São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009

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ANÁLISE

Setor industrial retoma investimentos

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O crescimento da produção industrial brasileira de agosto para setembro foi mais fraco do que a grande maioria dos analistas estimava. No entanto, alguns dos resultados da pesquisa mensal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), assim como informações relativas ao mês de outubro, reafirmam a perspectiva de continuidade da retomada da produção, a um ritmo firme -embora, à frente, competidores externos possam conquistar parcela crescente da demanda.
Três elementos, sobretudo, relativizam a decepção com a alta tímida da produção em setembro. O primeiro é a constatação de que aumentou a proporção das atividades industriais que produziram mais do que no mês precedente. Essa proporção, conhecida como taxa de difusão, passou de 59%, em agosto, para 67%, em setembro.
O segundo elemento tranquilizador é o fato de que a queda da produção de um único segmento, o de refino de petróleo e produção de álcool, respondeu por grande parte da discrepância em relação ao resultado que se esperava para a indústria como um todo. Esse segmento, porém, costuma apresentar grandes oscilações na produção e sua tendência de expansão não parece abalada.
A constatação mais positiva é a de que a produção de bens de capital se acelerou bastante (foi quase 6% superior à verificada no mês de agosto). Como as exportações até o momento tiveram reação apenas incipiente, pode-se atribuir a aceleração da produção de máquinas a uma retomada das vendas no mercado interno. Isso indica uma reativação do investimento na capacidade produtiva -que se segue, vale lembrar, a um corte abrupto no período mais agudo da crise global (o trimestre final de 2008 e o inicial de 2009).
As informações já conhecidas relativas a outubro apontam na mesma direção. De acordo com levantamento feito pela FGV (Fundação Getulio Vargas), a confiança dos empresários industriais aumentou novamente, o que sugere que a reativação do investimento fabril deve ter prosseguido. Também deve ter prosseguido a expansão da produção industrial, pois a FGV apurou novo aumento do nível de utilização da capacidade instalada da indústria.
O balanço entre esses dois movimentos -o aumento da produção e a ampliação da capacidade produtiva- deverá se manter no centro do debate econômico no ano que vem, refletindo a preocupação com a disseminação (ou não) de gargalos de oferta e, por extensão, de pressões sobre a inflação.
A continuidade da expansão do mercado interno é tendência clara. Quanto ao mercado externo, as perspectivas são menos firmes, mas também positivas. Dificilmente a produção industrial brasileira, ainda distante dos níveis pré-crise, deixará de se beneficiar bastante disso. Mesmo assim, cabe reconhecer que boa parte da expansão da demanda (tanto no Brasil como em outros mercados abastecidos pela indústria brasileira) tenderá a ser atendida por competidores externos (em especial, chineses) cuja competitividade relativa vem sendo beneficiada pela evolução das respectivas taxas de câmbio.


FERNANDO SAMPAIO , economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.


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