um lado, a fusão é positiva porque cria um banco mais forte institucionalmente e para o país, por outro é negativo no médio prazo para o mercado de trabalho", diz Lucca. "Fusões estimulam a concorrência a fazer o mesmo movimento e há o conseqüente enxugamento de vagas."
Itaú e Unibanco, no entanto, podem não perder profissionais do mesmo modo que aconteceu quando o Itaú comprou o Boston ou quando o Real foi comprado pelo Santander.
Muitos dos profissionais mais qualificados rejeitaram o banco comprador e mudaram-se para a concorrência. Para Lucca, há desaquecimento no mercado de trabalho em razão da crise financeira global, e as oportunidades são menores.
Para os especialistas, a crise internacional também ajudou a fazer com que a última porta de entrada de um banco estrangeiro no mercado financeiro no Brasil fosse fechada. Há muitos anos, as expectativas eram de que uma grande instituição estrangeira, de olho no Brasil, adquiriria o Unibanco, que tinha problemas de sucessão. A redução da liquidez internacional pode ter mudado esse quadro.
"O Unibanco não é um banco barato, e o Itaú sozinho não teria como comprá-lo", diz Santacreu. "A crise facilitou a venda para um brasileiro."
A união também resolveu a questão da sucessão no Unibanco. "A solução foi muito boa nesse aspecto", diz Eid Jr. "Apenas um dos herdeiros do Unibanco atua na área financeira e, agora, todos os acionistas podem ficar mais seguros."


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