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Grifes são suspeitas de pagar propina em esquema no Rio
Segundo Ministério Público do Rio, lojas pagavam suborno para não serem fiscalizadas
Na Operação Propina S.A., 31 pessoas foram presas,
entra as quais 11 fiscais de renda; marca que participou
do Fashion Rio é investigada
LUISA BELCHIOR
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Lojas famosas da zona sul do
Rio estão entre as investigadas
pelo Ministério Público do Rio
na operação intitulada Propina
S.A., contra fraude fiscal.
O procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, estimou o
prejuízo para o Estado em R$ 1
bilhão, número considerado
superestimado pelos investigadores. Foram presas 31 pessoas, 11 delas fiscais de renda do
Estado do Rio de Janeiro.
Marcas como Salinas, Kylza
Ribas -grife que participou do
Fashion Rio e fica na exclusiva
galeria Quartier Ipanema-,
Andarella e o supermercado e
"padaria chique" Farinha Pura,
no Humaitá, aparecem entre os
suspeitos de irregularidades no
esquema.
As empresas são suspeitas de
pagar propinas a fiscais para
não sofrer fiscalização e para
receber informações privilegiadas a respeito de inspeções.
O fiscal Francisco Ribeiro
Cunha Gomes, o Chico Olho de
Boi -apontado como o principal envolvido nas fraudes-,
avisa em 23 de julho a Salinas
de futura fiscalização. No telefonema, Chico fala com funcionário identificado como Pietrângelo -a Folha confirmou
que há uma pessoa com esse
nome na empresa, mas não
conseguiu contato com ele.
Segundo relatório do Ministério Público, "Chico liga para
avisar que está programado um
trabalho de fiscalização para lá.
Pergunta se já chegou a intimação e informa que será Nancy.
Combinam encontro em São
Cristóvão. Ao lado da Citroën,
sala 406 [escritório de Chico]".
O Ministério Público comenta no documento que "a fiscal
Nancy [Ribeiro de Oliveira,
presa na operação] pertence ao
círculo de relações de Chico".
"Que interesse tem Chico em
avisar que a empresa será fiscalizada, declinando ainda o nome do fiscal que irá conduzir a
ação fiscal? Registre-se ainda
que a fiscal Nancy pertence ao
círculo de relações de Chico,
com elevado grau de comprometimento em seu engenho
criminoso", diz o relatório.
Uma das mais conhecidas
marcas de praia, a Salinas vende para exportação. Em site
voltado para o público estrangeiro, a marca define-se como
"beach chic" (praia chique).
Em ligação para a Kylza Ribas -razão social "Indumentária 77 Comércio de Roupas e
Acessórios-, Chico Olho de
Boi conversa sobre o recebimento de valores mensais da
loja. Uma mulher da loja não
identificada informa que são
"cinco pares de sapatos por
mês". Para o Ministério Público, "o diálogo expressa de forma clara que Chico recebe valores mensais da empresa".
As interceptações telefônicas mostram ainda diálogo de
homem identificado como Tadeu -apontado como fiscal informal- com Paulo, do setor
administrativo das organizações Farinha Pura Ltda. -que
tem supermercado, padaria, loja de produtos de limpeza e a
casa noturna Far Up, todos na
Cobal do Humaitá. De acordo
com os promotores, ele recebe
"instruções" para burlar a lei.
A Folha esteve na modesta
Barbearia Camões, em Copacabana, que contrasta com as empresas anteriormente citadas.
Segundo escutas, o fiscal Cândido Pereira Machado pressiona o dono, identificado como
Loureiro, a lhe pagar. Segundo
o relatório, o fiscal diz "que fez
cálculos e percebeu que, se
Loureiro tirasse um corte de
cabelo por semana, teria pago a
Cândido".
O barbeiro se desculpa e diz
que está com o aluguel atrasado. Em outra ligação, Loureiro
oferece R$ 100, mas o fiscal recusa e pede para ele juntar
mais R$ 100. O barbeiro nega
que seja propina.
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