São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

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Anac quer reserva para indenizações no capital das aéreas

Nova exigência constaria de reforma do Código Brasileiro de Aeronáutica, prevista para ser feita em 2007, de acordo com Denise Abreu, diretora da Anac

JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A CANCÚN

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) pretende exigir reserva para indenizações no capital das empresas aéreas em reforma do Código Brasileiro de Aeronáutica, prevista para o próximo ano. "A idéia é ter recursos para o pagamento em caso de algum acidente, de atraso ou de overbooking. É o que vai dar segurança jurídica para o passageiro poder se socorrer do Judiciário ou administrativamente para ter resguardados os seus direitos constitucionais, como em qualquer setor", afirma Denise Abreu, diretora da Anac, em entrevista à Folha, durante evento da Alta (Associação Latino-Americana de Transporte Aéreo), encerrado na sexta-feira. Leia abaixo os principais trechos da entrevista de Abreu.

 

FOLHA - A Anac planeja uma atualização do Código Brasileiro de Aeronáutica. O que deveria ser alterado?
DENISE ABREU
- O Código Brasileiro de Aeronáutica reúne funções do espaço aéreo militar e do espaço aéreo civil. Todas as regras, como a autorização de funcionamento jurídico e o Cheta [Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo] estão dentro do código. O primeiro passo é tirar de dentro do código e criar um marco regulatório próprio para a aviação civil. Devemos colocar novas regras sobre a forma de analisar o capital de uma empresa que planeja se constituir como concessionária de serviço público. É importante prever um aporte necessário de recursos para eventuais ações de indenização e de responsabilidade civil das empresas. A idéia é ter recursos para o pagamento em caso de algum acidente, de atraso ou de overbooking. É o que vai dar segurança jurídica para o passageiro poder se socorrer do Judiciário ou administrativamente para ter resguardados os seus direitos constitucionais, como em qualquer setor.

FOLHA - Como é possível mensurar essas despesas?
ABREU
- Tem que haver um parâmetro claro dentro da lei. É um cálculo complexo e que ainda precisa ser detalhado. É preciso levar em conta o número de passageiros em cada aeronave e uma média de valor de indenizações. Vou mais além: acredito que deveria existir um fundo nas empresas para cobertura de eventuais ações trabalhistas a fim de assegurar o direito do trabalhador.

FOLHA - Quando essas mudanças devem começar a sair do papel?
ABREU
- No começo do próximo ano, teremos um grupo de trabalho constituído para implementar as mudanças.

FOLHA - O que mudou na passagem do DAC [Departamento de Aviação Civil] para a Anac?
ABREU
- O enfoque jurídico não era tão minucioso. A imprensa costuma dizer que os diretores da agência não têm brevê. Para ser um bom gestor, não precisa ser um bom piloto. Se pegarmos os grandes executivos do setor é possível verificar isso. O Bologna [presidente da TAM, líder no mercado doméstico] veio do setor bancário. Regulamentar o mercado significa normatizar, aprofundar análises jurídicas. O DAC não tinha o aprofundamento necessário para regulamentar. A missão dele não era essa, o órgão tinha missão específica na segurança de vôo. Uma agência reguladora não pode se limitar a esse aspecto, precisa fazer análise de mercado, da sustentabilidade e do desenvolvimento do setor. Deve normatizar e fazer com que todas as empresas sejam tratadas igualitariamente. Se não forem, elas podem se socorrer do Judiciário.

FOLHA - A Anac surgiu num ano difícil para o setor, com a crise da Varig, o acidente da Gol e a operação-padrão dos controladores de vôo. O que explica essa sucessão de eventos? Os problemas ficaram mais visíveis em uma gestão civil?
ABREU
- O acidente da Gol foi uma fatalidade, mas as crises dos controladores e da Varig não nasceram em 2006. Elas simplesmente eclodiram no ano em que a agência foi criada. A entrada de uma agência civil num setor exclusivamente militar areja o setor, de forma que algumas questões que antes não eram tão conhecidas passam a ser divulgadas.

FOLHA - A atuação da agência em relação ao caso Varig já foi alvo de muita crítica. Há quem afirme que a agência opera em nome de TAM e Gol, as duas principais empresas do setor...
ABREU
- Refuto veementemente esse tipo de afirmação. Essas empresas são representadas pelo Snea [Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias]. Eu tenho uma ata de reunião promovida pelo sindicato com o juiz Luiz Roberto Ayoub [da 1ª Vara Empresarial do Rio], em que o Snea pediu a transferência da documentação da velha Varig para a nova Varig.
Portanto, na nossa leitura, essas empresas gostariam que a situação fosse imediatamente resolvida para elas saírem da condição de vôo precário e poderem voar definitivamente para os destinos que a nova Varig não for utilizar.
O que o país não pode fazer é impedir que empresas com boa gestão e consistência econômica cresçam, porque aí a gente estaria a reboque da história. Seria um país que paralisaria o crescimento de empresas saudáveis em benefício de quem não é saudável.


A jornalista JANAINA LAGE viajou a convite da TAM


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