São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EM TRANSE

Banco corta sugestão sobre quanto investidores devem manter de papéis brasileiros e vê falta de empenho do PT

JP Morgan reduz a "recomendação" Brasil

MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O banco de investimentos JP Morgan rebaixou sua recomendação para os títulos da dívida do governo brasileiro. O banco cita como motivos a falta de empenho legislativo do PT e prevê a nomeação de um ministério excessivamente político.
O banco mudou de "neutro" para "abaixo da média" a sugestão periódica sobre o volume de papéis brasileiros que os investidores devem manter em suas carteiras. A principal justificativa do banco é a de que, pelas ações do PT observadas até o momento, o novo governo não será capaz de sustentar a atmosfera favorável observada desde a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva.
No entanto, o JP Morgan previu que o governo será capaz de hon- rar seus compromissos externos em 2003, embora várias companhias brasileiras, segundo o banco, venham a ser obrigadas a dar o calote em suas dívidas.
Foi a primeira análise negativa sobre papéis do governo brasileiro desde as eleições, quando a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva promoveu uma lua-de-mel entre os mercados e o PT, melhorou a cotação da dívida brasileira e fortaleceu o real.
Segundo analistas de outros bancos de investimentos ouvidos ontem pela Folha, ainda é cedo para decretar o fim dessa lua-de-mel. Duas instituições em Nova York sugeriram que vão manter suas classificações atuais.
Em 21 de outubro passado, a agência classificadora de riscos Fitch havia baixado a classificação de longo prazo do Brasil de "B+" para "B" e julgado "negativa" a perspectiva do país.
Diferentemente das notas da Fitch, que influenciam diretamente decisões de gestores de fundos de investimento, as recomendações do JP Morgan são sugestões que normalmente provocam mais destaque na mídia do que entre investidores.
Segundo Graham Stock, vice-presidente de pesquisa de renda fixa para mercados emergentes do JP Morgan, a fase de apreciação dos papéis brasileiros "esgotou-se". Autor do relatório do banco, Stock disse, numa conferência telefônica, que o PT tem demonstrado menos compromisso com o avanço das reformas do que se imaginava. O maior exemplo usado por ele foi a concordância do partido em excluir o fim da cobrança em cascata do PIS/Pasep nas negociações da votação da medida provisória 66, em discussão no Congresso.
Além disso, o banco analisa que o partido do presidente eleito terá dificuldades para aprovar qualquer tema nos primeiros dois meses de 2003. "Será difícil produzir algo em dois a três meses. O Congresso entra em recesso em janeiro. Em fevereiro, estará imobilizado pelas eleições das lideranças das duas casas", disse Stock.
Além disso, o JP Morgan antevê um ministério "pior" para os investidores do que se imaginava, pois apenas a presidência do BC (Banco Central) deverá ficar com um técnico de fora do partido. "As indicações apontam para um ministério não tão amigo dos mercados quanto os mercados esperavam", disse ele. Segundo o JP Morgan, os títulos da Colômbia e da Rússia terão melhor performance que os brasileiros num prazo de alguns meses.
Stock não quis dizer quando o JP Morgan irá rever o rebaixamento anunciado ontem.


Texto Anterior: Empresas: Net revê negociações com credores
Próximo Texto: BC não dá "muita importância", e Palocci não vê "razão nenhuma"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.