São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Reeleições tomam uma tunda

Datafolha sobre o terceiro mandato, derrota de Chávez e "recuo tático" na Bolívia avariam idéias continuístas

FOI UM FINAL de semana bem ruim para os aspirantes a guias geniais e perpétuos dos povos latino-americanos. A pesquisa Datafolha deu um banho frio no continuísmo petista-lulista. Hugo Chávez exagerou em suas palhaçadas sinistras e apanhou nas urnas. Por fim, em tom menor, houve um "recuo tático" na Bolívia. Decerto petistas-lulistas assanhados leram o Datafolha ao inverso.
Acreditam que a parcela de 34% do eleitorado favorável ao terceiro mandato, ou o 31% favorável ao terceiro mandato de Lula em particular, é indício de que está apenas no início a "longa marcha" para fazer com que o presidente tenha direito a um terceiro mandato consecutivo.
Chávez tem pelo menos até 2012 para renovar as surtidas continuístas. O "lua preta" e vice de Evo Morales, o ideólogo-mor da revolução boliviana, García Linera, disse à Folha que a reeleição indefinida vai ser votada à parte do conjunto da nova Constituição. Trata-se de um passo atrás diante do acirramento do conflito na Bolívia. Mas, em breve, Morales pode tentar dois passos adiante. Ainda assim, no conjunto da obra -dos revezes na opinião pública ao tumulto nos países vizinhos-, vazou a maré continuísta.
Por fim, nos casos de Chávez e Lula, ficou evidente que a maior parte do eleitorado dissocia a aprovação do governante da perspectiva de vê-lo continuamente no poder. No Brasil, houve evidente aprovação das normas atuais para a escolha dos chefes do Executivo. Embora o atual sistema esteja longe da maioria "absoluta" (39% o rejeitam), 58% dos entrevistados aprovam uma recondução consecutiva à Presidência. A maioria prefere esse sistema que, na prática, oferece um mandato de oito anos com um "recall" a meio caminho, a possibilidade de uma reeleição.
O apoio ao terceiro mandato ou a reeleições indefinidas no Brasil por ora parece associado à avaliação que o eleitor faz do governo Lula.
Mais de dois terços dos entrevistados favoráveis a reeleições consecutivas são eleitores que avaliam o governo Lula como ótimo ou bom (embora, mesmo entre esses eleitores mais lulistas, o terceiro mandato só tenha a preferência de 47%).
A opção pelas reeleições consecutivas é 44% maior que a média nacional entre o eleitorado que declara o PT como seu partido preferido e 133% maior que a daqueles que preferem o PSDB. Além do mais, os eleitores são mais inclinados a aceitar um terceiro mandato para presidente do que para governadores e prefeitos, o que, parece provável, tem a ver com a hipótese de uma nova reeleição estar mais associada à idéia e a rumores da permanência de Lula no poder.
É impossível dizer se a aceitação de um terceiro mandato continuará mais forte entre o eleitor pró-Lula. A presente pesquisa Datafolha ocorre num momento em que o prestígio de Lula volta às alturas pré-mensalão. Além de positiva, é a mais equilibrada desde os dias do escândalo: é forte entre as diversas classes de renda. Se a nota de Lula piorar, será ainda menor a opção pró-terceiro mandato (ou vice-versa)? Seja como for, a maioria do eleitorado não quis associar a satisfação com o governo à redução das chances de rodízio de poder.


vinit@uol.com.br

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