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LUÍS NASSIF
Uma política de defesa
A crise da indústria bélica
nos anos 80 decorreu basicamente da falta de atualização da
visão estratégica nacional. O fim
da Guerra Fria e o aumento das
guerras internas mudaram o conceito de segurança nacional. Por
falta de definições básicas, a indústria nacional entrou em crise
profunda. A avaliação é do deputado federal José Genoino (PT-SP), no seminário "Política de Defesa e Indústria Nacional", transcorrido ontem em São Paulo.
Salientando falar em nome próprio, e não do PT, Genoino traçou
em linhas gerais o que poderia ser
uma política de segurança nacional. Só a partir dessa definição
haveria como definir uma política industrial para o setor.
Os pontos centrais de uma política de segurança são os seguintes:
1) O Brasil tem que projetar poder nos termos da sua experiência
militar e diplomática. No limite,
precisa dispor de capacidade dissuasória. Ou seja, por princípio
não se agride ninguém, mas precisa de condições materiais de defender a sua soberania. O invasor
que entrar não pode sair. Se sair,
tem que sofrer estragos.
Não se pode pensar nessa política sem tecnologia e conhecimento. Na perspectiva dissuasória,
tem que ter capacidade de se relacionar regionalmente e no mundo com alguma capacidade de
surpresa. Não existe indústria de
defesa sem capacidade de surpresa. Daí a importância da autonomia em relação a seus fornecedores, para poder definir sua posição estratégica.
2) Precisa ter influência regional com base na cooperação e na
negociação em dois pontos geopolíticos: Mercosul e Pacto Amazônico, que precisaria ser reativado.
3) Ter posição mais ofensiva nas
missões de paz da ONU. Hoje a
participação do Brasil é meramente formal e burocrática. O
país tem que se capacitar para
participação mais ousada, projetando poder, abrindo espaço, tendo influência no mundo.
Ponto essencial no desenvolvimento bélico é ter capacidade de
autonomia nos nichos que o país
pode dominar. No reequipamento das Forças Armadas, tem que
haver transferência e renovação
como ponto básico inegociável.
Os equipamentos militares não
podem mais ser compreendidos
como objetos que se encerram em
si, mas como programa que permita desenvolver tecnologia e autonomia estratégica.
Genoino enxerga espaço em três
projetos estratégicos:
1) Programa Aeroespacial, que
ele considera estratégico e inegociável.
2) Projeto do submarino com
propulsão nuclear. Foi um equívoco o atraso desse programa,
que permitirá ao Brasil dominar
o ciclo nuclear para fins pacíficos.
Genoino considera um equívoco
a Marinha adquirir porta-aviões.
Por seu tamanho e característica,
o porta-aviões é uma extensão do
território nacional e, nessa condição, vira alvo. É adequado a uma
política militar de país que quer
expandir fronteiras, o que não é o
caso brasileiro. Já submarino com
propulsão nuclear é tipicamente
arma dissuasória e adequada ao
tamanho da fronteira marítima
brasileira.
3) Projeto de remodelação no
Exército de pronto emprego. Em
sua opinião, o país não pode trabalhar com vários Exércitos fixos.
Tem que ter o Exército com ampla capacidade de mobilização,
combinando rapidez e dissuasão.
O ideal é usar a tática do Exército
regular com tática de guerrilha,
mobilidade extrema e capacidade
de defesa.
Cartórios
A respeito da coluna sobre cartórios, recebo o seguinte e-mail de
Jorge Marun, promotor de Justiça
em Sorocaba. Dentre as suas funções está a de "curador de registros públicos", uma espécie de fiscal do setor:
"Acho o sistema brasileiro de
cartórios absurdo. São verdadeiras "capitanias hereditárias". Os
cartórios de notas e protestos poderiam funcionar como você sugeriu, em regime de concessão,
sem monopólio ou oligopólio, supervisionados pelo Poder Público.
Já os de registro civil e de imóveis
são centralizados por natureza, o
que os torna imunes à concorrência, com os males que daí advêm.
Esses deveriam ser simplesmente
extintos. O registro civil e de imóveis urbanos podem muito bem
ser realizados pelos municípios,
mediante uma taxa módica, com
gratuidade para os carentes. Já o
registro de imóveis rurais pode ser
feito pelo Incra".
E-mail - LNassif@uol.com.br
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