São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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BC argentino tenta conter fuga de capitais

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Em mais uma medida para tentar conter a fuga de capitais e a alta do dólar no país, o Banco Central argentino determinou ontem que investidores e instituições financeiras retenham títulos e ações em suas carteiras por ao menos três dias antes de vendê-los.
O governo quer desestimular a aquisição de dólares por fora do mercado de câmbio formal. Nessas operações, investidores usam pesos para comprar ações de empresas estrangeiras na Bolsa local e as revendem em seguida no exterior, conseguindo dólares.
Pela nova regra, a operação deverá passar pelo crivo do Banco Central quando o vendedor não puder demonstrar que manteve os recursos em portfólio por três dias.
A escalada do dólar na Argentina se intensificou após o governo Cristina Kirchner ter divulgado, no dia 21 de outubro, um projeto de lei que visa a estatizar os fundos de pensão privados do país. A moeda americana subiu 16 centavos desde o anúncio e fechou ontem estável, a 3,40 pesos.
O projeto de reforma previdenciária, apontado pela oposição como manobra governista para fazer caixa, deve passar pela primeira votação no Congresso nesta semana.
Também aumentou a desconfiança dos mercados em relação à capacidade do governo de pagar os vencimentos de sua dívida, que rondam os US$ 20 bilhões em 2009.
Com a estatização, o Estado absorveria US$ 30 bilhões do patrimônio dos fundos privados, além de outros US$ 5 bilhões de arrecadação anual. O governo diz que o dinheiro dos usuários da previdência privada estava ameaçado pela má administração das empresas do setor e pela crise mundial.

Tentativa de negociação
Ontem, em uma última tentativa de sobrevivência, a entidade que reúne as administradoras de previdência privada divulgou sua proposta de reforma do sistema.
O documento procura fazer propostas simpáticas ao governo. Prevê, por exemplo, o fim da cobrança de comissões pelas empresas em caso de rentabilidade negativa dos fundos. Defende a diversificação da carteira dos fundos privados para redução de risco e a manutenção de um sistema misto (público e privado) de aposentadorias.
A resposta do governo foi fria. O diretor-executivo da Anses (o INSS local), Amado Boudou, classificou o documento das administradoras como uma "autocrítica demolidora", e ironizou o fato de as empresas só defenderem agora a rentabilidade assegurada.

Repatriação
O governo argentino também oficializou ontem uma resolução determinando que os fundos de pensão privados repatriem cerca de US$ 550 milhões que estão investidos em países do Mercosul, principalmente no Brasil.
Trata-se de outra tentativa de injetar liqüidez no mercado e conter o avanço do dólar.


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