São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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Casas Bahia nega crise, mas lucro cai 50%

Rede terá unidade virtual conectada a 550 lojas físicas e se prepara para abrir 30 pontos-de-venda na Bahia em 2009

Lucro no ano deve ser de R$ 135 milhões, abalado por alta de juros, aluguéis e salários, mas não pela crise financeira, diz Michael Klein


FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Casas Bahia vai entrar na venda de produtos pela internet, após estudar esse mercado -estimado no setor em R$ 10 bilhões para 2008- por mais de um ano. A rede contratou cerca de 2.000 pessoas para montar uma central de atendimento aos clientes, que já está em fase de testes.
Michael Klein, diretor-executivo da rede, afirma que a loja virtual será interligada com as 550 lojas físicas em dez Estados, o que considera um diferencial sobre os concorrentes.
"Fizemos pesquisas e constatamos que há insatisfação dos clientes que compram pela internet. Quando o produto apresenta defeito, eles não sabem a quem recorrer. Por essa razão, a nossa loja virtual será conectada às lojas da rede."
A Casas Bahia prevê vender neste mês 7% mais do que em dezembro do ano passado e faturar R$ 13,8 bilhões no ano, R$ 1 bilhão a mais do que em 2007. "Crise? Essa crise de que todo mundo fala não nos atingiu", diz Klein. Mas a previsão de crescer mais R$ 1 bilhão na receita de 2009 foi suspensa.
O lucro da rede em 2008 caiu pela metade em relação ao do ano passado e deve somar R$ 135 milhões. "Isso não tem nada a ver com a crise. O lucro será menor em 2008 porque estamos pagando juros mais altos para os bancos, os preços dos aluguéis aumentaram muito e os salários dos funcionários subiram mais do que o nosso faturamento", diz o executivo.
A possibilidade de o desemprego crescer e, com isso, tirar os consumidores das suas lojas, é vista como remota. "Tenho 29 milhões de clientes, dos quais 12 milhões vão às minhas lojas todos os meses. Desses 12 milhões de clientes, 8 milhões não têm carteira assinada."
Os investimentos da empresa, segundo Klein, estão mantidos para 2009. A rede aportará R$ 24 milhões em um centro de distribuição em Camaçari (BA) para dar conta de abastecer cerca de 30 lojas que serão abertas no Estado em 2009.
"Já conheço quase tudo por lá", diz Klein, que leva seis minutos para ir de helicóptero de sua casa, em Alphaville, a São Caetano do Sul (SP), onde está a sede da empresa.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista com Michael Klein, que inaugura amanhã no Rio a megaloja sazonal Super Casas Bahia.

 


CRISE
O público da Casas Bahia tem renda média de três salários mínimos por mês, nunca viu uma nota de um dólar e não é afetado se o dólar está cotado a R$ 1,60 ou a R$ 2,30.
O financiamento ao cliente, que é da ordem de R$ 400 milhões por mês, é feito pela Casas Bahia, que tem esse dinheiro disponível todos os meses em parceria com o banco Bradesco. E a taxa de juros média, da ordem de 4,3% ao mês, cobrada do cliente também não mudou, assim como os prazos do crediário, que vão até 20 meses. Se nada mudou, não teria por que mudar o ritmo de vendas da rede.

NATAL
O faturamento real da loja deve crescer 7% neste mês em relação a igual período de 2007, considerando o mesmo número de lojas. Essa é a mesma projeção que havia antes da crise. E, no ano, deveremos faturar R$ 13,8 bilhões, R$ 1 bilhão a mais do que em 2007.

DESEMPREGO
Acho que a possibilidade de aumento do desemprego assusta pessoas que dependem de clientes que trabalham com carteira assinada. Tenho 29 milhões de clientes, dos quais 12 milhões vão todo mês até minhas lojas. E, desses 12 milhões de clientes, 8 milhões não têm carteira assinada. O que pode mudar para nós é que, em 2009, talvez 70% dos clientes, e não mais 66% deles, não terão carteira assinada, o que não altera nada para a empresa.

CRÉDITO RESTRITO
A carteira de financiamento da Casas Bahia é de R$ 400 milhões por mês e está mantida. Os juros, de 4,3% ao mês, também não mudaram, assim como os prazos de financiamento, até 20 meses. Financio com recursos do Bradesco, mas, se o cliente não paga, eu pago a dívida. Tenho limite alto de crédito com o Bradesco e a Casas Bahia está capitalizada. Muitas empresas dependem de bancos e por isso estão hoje em situação ruim, o que não é o nosso caso. Não recorremos a bancos estaduais, federais ou ao BNDES.

INADIMPLÊNCIA
Perco por mês cerca de R$ 40 milhões com atrasos de pagamento acima de seis meses. A inadimplência hoje é da ordem de 10% sobre a carteira de financiamento e está estabilizada há muito tempo. Só se essa taxa subir três pontos percentuais ou mais é que poderá ter impacto na empresa.

FORNECEDORES
Não existe pressão para aumento de preços porque deixamos de comprar de quem sobe preços. Além disso, a Casas Bahia passou a comprar produto de outros varejistas que desistiram das compras. Acredito que os consumidores vão comprar, sim, eletroeletrônicos neste final de ano, pois eles sabem que os preços vão subir com a reposição com dólar mais caro.

NEGÓCIO FAMILIAR
A idéia é manter a empresa sob o controle da família. Meu filho Raphael, que morava nos Estados Unidos, está há três anos na empresa, assim como meu sobrinho Philip, filho de meu irmão [Saul]. Eles são da terceira geração da família e estão sendo preparados para comandar a rede. Vou fazer o que meu pai [Samuel] fez, que é preparar a empresa para os filhos tocarem.

INVESTIMENTOS
Queremos expandir os negócios no Estado da Bahia e por isso estamos investindo R$ 24 milhões na construção de um centro de distribuição em Camaçari para abastecer 30 lojas que vamos abrir naquele Estado até o final do ano que vem. Depois podemos pensar em expandir para Sergipe, Pernambuco, Alagoas e Paraíba.

FINANÇAS
Durante 56 anos a empresa reinvestiu todo o lucro na sua capitalização e hoje a Casas Bahia é uma empresa com capital social de quase R$ 4 bilhões e está muito bem, considerando que meu pai chegou ao Brasil com US$ 6.000 no bolso, uma mulher e um filho no colo, que sou eu. Nunca tivemos problemas de falta de caixa, já que nossa carteira de recebimento de clientes é muito alta. O lucro da empresa será a metade do registrado no ano passado [de R$ 270 milhões] porque os juros subiram de 11% para 13,75% ao ano, os salários subiram mais do que o faturamento da empresa e os aluguéis também aumentaram demais.

CONCORRÊNCIA
O nosso maior concorrente é o Ponto Frio, uma rede bem capitalizada e competente. O Magazine Luiza [que abriu cerca de 50 lojas em São Paulo] só pegou funcionários nossos que já estavam bem treinados.

PREVISÃO 2009
Faremos uma previsão mais conservadora, de tanto falar em crise. Em vez de manter expectativa de crescer mais R$ 1 bilhão em 2009 em relação a 2008, esperamos faturamento igual ao deste ano.


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