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ANÁLISE
Setor industrial retoma investimentos
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O crescimento da produção
industrial brasileira de agosto
para setembro foi mais fraco do
que a grande maioria dos analistas estimava. No entanto, alguns dos resultados da pesquisa mensal do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), assim como informações relativas ao mês de outubro, reafirmam a perspectiva
de continuidade da retomada
da produção, a um ritmo firme
-embora, à frente, competidores externos possam conquistar parcela crescente da demanda.
Três elementos, sobretudo,
relativizam a decepção com a
alta tímida da produção em setembro. O primeiro é a constatação de que aumentou a proporção das atividades industriais que produziram mais do
que no mês precedente. Essa
proporção, conhecida como taxa de difusão, passou de
59%, em agosto, para 67%, em
setembro.
O segundo elemento tranquilizador é o fato de que a queda da produção de um único
segmento, o de refino de petróleo e produção de álcool, respondeu por grande parte da
discrepância em relação ao resultado que se esperava para a
indústria como um todo. Esse
segmento, porém, costuma
apresentar grandes oscilações
na produção e sua tendência de
expansão não parece abalada.
A constatação mais positiva é
a de que a produção de bens de
capital se acelerou bastante (foi
quase 6% superior à verificada
no mês de agosto). Como as exportações até o momento tiveram reação apenas incipiente,
pode-se atribuir a aceleração
da produção de máquinas a
uma retomada das vendas no
mercado interno. Isso indica
uma reativação do investimento na capacidade produtiva
-que se segue, vale lembrar, a
um corte abrupto no período
mais agudo da crise global (o
trimestre final de 2008 e o inicial de 2009).
As informações já conhecidas relativas a outubro apontam na mesma direção. De
acordo com levantamento feito
pela FGV (Fundação Getulio
Vargas), a confiança dos empresários industriais aumentou novamente, o que sugere
que a reativação do investimento fabril deve ter prosseguido. Também deve ter prosseguido a expansão da produção industrial, pois a FGV apurou novo aumento do nível de
utilização da capacidade instalada da indústria.
O balanço entre esses dois
movimentos -o aumento da
produção e a ampliação da capacidade produtiva- deverá se
manter no centro do debate
econômico no ano que vem, refletindo a preocupação com a
disseminação (ou não) de gargalos de oferta e, por extensão,
de pressões sobre a inflação.
A continuidade da expansão
do mercado interno é tendência clara. Quanto ao mercado
externo, as perspectivas são
menos firmes, mas também positivas. Dificilmente a produção industrial brasileira, ainda
distante dos níveis pré-crise,
deixará de se beneficiar bastante disso. Mesmo assim, cabe reconhecer que boa parte da expansão da demanda (tanto no
Brasil como em outros mercados abastecidos pela indústria
brasileira) tenderá a ser atendida por competidores externos
(em especial, chineses) cuja
competitividade relativa vem
sendo beneficiada pela evolução das respectivas taxas de
câmbio.
FERNANDO SAMPAIO , economista,
é sócio-diretor da LCA Consultores.
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