São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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MEGAFUSÃO / FUTURO

Governo espera mais fusões e aquisições

Avaliação é que a crise atual oferece boas oportunidades para bancos capitalizados e que não querem perder espaço

Especialistas alertam para risco de concentração demasiada do setor bancário brasileiro, que pode prejudicar cliente


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A fusão entre o Itaú e o Unibanco anunciada ontem, marca, na avaliação do governo, o início de uma onda de fusões e aquisições comuns no sistema bancário em períodos de crise financeira.
Segundo a Folha apurou, a equipe econômica acredita que a negociação acirrará o apetite dos grandes grupos privados que não querem perder espaço no mercado. A análise é que a crise gera boas oportunidades de negócios para quem está capitalizado e com planos de expandir sua atuação.
Essa tendência de movimentação na área financeira em períodos de crise ocorreu também nos anos 1990. O mercado brasileiro, que tinha 243 instituições no final de 1994, possuía 156 em junho deste ano. Os especialistas alertam, no entanto, para o risco de que essa concentração seja prejudicial aos clientes. "Nos Estados Unidos, por exemplo, há mais de 8.000 bancos, e eles são muito segmentados. Podem, portanto, oferecer um tratamento mais personalizado e atencioso", afirma Carlos Daniel Coradi, diretor da consultoria EFC.
João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho, explica que, geralmente, a consolidação de mercado em qualquer setor primeiramente significa benefícios para o consumidor, mas depois acaba sendo negativo.
"A princípio, são oferecidos serviços e tarifas melhores; porém, no momento em que o setor fica nas mãos de poucos atores, a qualidade do atendimento cai."

"Natural"
A procura por instituições à venda neste momento "é natural" na análise do governo porque a competição entre os bancos de varejo é acirrada no país e ninguém quer ficar para trás.
Um problema, no entanto, é que não há mais muitas instituições disponíveis no mercado, como o Unibanco ou a Nossa Caixa, que está sendo negociada com o Banco do Brasil. Os bancos pequenos e médios não atraem tanto a atenção porque têm nichos específicos, que não contam com interesse dos grandes bancos, com é o caso das operações com baixa renda, financiamentos de longo prazo com prestações pequenas e voltadas para o consumo de bens duráveis. Daí a preferência, atualmente, por análise de carteiras.
No entanto, a disparada do Itaú no ranking dos maiores bancos do Brasil e da América Latina pode fazer com que esse interesse seja revisto.
Banco do Brasil e Bradesco, líderes por muito anos, ficaram em desvantagem. Na avaliação do governo, há ainda uma lista enorme de bancos que estão em boa situação e podem ser adquiridos nesta fase atual de crise internacional.
Para o ministro Guido Mantega (Fazenda), essa tendência de fusões no sistema bancário não deverá alterar significativamente o mercado nacional.
"Acredito que o cenário bancário do Brasil vai ficar mais ou menos como se encontra. Temos cerca de 10 a 15 bancos relevantes, depois bancos menores que também cumprem uma determinada função. Vai mudar um pouco, mas não muito, pois já é um setor concentrado.
Mas o importante é que essa concentração vem no sentido de fortalecer o sistema financeiro".


Colaborou LEANDRA PERES , da Sucursal de Brasília


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