São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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Grifes são suspeitas de pagar propina em esquema no Rio

Segundo Ministério Público do Rio, lojas pagavam suborno para não serem fiscalizadas

Na Operação Propina S.A., 31 pessoas foram presas, entra as quais 11 fiscais de renda; marca que participou do Fashion Rio é investigada

LUISA BELCHIOR
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Lojas famosas da zona sul do Rio estão entre as investigadas pelo Ministério Público do Rio na operação intitulada Propina S.A., contra fraude fiscal.
O procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, estimou o prejuízo para o Estado em R$ 1 bilhão, número considerado superestimado pelos investigadores. Foram presas 31 pessoas, 11 delas fiscais de renda do Estado do Rio de Janeiro.
Marcas como Salinas, Kylza Ribas -grife que participou do Fashion Rio e fica na exclusiva galeria Quartier Ipanema-, Andarella e o supermercado e "padaria chique" Farinha Pura, no Humaitá, aparecem entre os suspeitos de irregularidades no esquema.
As empresas são suspeitas de pagar propinas a fiscais para não sofrer fiscalização e para receber informações privilegiadas a respeito de inspeções.
O fiscal Francisco Ribeiro Cunha Gomes, o Chico Olho de Boi -apontado como o principal envolvido nas fraudes-, avisa em 23 de julho a Salinas de futura fiscalização. No telefonema, Chico fala com funcionário identificado como Pietrângelo -a Folha confirmou que há uma pessoa com esse nome na empresa, mas não conseguiu contato com ele.
Segundo relatório do Ministério Público, "Chico liga para avisar que está programado um trabalho de fiscalização para lá. Pergunta se já chegou a intimação e informa que será Nancy. Combinam encontro em São Cristóvão. Ao lado da Citroën, sala 406 [escritório de Chico]".
O Ministério Público comenta no documento que "a fiscal Nancy [Ribeiro de Oliveira, presa na operação] pertence ao círculo de relações de Chico".
"Que interesse tem Chico em avisar que a empresa será fiscalizada, declinando ainda o nome do fiscal que irá conduzir a ação fiscal? Registre-se ainda que a fiscal Nancy pertence ao círculo de relações de Chico, com elevado grau de comprometimento em seu engenho criminoso", diz o relatório.
Uma das mais conhecidas marcas de praia, a Salinas vende para exportação. Em site voltado para o público estrangeiro, a marca define-se como "beach chic" (praia chique).
Em ligação para a Kylza Ribas -razão social "Indumentária 77 Comércio de Roupas e Acessórios-, Chico Olho de Boi conversa sobre o recebimento de valores mensais da loja. Uma mulher da loja não identificada informa que são "cinco pares de sapatos por mês". Para o Ministério Público, "o diálogo expressa de forma clara que Chico recebe valores mensais da empresa".
As interceptações telefônicas mostram ainda diálogo de homem identificado como Tadeu -apontado como fiscal informal- com Paulo, do setor administrativo das organizações Farinha Pura Ltda. -que tem supermercado, padaria, loja de produtos de limpeza e a casa noturna Far Up, todos na Cobal do Humaitá. De acordo com os promotores, ele recebe "instruções" para burlar a lei.
A Folha esteve na modesta Barbearia Camões, em Copacabana, que contrasta com as empresas anteriormente citadas. Segundo escutas, o fiscal Cândido Pereira Machado pressiona o dono, identificado como Loureiro, a lhe pagar. Segundo o relatório, o fiscal diz "que fez cálculos e percebeu que, se Loureiro tirasse um corte de cabelo por semana, teria pago a Cândido".
O barbeiro se desculpa e diz que está com o aluguel atrasado. Em outra ligação, Loureiro oferece R$ 100, mas o fiscal recusa e pede para ele juntar mais R$ 100. O barbeiro nega que seja propina.


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