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VINICIUS TORRES FREIRE
Reeleições tomam uma tunda
Datafolha sobre o terceiro mandato, derrota de Chávez e "recuo tático" na Bolívia avariam idéias continuístas
FOI UM FINAL de semana bem
ruim para os aspirantes a guias
geniais e perpétuos dos povos
latino-americanos. A pesquisa Datafolha deu um banho frio no continuísmo petista-lulista. Hugo Chávez
exagerou em suas palhaçadas sinistras e apanhou nas urnas. Por fim,
em tom menor, houve um "recuo tático" na Bolívia.
Decerto petistas-lulistas assanhados leram o Datafolha ao inverso.
Acreditam que a parcela de 34% do
eleitorado favorável ao terceiro
mandato, ou o 31% favorável ao terceiro mandato de Lula em particular,
é indício de que está apenas no início
a "longa marcha" para fazer com que
o presidente tenha direito a um terceiro mandato consecutivo.
Chávez tem pelo menos até 2012
para renovar as surtidas continuístas. O "lua preta" e vice de Evo Morales, o ideólogo-mor da revolução boliviana, García Linera, disse à Folha
que a reeleição indefinida vai ser
votada à parte do conjunto da nova
Constituição. Trata-se de um passo
atrás diante do acirramento do
conflito na Bolívia. Mas, em breve,
Morales pode tentar dois passos
adiante. Ainda assim, no conjunto
da obra -dos revezes na opinião
pública ao tumulto nos países vizinhos-, vazou a maré continuísta.
Por fim, nos casos de Chávez e Lula,
ficou evidente que a maior parte do
eleitorado dissocia a aprovação do
governante da perspectiva de vê-lo
continuamente no poder.
No Brasil, houve evidente aprovação das normas atuais para a escolha dos chefes do Executivo. Embora o atual sistema esteja longe da
maioria "absoluta" (39% o rejeitam), 58% dos entrevistados aprovam uma recondução consecutiva à
Presidência. A maioria prefere esse
sistema que, na prática, oferece um
mandato de oito anos com um "recall" a meio caminho, a possibilidade de uma reeleição.
O apoio ao terceiro mandato ou a
reeleições indefinidas no Brasil por
ora parece associado à avaliação
que o eleitor faz do governo Lula.
Mais de dois terços dos entrevistados favoráveis a reeleições consecutivas são eleitores que avaliam o
governo Lula como ótimo ou bom
(embora, mesmo entre esses eleitores mais lulistas, o terceiro mandato só tenha a preferência de 47%).
A opção pelas reeleições consecutivas é 44% maior que a média nacional entre o eleitorado que declara o PT como seu partido preferido
e 133% maior que a daqueles que
preferem o PSDB. Além do mais, os
eleitores são mais inclinados a aceitar um terceiro mandato para presidente do que para governadores e
prefeitos, o que, parece provável,
tem a ver com a hipótese de uma
nova reeleição estar mais associada à idéia e a rumores da permanência de Lula no poder.
É impossível dizer se a aceitação
de um terceiro mandato continuará mais forte entre o eleitor pró-Lula. A presente pesquisa Datafolha ocorre num momento em que o
prestígio de Lula volta às alturas
pré-mensalão. Além de positiva, é a
mais equilibrada desde os dias do
escândalo: é forte entre as diversas
classes de renda. Se a nota de Lula
piorar, será ainda menor a opção
pró-terceiro mandato (ou vice-versa)? Seja como for, a maioria do
eleitorado não quis associar a satisfação com o governo à redução das
chances de rodízio de poder.
vinit@uol.com.br
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